sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal


Palavra doce, minha nuvem de algodão
que me faz flutuar
e me move
na superfície calma da imaginação

minha chave verdadeira
que abre as portas
do céu
em noites de lua cheia
escuras como breu

minha magia colorida
que descobre
o universo
numa música, num canto
num verso

minha musa que me acende
a criatividade dos dedos
e me aquece
inteira
na fogueira sem medos…

Minha doce palavra!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sábado, 19 de dezembro de 2015

Letras apenas


Sempre que me tocas com todas
as letras do teu olhar,
soltam-se estrelas-poemas
num céu por inventar

Sempre que acaricias com letras
os fios dos meus cabelos,
criam-se todas as lendas
em sonetos singelos

Sempre que afagas meus lábios
com letras de doce sabor,
nascem versos imaginários
elevando o nosso amor

Sempre que beijas a minha pele
com letras de puro encanto,
doa-se a frase que impele
as mentes ao espanto

Sempre que nos encontramos
nas letras do pensamento
aparece a poesia onde estamos
unidos em sol ternurento

Amo-te nas letras que escrevo
arrumadas em harmonia
onde estamos em relevo
por um caso de analogia

Quero dizer-te meu querido
com as letras do meu coração
que em cada verso diluído
emerge a nossa paixão

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Mãe...


“Mãe-terra”, minha mãe mimosa
peço-te perdão pelo carrasco que sou!

Tu que me geraste no útero cálido e calmo
e que me pariste em amor, flor e luz…

Peço-te perdão por toda a dor que provoquei
nos vales em brasa, nos céus de negras asas,
nas águas turvas e rasas…

Despedacei-te inteira, minha terra-parideira

Declarei guerra aos teus recursos
e numa lei malfazeja escrevi a obrigatoriedade
da igualdade entre existir e poluir
entre corromper e apodrecer
numa perversão em pergaminhos milenares…

Aceita o eco vazio da voz calada
da criada desumanidade e regenera-te
da escuridão em que te deixo…

Aceita o perdão deste último viajante clandestino
que poderá jamais ser lido numa folha
ao vento… Como lamento…

Por isso, doo-te o meu corpo para fertilizar-te
e de alguma forma fortalecer-te. Preciso redimir-me de viver.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Feliz


Transformei-me
em semente dos versos,
depois fui pequeno grão de poeira
germinando nas mãos de um poeta.

Fui regada por estrofes inteiras,
meu bálsamo quente,
subindo pelo caule
das onomatopeias.

Por fim, ganhei vida,
e a esperança
vestiu-me novamente as veias.

Agora sou abraço apertado
num escrito qualquer.

Sou a esperança
nos olhos de uma mulher.

Sou…Feliz como sempre quis ser!

Rosa Alentejana Felisbela
17/12/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Soneto da distância


Foi naquele instante
que regressei à realidade do sonho
e rabisquei o soneto da distância
no caderno da minha ternura.

Suave canto na epopeia
da nossa vontade.

E desde esse dia que te guardo
junto ao coração
e te lembro
até nos dias de tempestade.

Para que me cantes
esse sonho adocicado
da nossa saudade
e tranquilizes
estes meus medos.

Ainda a barragem
emoldura a minha tez
em sílabas sonoras.

Ainda as árvores caminham
rumo ao céu numa paz
de versos rimados.

Ainda as folhas cobrem o silêncio
dos meus passos
numa amálgama de palavras.

E o vento…

Continua a beijar-me
com a paixão de sempre.

Rosa Alentejana Felisbela
16/12/2015
(imagem da net)

domingo, 13 de dezembro de 2015

Minha escrita-liberdade



Quantas vezes adormeço no casulo dos meus olhos
aguardando a metamorfose dos pensamentos
em asas cobertas de sol, cor e liberdade…

Quantas vezes embalo o coração numa morna melodia
e aconchego a dor da liberdade aos ouvidos
enquanto me sobra uma réstia de sobriedade…

Quantas vezes alinho a caligrafia
aos cantos das folhas de papel e mar,
enquanto a maré submerge a magia da liberdade…

Quantos miosótis caem em bátegas de chuva
nestes ombros, na queda serena e sôfrega da liberdade
com que escrevo cada revolução enamorada…

Quantos segredos do tempo arvorados na metonímia,
rio que corre sem parar, me sufocam
e se esvaem num sopro de liberdade…

E eu preciso do colo caloroso dessa alegria,
dessa implosão de ideias, onde o mistério se instala
sobre as letras, sobre o corpo, sobre a alma…

Minha fraga, minha vaga que me amara e me liberta
e me acorda, vezes sem conta, minha liberdade!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Absurdo


Só para serenar os pensamentos
bebi o chá da saudade do teu corpo
e morri o sono dos justos.

Embrenhada nas estranhas artimanhas de Morfeu
ergui os braços solenemente e agarrei
o pó de estrelas que a lua verteu
sobre a minha cama em cascata.

Depois semeei, sim, semeei tantos desejos
nas dobras dos meus lençóis
quantas as vezes que olhei os teus olhos.

Reguei depois com ilusões e aguardei,
em pelo, o fruto que viria a seguir…

Colhi fantasias quando estavam já maduras
e saboreei cada gomo num deleite
que abrasou as minhas veias
num calor que aqueceu o açúcar da minha boca
em calda polvilhada com canela.

Amanheci doce na quimera de te ter…
Mas, falta credibilizar o absurdo.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Corpo poema


Um poema é um corpo
de palavras trazidas pelo sangue
das letras
rumo ao cérebro
num acesso de imaginação

ele espalha-se pelas veias
em sílabas bêbadas
da embriaguez dos sonhos
corroborados
pelas extremidades porosas
das prosas presentes nos dedos

eles tricotam segredos
sobre entrelinhas direitas
e curvas desfeitas
perfeitas
de versos por envolver
nas malhas das mantas
coloridas pelo entardecer

e é nos braços entrelaçados
da fonética e da fonologia,
que o encontro triunfante dos nomes,
nessas horas amantes
perante as margens vinhateiras,
gera a fome, gera a sede das frases
em fases profanas de magia

e o corpo beija os anseios
no bordo do cálice alheio
à boca da sedução…

é desse corpo que
falo
esse corpo
ateu
esse corpo
que é teu

inspiração.

Rosa Alentejana Felisbela
07/12/2015
(imagem da net)

sábado, 5 de dezembro de 2015

Poesia



Descobre nas entranhas no cerne da minha sede, como apelo clandestino,
que vagueia sem tino no húmus tenro e redentor do meu querer, a fonte

Descobre-me…

Embrenha-te seiva na força interna que transportas nas letras e semeia-as, delicadamente, no relevo dos sedimentos expostos pela minha pele

Descobre-me…ama-me

Introduz as tuas mãos, bêbadas de luz, na raiz do manto negro de espanto
das minhas palavras e fecunda-as de sémen, arguido dos meus poemas

Descobre-me…amo-te

Corrobora a história esculpida nos versos mudos, gravados nas rochas
aquecidas pelas altas temperaturas das metáforas, cheias de ternura, que te deixo desvendar

Descobre-me…ama-me…amo-te

Bem sabes que a profundidade dos sentimentos me transforma em Deusa-Mãe
de cada sílaba do universo, como se o teu abraço fosse a espada que mata a saudade de sofrer

E eu, que queria fugir…amo-te irremediavelmente…

Mas creio que, no final, somos ambos barro moldável na arte dos sonhos habitáveis, como linhas irreversíveis nas palmas das nossas mãos…e a poesia é vício, fonte onde bebes, e eu querendo cair em desuso…

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Voz passiva


Eu nunca imaginei
que um dia iríamos dormir juntos
sobre o mesmo poema,
masculino e feminino,
substantivos que se atraíam…

E jamais imaginei que os nossos corpos
de textos distantes
não viriam a ser mais
que um sonho pontuado de excitação…

Nunca quis acreditar
que as nossas dermes morreriam
da morte perene que há nas folhas de papel,
caindo no abismo das palavras…

E tudo isso porque eu não sabia
que as nossas bocas, morrentes da sede
dos Trópicos, iriam tremer, perante
a doçura de cada escrito…

E tudo porque eu desconhecia
que cada frase deposta
sobre a cama de favos de mel
viria a eclodir virgem de vírgulas,
numa antevisão suspensa
da respiração ofegante do fim…

Eu não sabia que o sorriso
dos parágrafos ficaria esquecido
nas entrelinhas da humidade dos olhos,
nem que haveria uma sílaba
capaz de partir a memória das letras…

Eu não sabia que o silêncio
da inspiração se iria transformar
em plural de um género concreto, solitário…

Nem sabia que o poema vazio
se iria abrir mais cruel
que as reticências errantes
à aridez do tempo…

Mas, descobri o baú do tesouro
guardado de fábulas
e escondi-o no precipício do oceano
novamente
para que o abandono não fosse
acertar de novo no coração da vertigem!

Agora sou só miragem
na transcrição fonética de um grito mudo
e o deserto é tudo quanto a terminologia
do amor subentende no meu entardecer.

Agora és só lirismo nos versos
(in)subordinados
num poema em voz passiva.

Rosa Alentejana Felisbela
01/12/2015
(imagem da net)

domingo, 22 de novembro de 2015

Travessia


Imagina um mundo sem mim agora
Sem a minha caligrafia carregada de noite
Sem as minhas palavras negras de ébano sombrio
Sem as minhas sílabas de profundo silêncio e tristeza
Continuarias a comer o sol com a mesma fome?
Deleitar-te-ias na dança das estrelas cadentes?
Comporias a melodia do sonho da mesma forma?
Ou romperias o peito com mãos de aço
numa dor lancinante e cruel?
Gritarias o meu nome num segredo sagrado
ou ressoarias a palavra cor de rosa aos quatro ventos?
Porque as cores são de cinza na fogueira
semiapagada do fogo posto no horizonte
Porque o eclipse dura só mais um minuto
Porque sol e lua estão a um passo
do abismo que é jazigo ou cama
Imagina o coro celeste sem voz nem ousadia
nessa travessia do rio da vida…

22/11/2015
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Aqui jaz...


Às vezes caem-me sorrisos das mãos
quando sei que não vens ver-me

Não sei bem se é o fogo do nascer do sol
a queimar-me as pálpebras
ou se são as lágrimas a teimarem em cair

Sei apenas que amanheço
e ao longo do dia esqueço-me de viver
porque explodem solidões aqui tão perto…

Ouço-lhes os gritos funestos
e nada posso fazer…apenas escuto.

Já perdi o norte da voz amiga
por entre as músicas que tocas sem parar
e que escuto através da janela aberta

Já não sei que perfume têm as tuas mãos
ou se sabem a beijos ou à última bala
cravada no meu coração

Já não procuras a fogueira acesa do meu sorriso
e não atiças aquela gargalhada na minha escuridão
de barro (quebrado)

Desconheço as rimas dos teus passos
na calçada do dia-a-dia
e ignoro os nomes das ruas por onde passas…

Entendo todas as letras que a distância deposita
paulatinamente nos degraus da minha moradia
mas não percebo de que é feito o vaso
perfeito do amor…

Creio mesmo que plantaste uma rosa de plástico
junto ao pontal da tua praia para homenagear
a melancolia

É de pedra escura a epígrafe que escreveste
na sepultura do terror:
Aqui jaz um grande amor.

Rosa Alentejana Felisbela
19/11/2015
(imagem da net)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Acorda-me!


Sempre que escuto os gritos abafados
de crianças desamparadas na lonjura,
arde-me o sono. E a busca da ternura
transforma-se em sonhos almejados.

Remo com raiva a favor dos indignados
e alta apatia desequilibra-me a procura
por um só bocado de felicidade que cura
nesta marcha lenta com os desajeitados.

Os pesadelos erguem-se ainda maiores
que a resiliência. E a náusea revolta-me
as entranhas negras em espirais de dores.

Sinto-me monstro estático… Acorda-me!
Antes que novo dia nasça com dissabores
e mais uma lágrima inocente se derrame!

Rosa Alentejana Felisbela
17/11/2015
(imagem da net)

sábado, 14 de novembro de 2015

A cor do nosso amor


Azul é o céu onde desbravo as nuvens
onde recorto os raios do sol
onde te leio a falta que te faço
nas folhas escritas que o vento leva

Azul é a água onde navego os sonhos
onde ouço as palavras dos peixes
onde soletro a profundidade da saudade
e bebo a felicidade do teu afeto

Azul é o verão das minhas faces
onde carinhosamente me beijas
onde encantas as fantasias ternas
nas almofadas do algodão das tuas mãos

Azul é a certeza dos teus braços
onde me envolves num emotivo prazer
onde a idade morre de tanta emoção
por nada mais existir além de nós dois

Azul é a migalha, o grão de pó, de alegria mágica
que nos ampara e mantém unidos na via láctea,
apesar das esperas, apesar das lágrimas,
num límpido e sincero amor!

Rosa Alentejana Felisbela
14/11/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Náufrago de palavras



Há um sortilégio escondido
no romantismo das palavras:
e as borboletas voam de dentro de nós
em enxame
na direção do mel dos nossos lábios.

São palavras que nos beijam
na suavidade das águas tranquilas
dos pensamentos,
espelho do amor correspondido
entre a pele e as mãos.

Elas provocam o flutuar
inocente
das nuvens de algodão
na superfície calma da imaginação
e eclodem ambrósia
nos dedos do poeta
como brisa profética.

Envolvem os cabelos na lavanda
do anúncio da madrugada
e com ela o salivar
doce
das cores do sol nascente…

Rasgo de saudade aberto de par em par.

Sumaúma brotando sílabas
de um horizonte vago
onde as folhas de papel
se esvaem preenchidas
de poemas
para os olhos amados.

Porém,
acordam as agruras do passado,
mas triunfam num abraço apertado
partindo como cristal
em mil cacos
a solidão.

Delírio de um náufrago
que continua a sentir
o espanto
do mergulho profundo
rumo ao farol da salvação.

Rosa Alentejana Felisbela
06/11/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Medonho


Enquanto as vidraças da janela
esmorecem de lágrimas copiosas
o meu ar rarefaz-se de poesias
e a pele fica eriçada como
os espinhos das rosas enganosas

Presságio magoado da manhã
nascida para sofrer
na boca um breve adeus
no negro da noite do meu viver

Peço-te só que acendas os olhos teus
para me guiarem nesta escuridão
e coloca a nossa música a tocar
nos teus pensamentos
para silenciar
em paz, o meu coração

Peço-te só que guardes as palavras
nesse baú de ébano a ferro forjado
porque estarei surda para o som
do timbre de anjo
que a tua boca canta no meu fado

Peço-te só que cubras com o véu
da chuva as preces que te quero fazer
pois todos os meus desabafos
contá-los-ei à terra
quando ela me receber

Estou mais perto da cova aberta
a cada hora gasta pelo meu relógio
dou um passo e caio nessa valeta
e nada faço para me erguer

Já o meu corpo em desânimo
adormece por entre as raízes
que me agarram e me amarram
num ninho que me enregela
num frio moribundo
quando a força se esvai…

E a chuva e o barro
cobrem a minha vida
de uma solidão medonha…
e não há ninguém para me aliviar
e não há ninguém para me ajudar
ninguém que se interponha
entre a morte e o meu pesadelo.

Rosa Alentejana Felisbela
04/11/2015
(imagem da net)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Louvor



Como se cada estrela fosse o cometa
Que marcou esse encontro entre nós
Numa lua distante de luz tão encoberta
Tão povoada de sonhos, eu e tu tão sós

Como se a estrela fosse a flor completa
De uma qualquer canção de doce voz
Entregue pelas mãos do meloso poeta
Que és tu, derramando versos na foz

Dos meus lábios, perfumando o meu ser
O meu céu, em balsâmicas rimas de amor
Que aqueceram e te afloraram o enternecer

Num afago brilhante de que foste detentor
Porque me amas e te amo sem entender
Com’um encontro pôde ser digno de louvor…

Rosa Alentejana Felisbela
03/11/2015
(imagem da net)

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Alea jacta est



Contraíram-se ideias de encontro aos muros do crânio cravado de memórias amarradas, entrançadas ao visco da imposição socialmente aceite. Veneno moldado por mãos alheias que carregam o esquema rimático imposto por uma rima sem ritmo, por aliterações segredadas às paredes caiadas de sonhos, vendados por beijos claramente eternos. Marginalizados pela boca, retraem-se os suspiros em metáforas apaixonadas pelas rendas da liga da dama de copas, enquanto o ás de paus repete a onomatopeia das folhas em queda por uma chuva de carinhos deliciosos. Ambos personificam o tom clássico de uma redondilha de amor maior, um poema decassilábico com sabor aos sonetos de Camões, um toque de rima livre de Joaquim Pessoa, uma letra de música romântica de Pablo Alboran, ou mesmo as notas musicais das “Quatro Estações” de Vivaldi. A repetição é tudo o que pedem, mesmo sem o refúgio dos recursos estilísticos, porque a imaginação é tudo o que têm, e a ferocidade da escrita leva-os mais além que as pontes, mais alto que os céus e mais fundo que qualquer oceano. As ideias borboleteiam agora ao ritmo da sensibilidade à flor da pele, numa primavera terminada com o germinar do alaranjado do outono. Quem pode negar que a beleza se encontra no horizonte onde dois amantes se encontram, seja em que estação for? Cada frase é lençol em branco na caligrafia dessa intrincada sensualidade a que se sujeitam as glórias dos sonhos, desprezando os sinais de pontuação a que o português está sujeito. Porque nada mais existe, além da cama desnudada e da ternura partilhada entre dois corações que rimam apaixonadamente. Salvaguardemos ainda a técnica de diálogo perfeito onde os travessões se impõem na maior harmonia, sem reticências ou et caetera(s). E o final do jogo? Alea jacta est…

Rosa Alentejana Felisbela
02/11/2015
(imagem da net)

sábado, 31 de outubro de 2015

Imortalidade



Há uma promessa de natureza viva nas asas da fénix que nasce todos os dias enquanto houver esperança naqueles que são vindouros. Há um ritmo próprio de voo, que cruza os céus numa volúpia impenetrável a olhos vistos, enquanto um rito camuflado de serenata à luz da lua cheia se espalha pelas penas prateadas. Há uma asa quase quebrada que se renova através das contingências que moram na obscuridade do interior, mas que se alimenta das memórias adocicadas pelo mel do entardecer, enquanto o sol derrama a sua paleta de cores na pele dos montes poentes. Há um presságio de fogo num piar longínquo, que acorda as labaredas desde a quilha até à tertúlia de um coração moribundo. Esse que acorda o grito de desejo de viver. Há uma força inquebrantável nas garras da vontade férrea, dourada, brilhante, num ciclo de vida composto por letras amáveis na combinação do bem-querer, que jamais expira, e só nos faz crescer. Há uma pira acesa com os ramos de canela, sálvia e mirra perfumando as horas e as demoras mornas, quando os olhos entristecem. Mas há a piedade encantada na enciclopédia dos versos por escrever, nos sonetos por interpretar, nas odes a Ícaro ou nas orações a Hermes, para que nos encaminhem mensagens. Há no íntimo uma virtude que nos impulsiona. Há um voo pautado agora e para sempre no ninho onde mora a existência, cujo rumo é pensado à imagem da inteligência inscrita numa plumagem bela. Essa que nos torna reflexo do sol, enquanto a felicidade na alegoria perfeita da conexão é o símbolo que envolve a liberdade onde a partilha irá sempre…reviver! Porque é preciso amar. Porque não esquecemos o amor. Porque o amor há de vencer.

Rosa Alentejana Felisbela
31/10/2015
(imagem da net)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Diana


Quando o tempo se esconde
nos ramos da hera que sobe
sem cessar
e as ruas ficam nuas de ti…

a algazarra das folhas
recolhe-se no último
suspiro do dia
antes da chuva chegar
e eu… vagueio perdido…

perdido
da brisa da tua pele
do perfume das tuas mãos
com a boca salivante
do teu beijo…

sou banco solitário na rua

órfão da tua sombra

mendigo da tua voz

tenho ganas de subir
ao último ramo e gritar,
gritar, gritar o teu nome
até que o frio queime
as minhas mãos
e eu caia sem forças

porque te sonho
porque te desejo
porque te escondo
no meu segredo

e cada palavra venera-te
e pertence-te como tatuagem
numa folha de papel
branca como a tua pele
de anjo
nesse corpo de menina

minha deusa Diana
caçadora do meu coração
malícia casta em tons de mulher
veste-me a tua força
para um dia..te ter!

Rosa Alentejana Felisbela
27/10/2015
(imagem da net)

domingo, 25 de outubro de 2015

Lugar nenhum

MOTE XXX:
"Arranca metade do meu corpo, do meu coração, dos meus sonhos. Tira um pedaço de mim, qualquer coisa que me desfaça. Me recria, porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas não caber em lugar algum."
______________________ José Saramago

Lugar nenhum

Perdida da tua metade, julgo escutar ao longe a tua solidão. Ela arrasta-me entre a multidão. Fere-me entre as pedras plantadas por uma sociedade que não fica feliz com a nossa alegria. Maltrata-me as palavras doces, esmaga-me as horas e pisa-me despudoradamente para me fazer sentir um pássaro preso na sua gaiola. Algures, entre a corda e o pescoço existe uma nuvem escondida dos olhares alheios. Apenas o seu algodão amacia a minha forma de redigir os sonhos e me recorda o trejeito que fazem as tuas sobrancelhas quando me olhas, ou a forma como os teus lábios se movimentam quando verbalizam o meu nome, até a postura exata da tua cabeça quando nos abraçamos. Podemos ficar longe durante uma vida, mas saberemos sempre de cor cada concavidade e a medida exata das nossas mãos entrelaçadas, o perfume que tem o cabelo do outro, a palavra calada no olhar quando nos amamos, inclusive a maneira como respiramos os segundos no mesmo ar rarefeito. Sem dúvida seremos sempre inacabados enquanto estivermos separados. Por isso, peço-te que me recries. Que me alcances na esquina da frase onde te venero, na orla do istmo onde abundam as reticências, no meandro percorrido pelo texto amargurado, mas colhe-me como rosa, orvalhada pelo choro copioso da manhã, ao cadafalso desta sociedade mesquinha. Planta-me no solo fértil da tua terra e rega-me todos os dias para que nunca morra. Eu prometo perfumar todos os teus dias. E enquanto não chegares sinto que não pertenço senão a lugar nenhum…

Rosa Alentejana Felisbela
25/10/2015
(imagem da net)

Segredo de Zeus


Quisera que fosses Zeus na sua infinita sabedoria
Para que comandasses as nuvens e nos ocultasses
Por um minuto, por uma hora, por apenas um dia
Por trás da bela nuvem dourada e me acordasses

Eu espalharia o azeite ambrosial nas minhas faces
A cinta de todos os encantamentos em mim colocaria
Para o leito de flores de lótus deixaria que me levasses
Enquanto o meu corpo, de gotas reluzentes, brilharia

Seria etéreo o perfume dos teus lábios em profusão
A espalhar-se sobre a minha pele em terna libação
Ao vinho do prazer que tão doce e lentamente sabes

Beber e doar aos meus lábios afagando-me o coração
Tornando-me a única, beijando-me o rosto e a mão
Numa magia segredada para, a ninguém, revelares!

Rosa Alentejana Felisbela
24/10/2015
(imagem da net)

sábado, 24 de outubro de 2015

outono primeiro


Este é o outono
que visto
à luz do sol das tuas palavras
exposto ao poema
da tua pele

Enquanto o vento
matreiro
acolchoa o pensamento das ruas
com as primeiras folhas
quentes de amarelo ardente
caindo salpicadas de saudade
a chuva molha a manhã
das lembranças
e o cheiro a terra abre
os suspiros que te sussurro
embrulhados no meu olhar…

mistério declamado
sob a efígie da tua voz
em nuvens inocentes
que me permito
sonhar.

Rosa Alentejana Felisbela
24/10/2015
(foto de Truko Kanto)

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Anjo



Meu amor, canta-me a canção
que o teu olhar insinua
que eu prometo desvendar
os segredos do sol e da lua
com as minhas mãos másculas
ansiosas pelas tuas…mimosas
e puras!

Meu amor, senti-me tantas vezes
perdido no cavalgar dos teus desejos,
como se cada pegada me privasse
dos teus beijos
da tua fome do meu peito
e só me trouxesse
dor…

Meu amor, no sobressalto dos teus seios
onde me perco nas delícias
e anseios
sublima-se a minha boca desvairada
em soluços de harmonias
desregradas…

Meu amor, nas curvas dos teus montes
de Vénus…nos teus vales convexos,
onde a alegria poisa e a vida se liberta,
existe um pedaço de céu
onde os nossos sexos
descobrem uma vontade
concreta!

Ah! Meu amor…minha pérola encantada,
descobre-me e lê-me na toponímia
do espelho que nos une
abraça-me enquanto é tempo
dá-me a mão e sigamos juntos
a mesma estrada.

Rosa Alentejana Felisbela
23/10/2015
(imagem da net)

domingo, 18 de outubro de 2015

Desflorar de nuvens



Existe uma quase-morte
nos beijos que o vento deposita
nas folhas alaranjadas

Existe um quase-amor
na valsa que a chuva mima
em torno dos ramos da árvore

Existe um quase-gemido
no ranger do tronco nodoso
forte, como os braços amados

Existe uma quase-excitação
na raiz de cada árvore
pela água que purifica a seiva

Existe uma quase-carícia
no perfume da terra
quando a chuva cai sem dó

E existe uma quase-tentação
de voar com raízes rumo
às nervuras do sol quando
as nuvens se desfloram…

Rosa Alentejana Felisbela
18/10/2015
(imagem da net)

sábado, 17 de outubro de 2015

Voo comum


Chove nesta manhã de sábado. Mas chovem alegrias de regressos ao lar que o coração engendrou para nós. Somos o fado abençoado pela música que a chuva canta sobre as vidraças. O hino que o parapeito sopra ao tamborilar desenfreado pelo vento. O chapinhar que se move ao ritmo das rodas dos carros ao longo da rua deserta de transeuntes. O destino que brilha em cada gota na metade que deixou de nos pertencer. E sabes a razão? O meu abraço reflete o teu quando o frio chega. O meu sorriso completa-se na tua boca ainda trémula da saliva comum. Os meus lábios têm o sabor dos teus sabendo o mesmo segredo. A minha pele respira na tua há tanto tempo que a sudação sabe os locais certos por onde deve correr. E o meu olhar tem a hora exata de convocar o teu para a familiaridade, pois obedecemos ao mesmo impulso de estar juntos. Somos o novelo colorido a duas cores que a fortuna enovelou e que a vida desenrola nas mesmas mãos, qual Penélope, no sentido do relógio. Porque este amor reclama o seu jardim secreto, qual tapeçaria na parede do nosso quarto, exposto às bátegas desta chuva de carinhos e saudades. E o perfume…ah! O perfume pousado na pele abre as asas no voo que tão bem conhecemos!

Rosa Alentejana Felisbela
17/10/2015
(Imagem da net)

sábado, 10 de outubro de 2015

Água


Estou consciente da chuva que cai serenamente
No meu chapéu negro, negro como a noite cega
Mas, são essas mesmas gotas sinónimas da rega
Que a vida necessita para brotar da sua semente

Aquela água que a tristeza encerra e até carrega
Também transporta o fruto farto na sua corrente
Ela mata a fome e a sede aos seres tão-somente
Enquanto o Homem, eterno descobridor, a navega

Já eu carrego as galochas vermelhas e lustrosas
Símbolo de alegria e divertimento contagiante
Pois adoro correr pelas ruas e saltar nas poças

Sou só criança pura no meu ritmo alucinante
Tão preso à pressa da certeza das mariposas
De quem vive a vida e devora cada instante!

Rosa Alentejana Felisbela
10/10/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Vinho


Mansamente te recordo
por entre as sombras das parras
maduras
pelo sol a pino

sobre a pele, acelerando-me o sangue
carregado de ternuras
inspirando perfumes
e poemas
deleitando-me os sentidos
em doces branduras

marejando-me a língua
com o teu português
de delícias
nas uvas dos teus lábios
que vou mordiscando suavemente
embriagada
pelo álcool pleno de carícias

nos dedos a sensibilidade
dos magos
colhendo os cachos sapientes
matando e morrendo de saudades
nos bagos ainda
quentes

Recordo-te de olhos vendados
na minha vida, minha sina
és a cepa mais robusta
que tocaram, alguma vez,
as minhas mãos de menina

casta guardada em tonéis
de esperança adocicada
pronta a verter no meu cálice
moldado

poema
prestes a explodir da garrafa
no som abafado
do meu fado

tu inspiras-me
só tu me invades
e me fazes
sorrir!

Rosa Alentejana Felisbela
07/10/2015
(imagem da net)

domingo, 4 de outubro de 2015

Poeta: rei no jardim do seu castelo de ilusão


Atrai-me sobremaneira o malabarismo que as palavras assumem nas mãos do poeta. Elas deixam um perfume a sândalo e inspiração sem quebra de margens no vagar das folhas, como se a condução se devesse ao vento arruaceiro e não às mãos sábias e transformistas do homem! Amo o “flirt” entre o seu acento grave, atónito com a chuva de corações cor de romã madura, e o sorriso indecente na boca amada, como a doce marmelada das frases copiosas com as cores do fim da tarde! São efeitos visuais que o poeta, prestidigitador dos sonhos próprios e dos que o leem, consegue através da sua voz de jogral, empunhando a sua “Excalibur” feita de letras… Apenas ele destrói as armaduras de muros omissos, mais duros que o metal, e sobe os degraus como um conquistador destemido das mentes e grita: amor! Quantas vezes o poeta reúne as suas vivências em torno da Távola Redonda da sua maestria e rasga verbos proibidos ou acaricia a saga das consoantes como animais de estimação… Ele é rei que liberta a pontuação do jugo dos interlocutores, mas também alberga debaixo dos seus tetos o respeito pela “pirofagia” dos críticos de rostos carrancudos! Admiro esse poeta, saltimbanco de ideias, que caminha entre sonetos, quadras, versos soltos ou textos poéticos, tratando-os com a calma que o deleite de uma meia-lua insinua no seu peito…Ele é o eterno amante que não faz refém a palavra, mas que a liberta como pássaro no azul da simbologia. O poeta é o Eco de um turbilhão de ideias consecutivas no jardim do seu castelo de ilusão.

Rosa Alentejana Felisbela
04/10/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

É outono


Subestimei a árvore
que se desnuda inteira
por um rodopio de vento…
dei-lhe o benefício do rubor
colhido pelo tronco
numa fase de lua vermelha
e na dúvida
acertei no regato que corria
ali ao lado
desenfreado
por uma raiz astuta…
saltou-me o colorido das rochas
ao âmago dos olhos
e assim brotou o outono
de uma folha
a que chamei trovoada
no amarelo
que desbotava
o tempo!

Rosa Alentejana Felisbela
01/10/2015
(imagem da net)

Promessa de outono


Combinemos o preâmbulo, pouco ético, entre a chuva e a terra molhada deste outono. Na verdade, todo ele será poético, uma vez que se sente o aroma das madressilvas impregnado do hálito de Pã, enquanto Chronos converte o tempo em fénix renascida. Sabemos que, enquanto houver uma romã, os lábios serão o alvo frágil do mosto proposto por Baco. E que as uvas amadurecem a inquietação no sangue, e os trovões obrigam o céu a relampejar incessantemente perante as letras do nosso dicionário. Tudo o que observamos tem a forma de uma castanha ainda refugiada no seu ouriço, com o receio do contágio das gotículas que caem nas folhas abertas às cores do arco-íris. Também elas caem agora, perante as propostas indecentes de Éolo, murmurando a ladainha do vento que arrepia a alma, trazendo consigo o mesmo olhar e o presságio do doce de abóbora que combate as desilusões espalhadas pelo chão. O único consolo são as vidraças da janela, de olhos marejados pela chuva e encantados com o arrulho das pombas no fio dos telefones, apesar do pranto dos céus. Na certeza, porém, de que o Oráculo da natureza será preservado enquanto as minhas mãos puderem escrever uma única palavra de apreço ao prazer de beber um chocolate quente. Não existe caudal mais lindo e puro do que esse preâmbulo aberto às palavras de um poema por nascer…uma promessa!

Rosa Alentejana Felisbela
02/10/2015
(imagem da net)

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Altruísmo


Quando o sofrimento reverbera
No rosto de uma mãe que corre
Riscos de uma vida que escorre
P’lo desespero que a sorte impera…

Fica-me o coração despedaçado
Tomando consciência da fragilidade
De uma criança que não tem idade
Para carregar um peso tão pesado!

E ocorrem-me à memória “direitos”
Que ficam escritos no lindo papel
Mas que a luz ao fundo do túnel
Não serve para nos deixar satisfeitos…

Dói-me tanto o descontentamento
Dos que morrem sem ter consciência
Das maravilhas que a velha ciência
Implanta nas mentes do momento!

Enquanto uns passeiam nas redes sociais
Preocupados com as poesias “indecentes”
Outros fogem com os seus descendentes
De mortes tristes e injustiças descomunais!

Que inquietação tamanha seria
Viver num conflito desconcertante
Com um medo puro e constante
De virem buscar nossos filhos um dia!

Colocar uma arma nas mãos de meninos
E fazer deles soldados na longínqua Somália
É como fazer sentir uma eterna represália
Nas feridas abertas dos corações maternos…

São as mulheres perpetuamente assediadas
Que se apressam a sair daqueles países
Onde as perseguições as tornam infelizes
Psicológica, física e sexualmente abusadas…

Sofrem os homens constantes ataques
Por contrariarem um regime político
Onde é morto quem tem espírito crítico
Deixando famílias órfãs e carentes…

Detenhamo-nos, pois, no altruísmo
Na ajuda a ser reposta a igualdade
A quem precisa da nossa generosidade
Para ter um pouco de paz sem extremismos!

Rosa Alentejana Felisbela
29/09/2015
(imagem da net)

domingo, 27 de setembro de 2015

Ilumina-me e faz-me crescer!


Oh Zeus que sobre o cume dos cumes mais altos nesse Olimpo distante estás sentado!
Agora que terminou a primavera dos poemas cobertos do deleite da ambrósia e frutos silvestres, neste outono da vida, que me cobre o olhar de prata e ouro, atenta!
Repara na crosta de rugas que me cobre o tronco e diz-me quanta dureza ainda se espraia sobre a minha fronte, e eu mereço-a?
Bem sei que, por vezes, o vento torna-se agreste e envolve-me os sonhos de ruídos assustadores, de uivos agoirentos e do ribombar estridente dos trovões, enquanto as bátegas, zangadas, tentam vergar as minhas emoções, e os gritos da tempestade fustigam os meus ouvidos…
No entanto, nunca te esqueças das minhas raízes profundas no barro que tão bem conheço, feitas do ferro de que a idade me fez herdeira…elas dão-me de beber a fantasia e a inspiração que mereço, bem como a vontade de viver!
Sei bem que os meus ramos crescem na direção dos céus em prece e que já foram cortados (como a liberdade) vezes sem conta, mas eles são como os braços da “estrela-do-mar”, renascem sempre mais e mais com vontade de ficar! Sou prisioneira da vida, o que me deixa com o coração a bater de seiva bruta plena de amor…
Esses ramos encontram-se, agora, cobertos de folhas coloridas, que refletem o arco em íris trazido pela chuva, rubras do desejo que pousa sobre o pote de ouro onde mergulho e busco as letras com que escrevo para me entreter! Cubro-as com o pó que as musas soltam e invento alegorias quando a lua vermelha me vem ver…
Zeus, ilumina-me e faz-me sempre crescer!

Rosa Alentejana Felisbela
27/09/2015
(imagem da net)

domingo, 20 de setembro de 2015

Suave perecer dos sentidos


Enamorada
pelo olhar que tentas segurar
e encantas
e enlaças
e enlevas
e envolves
e enfeitiças
no suspiro que tento
reter

Enamorada
pela boca com que
me atentas
à fome
à sede
à lentidão
à lascívia
que soletro
sem perdão
no âmago do prazer

Enamorada
pela pele que provocas
quando tocas
e consegues
derreter
com mimos
com mãos
com mordidas
com malícias
e carícias
que nem tento
suster

Enamorada
pelo vício
que crias
no bulício
das ancas
das pernas
quando me arrancas
o gemido
contido
sentido
no ventre
nos seios
no ouvido
e quando me acompanhas
no doce amor
no suave torpor
no infinito perecer
dos sentidos.

Rosa Alentejana Felisbela
19/09/2015
(imagem da net)

sábado, 19 de setembro de 2015

Meu mar de sonho


Meu mar maravilhoso, sereno e manso
Minha vaga lenta que não me canso
De ver sempre chegar, de ver crescer…

Minha espuma branca e perfumada
Tocada pelo belo sol ou enluarada
Na minha praia de encantar, de prazer…

Minha areia amarelinha, criança traquina
Brincando nos recantos da menina
Que sou e que fui e continuarei a ser…

Minha alga colorida, branda e macia
Envolta em tanto sal, mel e ousadia
Mareando o meu corpo num terno entender…

Minha estrela-do-mar anil e flutuante
Perco-me nos teus braços a cada instante
Para sempre em meu corpo te quero prender…

Minha anémona linda, minha amálgama
De tão doce doçura que me tira a calma
no amor sem nexo, no sexo que só nós podemos fazer…

Meu cavalo-marinho enamorado e alado
Cavalgando, sem rédeas, o meu corpo suado
Que a minha alegria se regozija de ter…

Minha concha de rocha mais quente que fria
Aconchega-me e aquece-me na tua poesia
Escreve-me versos no meu humilde aprender…

Minha gota, minha bátega, meu “favo de sal”
Recebo-te inteiro, no nosso abraço especial
Nesta pele de trigo, oásis que sonhas voltar a beber…

Sonha-me sempre e nunca me irás perder!

Rosa Alentejana Felisbela
19/09/2015
(imagem da net)

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A constelação do Golfinho


Quando te digo que és a âncora que me segura a este mar-chão desejoso de ser conquistado pela esperança dos sonhos, julgas que não estou a falar a sério. Sei bem que tenho remos e que não existirão apenas vendavais a levantar ondas abissais, e que também existirão dias de calmaria, de bonança no equilíbrio de horas periclitantes. Porém, depende de mim e das velas que norteiam os sentimentos que nutro, o rumo da minha embarcação. Neste momento voo sobre ondas infinitas de prazer na tua direção. Mergulho nessas águas cristalinas dos corais que descreves com essas mãos de marinheiro-doce e deixo-me afogar de amor, amor, amar, amar…enquanto o êxtase se espalha e espelha no meu olhar, e ficas a brilhar na minha pele dourada e arrepiada de ternura! Só tu enfeitas o meu corpo de pérolas cintilantes de desejo. Sinto-me nereida de cabelos de algas ao vento, quando enleias os teus dedos num afago meigo como vagas, nos meus pensamentos mais íntimos sempre que deito a cabeça no teu colo. E sinto que tudo posso. Não posso? Só tu me contas as histórias que me embalam durante a noite e me fazem sonhar com esse mundo onde o oceano nos é eterno de partilha. Só tu perdes o teu tempo num discurso onde os sons do mar marulham e compreendem os meus porquês. No fundo, sopras-me brisas delicadas de entendimento na profundidade que assumo como nossa e que, jamais, alguém entenderá. É o nosso capricho, proibido por Poseidon de tridente na mão, mas abençoado por Nereu, na sua infinita sabedoria e justiça. Apenas porque somos metades de um todo uno, a estrela mais radiosa na constelação do Golfinho!

Rosa Alentejana Felisbela
17/09/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Queria que fosses a chuva


Chove no pedaço de chão
a que chamo meu.

Se fosses tu…

Quem dera que fosses o vento
que hoje despenteou os meus cabelos
e amarfanhou as minhas roupas,
revirando-me inteira,
tirando-me o ar
como se um temporal de prazer
ficasse aninhado por dentro de mim!

Mas não foste tu…

Como eu queria que as nuvens escuras
que toldaram o céu
fossem a tua sombra
e me abarcassem o corpo até à alma…

Mas não…não foste tu…

Que bom seria se me chovesses
desfeito em gotículas de carícias…
se te entranhasses na aridez da pele
e me hidratasses os poros
enternecidos por te receberem!

Mas não és tu…

E, por isso, fiquei ali…no meio da rua,
perdida,
a sentir o barro nas entranhas,
frio de nevoeiros
de tempos passados
e presentes ainda…

E o meu presente não foste tu…

E foi então que te pedi:
desfaz-te na borrasca
dos sonhos que sonhamos
e deita-me novamente no leito
do rio…
e que o ciclo recomece
num romance
que é meu
e teu
tão doce
e bravio.

Rosa Alentejana Felisbela
16/09/2015
(imagem da net)

domingo, 13 de setembro de 2015

Na cápsula do tempo


Penso

que me fugiram as palavras da ternura
para parte incerta…

perdidas entre a língua e o palato

ficou a saliva
do desejo
que não vês
nem te importa

e agora

olhando as mãos tristes
e cansadas
da tua ausência

despreocupada

perpetuo a sede
que sinto
num último poema de amor.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Sonho na realidade


Amanheceu e hoje não me importam as palavras sobre a mesa do café, porque a manhã partiu sem um “amo-te”, nem deixou um beijo a arrefecer. Mas nem a mágoa certeira de quem a chora me faz molhar as mãos, simplesmente porque já não sinto. Sequer me vou martirizar pelo simples afago nos cabelos que não se ajeitou à pobreza do meu pequeno-almoço. Já não ouço as notícias da vizinha do lado colada à janela a pisar as folhas ainda brandas das lembranças. Nem me importa o cão que ladra ao meu lado, por causa das magras gotas de água que caíram no quintal. Apenas vou sorrir. Vou sorrir à flor perfumada que me doaste através das pontas dos dedos soltos à brisa da minha esperança, tantas vezes perdida. À chama que inventaste na minha boca, como dilúvio quente penetrando na minha realidade de veias intrínsecas ao coração. À suavidade que entrou abruptamente na loucura da minha pele. A esse derreter exausto de tanto evitar querer…mas que cedeu vagarosa e ternamente à maravilha das palavras ocultas no dicionário de nós. Ao suspiro que a boca arquejou quando o fogo do teu sonho abriu caminho entre vales suspensos há tanto tempo, que a língua igualava a rocha muda do chão que os forrava. Ao entendimento que suportou o discurso anelando as paredes caiadas de tristeza e que as pintou com as cores do arco-íris, de todas as vezes que imaginávamos uma ponte. Às tardes e noites em que não me vendaste o brilho, mas que tanto queriam transbordar de quimeras… Ao banho quente com pétalas de rosas emaranhadas nas nossas vontades inquietas por um sopro de amanhecer… E volto a sorrir ao dia que vive em mim, por tua causa, e à energia que não desiste de um dia…um dia…acontecer!

Rosa Alentejana Felisbela
13/09/2015
(imagem da net)

sábado, 12 de setembro de 2015

Perfume a rosas


Dedilhei o espaço entre as linhas escritas pelos teus dedos quando penetraste a folha de papel num arriscar de tinta e loucura…e suspirei. Por não haver espaço para inspirar o tempo entre uma sílaba e outra, ganhei palavras e despendi-as nesse arrulhar próprio das frases criadas com o propósito escondido, sufocado, do nosso amor. Amarfanhei o compromisso do acordo ortográfico, porque ele já não me basta para te dizer o que sinto. Que se calem os olhares dos poetas. Que os rios de filosofias derretam sobre as ruas das nossas vidas, num confesso medo acolhido pelos nossos corações, de mãos abertas pela generosidade. Saciemos a fome do espírito, em letras inventadas, em refrões banais que nos comovam as almas, de asas leves e soltas, beijando o céu das nossas bocas. Que a promessa da prosa se rasgue numa miríade de pérolas que te ofereço nestas singelas linhas que te escrevo com o perfume das rosas entre os meus dedos…amo-te.

Rosa Alentejana Felisbela
12/09/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A pureza do nosso abraço


Nada é tão puro quanto o nosso abraço. Nada é tão perfeito, porque apenas as nossas dermes possuem um mesmo latejar, uma simultaneidade impregnada de certeza no desejo do outro que transcende as cores das auroras. E são elas que levantam os véus do silêncio entre as nossas bocas num compasso terno de entendimento. Só os pássaros voam o nosso voo de liberdade nos gestos, porque é deles a vontade de pousar ali e não noutro lugar. Como se esse fosse o pacto mais correto a assinar pelos nossos corpos nessa eterna capacidade que têm as nuvens de desabrochar o perfume a eucalipto de dentro das nossas lembranças. Porque elas são feitas daquele algodão imaculado com que se tece a magia, bordando os lábios numa perfeita sintonia. E depois…existe o contacto perturbante das nossas faces e o estio que reverbera no remanso das searas das nossas mãos, como se o vento acariciasse as espigas da nossa voluptuosidade e nos arrastasse para a cor de que são feitas as papoilas. Certamente haverá uma tempestade a romper do abismo do nosso amor…é uma questão de segundos até que o sol incendeie definitivamente o nosso beijo e o leito da nossa existência abra definitivamente as portas do nosso dia. E será certamente um belíssimo dia.

Rosa Alentejana Felisbela
11/09/2015
(imagem da net)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Balanços mal calculados


Fraca é a vontade
que se agarra àquela mão
volátil e mensageira da verdade
de um lúgubre senão…

Vestígios de insanidades e manhas
remoem as antigas alegrias
insalubres e estranhas
feitas penas, fantasias…

Cálculos de desejos roubados
em folhas de balanços mal calculados,
sentimentos de duplas entradas
assinalados em cruzamentos de estradas
onde o risco do abandono
é hediondo, é tamanho…

Que mesmo no ajustamento
de curvas, nos assolam o pavimento
urdido e gasto pela mão
sinónimo de análise de correlação…

Mas fina linha de associação ilusória
onde se gasta e agasta a nossa história
pela barreira absorvente
da probabilidade inexistente
do coeficiente de confiança…

Que se tornou numa lembrança
motivada pela curva de regressão
onde deixamos a solidão
ou seria apenas erro de amostragem
de um fraco e fino fio de coragem?

No fundo faltou a filtragem
por uma parca hipótese nula
onde a independência rotula
o limite de confiança…

Afinal, bastaria um nível de fiabilidade aceitável
perante a sensibilidade tolerável
e emergiria sem falhas…

Mas estas existem e ardem como palhas
num campo quente de estio…
E agora, o campo é estéril ou de pousio?

Rosa Alentejana Felisbela
08/09/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Num só


Cada razão é abrigo para as nossas vozes,
como se fossemos capazes de interditar
o tempo numa magia venerada
pelas nossas mãos!

Só assim me sinto feliz,
daquele tipo de felicidade intacta,
inteira e bela…como um escrito teu!

Cada sorriso é um marco
que o mundo jamais conhecerá
por ser só nosso,
por sermos dois
a utilizar as bocas numa só,
por sermos os únicos
solitariamente febris
pelos beijos
extasiantes na distância
de um poema meu!

Cada abraço é a tela pintada
pelo por do sol alentejano
numa ponte qualquer,
enquanto o rio percorre
o seu curso
num suspirar irregular de tanto amor,
de tanto amar…

Cada olhar é a roupagem
que veste o sangue
da ternura sem par,
daquele desejo ímpar,
daquela pressa
que invade a mente
quando o toque começa a despertar…

E existes tu na minha prosa,
existo eu nas letras
contaminadas
pelas fases da lua no seu brilhar
contínuo sobre os amantes…

Rosa Alentejana Felisbela
04/09/2015
(imagem da net)

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Presente


Desembrulhando verbos
sentidos, saudosos, submersos
no nevoeiro
provocado pela carência da tua voz
resplandeceram-me os olhos
nus…

Rasgaram-se as prosas
entrelaçadas de fitas coloridas
nos cabelos descritos
a camélias, margaridas e rosas
enquanto as gotas depostas
solenemente nos beirais
segredavam os nossos “ais”
em carícias prazerosas…

Acordaram-me as veias
vibrando-me o corpo circunscrito
à filosofia das palavras amadas
e como véu tamborilando
ao ritmo da ansiedade
gritei:
sou louca demais!

Louca perto das tuas mãos
em concha nas minhas faces…

Louca perto dos teus olhos
ardilosos amantes fixos nos meus…

Louca perto da tua boca
faminta dos meus beijos…

Louca perto da tua cintura
encostada à minha…

E abri o presente do sonho
acordada pelo teu amor
num poema
truncado a letras de ternura
lambendo os dedos
molhados em tanto…mel.

Rosa Alentejana Felisbela
31/08/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Livro



Hoje dei por mim a pensar porque te amo. Sempre imaginei que não existisse ninguém que me completasse tão bem, que isso era coisa para filmes e canções e poesias. Mas eis que me surpreendeste com a facilidade da palavra e a forma de conduzir as horas, como se fosses o dono de todos os tempos! De facto, a liberdade que doas aos vocábulos inscritos na “brochura” onde a nossa vontade impera, é verdadeiramente desconcertante. Impeles-me a tomar decisões e exiges de mim um horizonte jamais imaginado, e eu sei que sou capaz de lhe tocar! Porque, simplesmente, confio na quiroscopia das frases, nas entrelinhas. Descobri o “amor-próprio” agregado à valorização das desvantagens que já sofri, no corpo e na alma. Ele já existia, mas afastaste o véu do feito como tesouro recuperado retomando ao lugar de onde nunca deveria ter saído. Como se as nuvens de um quebranto ocultassem as letras e eu não soubesse formar as palavras certas. Através do diálogo duradouro incitas-me a atuar e a recuar como numa história em que as personagens entram na vertigem de uma demanda, vivendo aventuras, perdendo e ganhando até conseguir o seu intento. Porque ganhar é um bem maior, se fizermos tudo o que estiver ao nosso alcance, mas perder também pode ser possível. E não é o fim do mundo. Ensinaste-me a afiar os sentidos para que a escrita saia coesa e equilibrada, numa caligrafia que se entenda… sim, é isso! Mas, tens de ler-me com o cuidado do jardineiro quando cuida das suas rosas…aprecia a fragilidade que se torna força e nunca percas o perfume que exala das minhas mãos…guarda as pétalas das minhas palavras pois, enquanto reflito, percebo que és a metade que me faltava. Lembras-te que falei de uma “brochura”? Pois escrevamos juntos o “livro” da nossa existência, porque estamos sempre a aprender a amar.

Rosa Alentejana Felisbela
26/08/2015
(imagem da net)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Minuciosamente


Ao som dos acordes daquela música que amamos…penso em ti.

Foram as Cassiopeias de luz, aglomeradas pelo espaço sideral dos dias, que conspiraram a nosso favor. E digo-o, com toda a certeza, porque jamais poderia cruzar o teu carinho no horizonte deste céu, neste caminho compassivo e absoluto, nesta pedra polida da cor do ébano, cravada no solo estéril onde me encontro. E digo-o, porque foram inúmeras as vezes em que coloquei a mão sobre os olhos da permanência, mas havia sempre um encandeamento, próprio da luz no branco dos muros altos, caiados de tão pouca emoção… Foi necessária a paciência das pombas do quintal dos meus sonhos e a firmeza das gaivotas da varanda das tuas manhãs, para a inquietação nascer dentro de nós. Claro que o conluio exercido pela brisa do teu mar influenciou o germinar do sentimento nas searas de onde brotaram as papoilas dos nossos lábios. Opções tomadas pela terra rubra dos vulcões anteriormente cabisbaixos e tristes, quase extintos. Erupções do elixir da juventude da experiência radicular que trazes nas palavras. Sim, foste tu que as provocaste, com a cor esverdeada das ondas do mar, misturadas com o castanho ocre do tronco dos sobreiros no olhar. Subjugaste as fogueiras na minha pele, a teu bel-prazer, e espicaçaste a loucura na ponta dos meus dedos. Alucinaste as sombras do meu passado e o terror estampado no meu peito…e unificaste os densos nevoeiros das minhas palavras nas entrelinhas dos meus poemas. Fizeste do meu ventre a tua casa com a perícia dos gemidos produzidos em forma de estrelas cadentes. Chegaste a pintar a alquimia do prazer nas paredes feitas da nossa vontade, tal foi o regozijo da generosidade das tuas mãos. Sempre soubeste mimar-me até ao ponto de me perder no rasgar do vento vindo da tua pele, sobretudo quando saboreámos as cerejas do pensamento. Por isso, é com toda a lucidez que me permite a desordem interior que me provocas, que me ergo nestes versos, qual sacerdotisa das brumas, e te venero como único perfume que ainda me desperta a sede, me incentiva a fome, que me estimula a luxúria… Afinal, de que é feito o amor, senão dos momentos incólumes onde a ternura nos desarma?

Rosa Alentejana Felisbela
23/08/2015
(imagem da net)

sábado, 22 de agosto de 2015

nostalgia


Sinto uma calma vazia no tempo suspenso da tua ausência. Perdi o rumo que leva a saudade nas dobras daquele lençol, amarrotado de esperança, sobre a cama com dossel. O que foi feito dos abraços cruzados onde nos sentíamos tanto? O que foi feito do teu peito cansado e das minhas mãos hesitantes entre o sol escaldante do meio-dia e a estrada em braseiro onde nos fomos perder? Dentro de mim há a lua e tu, meu menino, que embalo dentro dos seios, que acolho no ventre onde pertences, que me mata a sede no sabor da saliva quente…ópio enrugado a salmos de clemência a quem me vergo como deus do prazer. Sorrio ainda deitada na nostalgia que sentes…e tu…?
Rosa Alentejana Felisbela
22/08/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

a tua foz


Pelos moinhos do meu coração
rolou uma pedra perdida
das paredes de palavras,
erguidas como guardiãs
do arco que fez o vento…

Na curva da porta entreaberta
criou raízes
nas raízes da roseira
de metáforas
quase perdidas de saudade
e fez-se Deus dos campos
poéticos…

Estava escrito…

Por um beijo eterno seria
capaz de abrir as asas das palavras,
como se os castelos de sonhos
fossem cúpulas cúmplices
e sencientes
a roçagar os lábios
ao som de um bolero
e incentivar ao voo…

Enquanto espero o som da tua voz
seguro a pedra junto ao peito
com carinho
sem perder de vista
a tua foz.

Rosa Alentejana Felisbela
19/08/2015
(imagem da net)

sábado, 8 de agosto de 2015

Mel


São aquelas palavras,
onde nos cruzamos um no outro,
que nos tocam como viagem
impressa nos sonhos,
que sabem a tanto,
que sabem a pouco…

São ecos confidentes
dos mundos nos corpos
que nos pertencem,
como se os sons das rimas
nos fizessem
estremecer as pestanas silentes…

Porque os carinhos trocados
pelos dedos,
cálidos contornos fulgentes,
clamam no sangue,
crepitam na pele,
como se a beijassem
doce e encantadoramente…

E que nem a obscuridade sedutora
do oásis do nosso amor encubra
a nudez ávida de cada vórtice
na quietude insubmissa
do teu abraço que é tão meu…

Todavia já caem pétalas de pura ternura
no chão dos nossos passos
tão mudos de distância
e tão perto do caminho
enamorado de brandura
que perfaz o nosso céu…

Anda, dá-me a tua mão
e partilhemos a lua
meu menino
de mel

Rosa Alentejana Felisbela
09/08/2015
(imagem da net)