segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Alea jacta est



Contraíram-se ideias de encontro aos muros do crânio cravado de memórias amarradas, entrançadas ao visco da imposição socialmente aceite. Veneno moldado por mãos alheias que carregam o esquema rimático imposto por uma rima sem ritmo, por aliterações segredadas às paredes caiadas de sonhos, vendados por beijos claramente eternos. Marginalizados pela boca, retraem-se os suspiros em metáforas apaixonadas pelas rendas da liga da dama de copas, enquanto o ás de paus repete a onomatopeia das folhas em queda por uma chuva de carinhos deliciosos. Ambos personificam o tom clássico de uma redondilha de amor maior, um poema decassilábico com sabor aos sonetos de Camões, um toque de rima livre de Joaquim Pessoa, uma letra de música romântica de Pablo Alboran, ou mesmo as notas musicais das “Quatro Estações” de Vivaldi. A repetição é tudo o que pedem, mesmo sem o refúgio dos recursos estilísticos, porque a imaginação é tudo o que têm, e a ferocidade da escrita leva-os mais além que as pontes, mais alto que os céus e mais fundo que qualquer oceano. As ideias borboleteiam agora ao ritmo da sensibilidade à flor da pele, numa primavera terminada com o germinar do alaranjado do outono. Quem pode negar que a beleza se encontra no horizonte onde dois amantes se encontram, seja em que estação for? Cada frase é lençol em branco na caligrafia dessa intrincada sensualidade a que se sujeitam as glórias dos sonhos, desprezando os sinais de pontuação a que o português está sujeito. Porque nada mais existe, além da cama desnudada e da ternura partilhada entre dois corações que rimam apaixonadamente. Salvaguardemos ainda a técnica de diálogo perfeito onde os travessões se impõem na maior harmonia, sem reticências ou et caetera(s). E o final do jogo? Alea jacta est…

Rosa Alentejana Felisbela
02/11/2015
(imagem da net)

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