segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Da morte das minhas fantasias


Já as estrelas caíram sobre o telhado
e as sombras passeiam nas ruas,
ainda o meu medo, sentado ali ao lado,
festeja à face pálida da lua
e mata as minhas fantasias!

São gritos mudos pintados a silêncio
nos olhos da noite escura
que me quebram a brandura
em mil estilhaços e tu…
nessa ausência crua…num mistério
que me arrepia…

Leio-te no sossego das mãos geladas
e acolho esse vento norte no casaco de lã
porque de água salgada são os meus olhos
e de ti sobra-me a palavra vã!

Maltratas-me as horas
e as correntes bravias
são de ferro nos punhos
onde me encerro
e não entendes
que dilaceras a pele
do devaneio que prendeste ao meu mundo!

Improváveis
são os dias em que me perco sem rumo
e mesmo com o sorriso nos lábios
ainda o dia vai na madrugada
e já eu sinto o cheiro do fumo das chaminés
da noite fria
e do medo escondido
mesmo ao meu lado!

Rosa Alentejana

(imagem de aniazulada.wordpress.com)

sábado, 28 de dezembro de 2013

Quem me diz o que é a justiça?

Quando os roncos da barriga
se fazem ouvir nas têmporas
retesando os músculos da fadiga
respirando a sede, rendida à fome
por um naco de dia
e deglutindo o marasmo
cravado na gola do sarcasmo
do rico, que exibindo a galhardia
do novo “fórmula um”,
empresta “um euro” para ajudar
em nome de um NOME,
para dormir o sono dos justos,
sem sequer olhar para trás e piscar
no momento do tormento que não viu,
porque a preguiça o satisfaz…

Se o idoso perde a identidade
no lugar comum do número de uma casa
sozinho, abraçado à banalidade
de uma reforma que não o cobre, disfarça
as refeições e os remédios
juntamente com os concursos
numa TV empenhada em novelas
(mas de produção nacional!),
sem poder ligar o aquecedor
nas noites frias, sem dormir,
que a eletricidade é um luxo superior
de que não pode usufruir…

Se temos que sair de Portugal
para, dignamente, ganhar o pão
para os filhos que crescem sem futuro,
vítimas de um mal tão duro…
que o fado não soube cantar,
nem o fandango da moda do debandar
soube colmatar,
rumo a uma vitória ainda por acontecer…
não se sabe em que lugar…
Quem me diz o que é a justiça?

Rosa Alentejana
(imagem de www.irradiandoluz.com.br)

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Amor...dá-me flores…


Manda-me flores,
meu amor!
Manda-me versos
e afetos,
que de dores
não quero mais saber!
Podem ser rosas
túlipas, amores-perfeitos
(os meus prediletos)
bem coloridos
para os meus olhos entreter!
Manda-me flores,
meu amor!
Manda-me desejos
em forma de gerberas
cravos, camélias e beijos
da tua boca,
sem esperas…
Manda-me pétalas,
meu amor!
Com a ternura do cetim
da tua pele
e com o odor doce do jasmim…
Manda-me a primavera,
(meu amor!)
dos olhos teus,
que prometo,
guardarei a tua semente
na minha flor,
recetáculo afetuoso
para o teu…amor!

Rosa Alentejana

(imagem da net)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Vento meu!


Amanheceu num preâmbulo entre a borrasca e a cor plúmbea dos gatos bravios, e nos fios elétricos, nus de pássaros à hora em que acorda a madrugada, apenas vislumbro lágrimas que balançam ao sabor da ventania…
Contou-me o assobio timbrado a agoiro do vento, que o teu olhar ficou fechado nas vidraças encerradas pelo frio…mas disseram-me os uivos tenebrosos que são meus os teus pensamentos!
Podem ser barulhentas as bátegas do dia nos telhados, mas são solarengas as prosas em rima que escalam as nuvens carregadas…e, num suspiro, considero este vento que me invade e se instala sem pedir licença…meu!
Rosa Alentejana

(imagem de najanelablog.wordpress.com )

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Árvore de sonhos



Tenho uma árvore de sonhos
coberta de desejos sem moderação
com fios soltos
e cores diversas, e anjos cantando
uma terna canção…
E há luzes piscando
em arco-íris de reflexos
numa forma que lembra o coração
e até há pedidos de versos
que nunca me faltem
no inverno deste Natal
ou em cada nova estação!

Rosa Alentejana

(imagem de br.freepik.com )

domingo, 22 de dezembro de 2013

Voluntariado: dê um pouco de si!


Natal…é tempo de pensar nos outros…por fim!
O ano inteiro vivemos nas nossas vidinhas, alheios ao próximo. Mas no Natal vamos aos hipermercados e “arredondamos”, e participamos nas campanhas para angariar alimentos…como se fosse o remédio para as dores, ou para a fome, ou para o amor…perdido algures ao longo de todo o ano! Todos os dias se perde um pouco nas ruas sem casas, no olhar de cada pedinte, na barriga vazia de cada criança carente…
E ficamos enroscados nas nossas necessidades…que são maiores do que a fome de todo o ano!
Neste momento, não tenho oportunidade de fazer voluntariado, não tenho horário porque no meu trabalho privam-me de ter vida particular, o que me sobra é para a família que felizmente me agradece todos os dias!
Mas felizmente já tive esse tempo, já o fiz no Hospital perto do local onde vivo. E todas as vezes que ia, saía não com a alma pesada, mas com ela leve, por ter visto o sorriso do doente, o agradecimento do seu olhar, a palavra de carinho…deixava um pouco da minha alma em cada pedido de ajuda. E como isso me deixava feliz por fazer algo…que para mim era tão pouco e para eles significava tanto!
Um dia vou voltar…em breve, certamente!
Participe! Seja voluntário! E dê um pouco…de si!

Rosa Alentejana

(imagem de Diário do Alentejo - On-
da.ambaal.pt )

Suplício de Tântalo



Abre as amplas vidraças da janela:
Repara na sensualidade dos campos
Impregnados de uma doçura tão bela
Que as águas são como pirilampos
A brilhar mansamente em olhos de donzela!

Depois sente o cheiro a sândalo
Da tua Terra tão doce e quente
Qual ambrósia roubada por Tântalo,
Ao Olimpo dos deuses, silente
Tornando a sua beleza quase escândalo!

A seguir imagina o cheiro a rosmaninho
Nos meus campos trigueiros em flor…
Esta é também a beleza do meu cantinho
Quase como o próprio Olimpo, sedutor
Nascido à beira mar, meu doce ninho…

Eu não quero ser sempre castigada
Como Tântalo o foi pelos deuses…
Mas a saudade da tua doçura alada
Torna os meus campos quentes
Quando imagino que, por ti, sou amada!

Depois de tanta doçura em cada lugar
Desejo que sintas o sabor da minha boca
E se não te basta apenas o desejar…
Olha o reflexo da minha alma louca
Sorri, docemente, e volta (a janela) a fechar!

Rosa Alentejana

sábado, 21 de dezembro de 2013

Pede-me tudo…


Eu...do segredo faço dia
Faço sol e faço estrada
Procuro a minha alegria
E a de te ter, mais nada…

Faço cama e faço laço
Faço perfume e faço flores
Colo tudo ao teu regaço
Tempero com amores

Dou-te tudo o que quiseres
Mas o meu silêncio já não!
Grito mesmo sem quereres
Que é TEU o meu coração!

Faço das lágrimas poesia
Da saudade faço chão
Caminho na minha ousadia
Mostro-te a minha paixão!

Da chuva escrevo o lamento
Escondo as tristezas em vão
Mas não me peças amor
Que te dê o silencio…esse não!

E faço loucuras do verbo
Faço rimas, faço prosas
Até te peço perdão!
Mas meu amor, o silêncio
Não mo peças mais, não!

Rosa Alentejana

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Noite fria



Guarda-me a lareira dos teus braços
para me aconchegar
na noite fria do teu olhar,
que eu sinto o sabor do gelo
nas pálpebras das palavras
que ficaram por exteriorizar…

e levanto a sobrancelha negra…
tão negra! quanto o ébano dos teus cabelos,
naquele constante e doce arfar,
que escorria dos teus lábios,
a um palmo do encontro
entre a minha baía e o teu barco
por ancorar…

abro as mãos generosas
para te deixar navegar livremente
porque as bagas dolorosas na boca
sufocam-me os pensamentos
da mente demente…

Ainda assim, sinto saudade
da brisa quente do teu perfume
nos meus cabelos,
quando a lua se deitava sobre a água
da tua boca,
na concha dos teus braços
como se fosse uma oferenda…
um presente…
sem laços!

Foste o porto de abrigo solitário
na solidão dos meus nostálgicos
espaços
nus
de sentidos dispersos na imensidão
da tristeza, toldada pela sombra total
da tua ausência ao meu lado…

Fogo esvaído, esventrado, extinto
no cálice da mensagem profanada
pelo vinho…tinto pelo rubor
do nunca que se detém sem margem…
nesta dor!
Rosa Alentejana
(imagem de olhares.sapo.pt)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Viver...morto!

Estou nua do teu abraço,
sem o vestido de risos que me vestias…
E este cansaço que agora me envolve
é fruto inerte da cor da dor
que pintaste no negro dos meus dias!

Converto em sal as minhas lágrimas
que absorvem, bravias,
o arremedo do mal,
e com elas tempero as feridas
que me correm nas veias…vadias!

Acaricio a pena, com a qual me escrevias,
e num bulício de horas mortas
escuto o som que tantas vezes rangia
no papel amarrotado das nossas bocas…

Estou nua do teu abraço
e o frio tomou conta da minha pele…
rompendo-a como mar em corrupio,
desgastando-a…corroendo-a…

Ah! Frangalhos de palavras mortas
nos malfadados verbos!
Trouxessem eles a cura
com as brasas soalheiras do calor
ao meu corpo…
E eu não teria que habitar neste pesadelo,
neste tormento,
neste viver…
morto!
Rosa Alentejana
(imagem de carlinhosdiario.wordpress.com)

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Mito


Sei
quantas frases são necessárias
para toldar o meu olhar em lágrimas
e o ritmo tenso e frágil
na galeria do meu desassossego
quando o luar, ágil,
me consome a letargia e me envolve
no medo…

Sei
quais as garras desesperadas
pela minha carne em sangue
e as lágrimas de limão e brasas
que me fustigam músculos e falanges…

Sei
como a ausência em choque
na delinquência dos dias
me achincalha e me morde
na morbidez da amorfia…

Sei
mas sinto que morro
no desejo enfadado dos saltos
para o vazio sem socorro
dos montes, dos rios, dos planaltos…

Rasgo-me ao meio pela dor
que resvala na roda da vida
e num cansaço mudo de um grito
limpo as gotas de suor
à luz dos olhos…do mito!

Rosa Alentejana

(imagem de hookupopen.blogs.sapo.pt )

domingo, 15 de dezembro de 2013

Ainda não…


Não partas para longe…ainda não!
Deixas tão vazia a minha mão…
Era aqui que guardava o teu coração…
Com afeto o cuidava
Cheia de zelo o alimentava
Com tanto amor e carinho
Nunca o deixava sozinho!
Não partas para longe agora…
Porque o desejo que em mim mora
Ainda se encontra grudado à pele
Por favor não fujas dele!
Não partas…dá-me o teu sorriso
Com ele subo a escada do Paraíso…
Envolvo o sonho em suave arrebol
Porque só tu és o meu Sol!
És o meu desejo mais premente
Tatuado na vida e na mente,
Loucura insensata do meu querer…
Sem ti aqui…que vou eu fazer?
Não deixes vazia a minha mão…
Não partas para longe…ainda não!

Rosa Alentejana

(imagem de olhares.sapo.pt )

sábado, 14 de dezembro de 2013

Mata a minha sede…


Deixa-me murmurar na tua Fonte
Essa em constante e indecente jorrar…
Busco as palavras na tua Nascente
Procurando a minha Sede matar!

Eu sou como o pobre caminhante…
Vivo carente nas tuas águas a beber…
De tão sôfrega, ávida e impaciente
Desejosa na minha vontade de te querer!

Só tu extingues a secura da minha Língua
Lavas com mil cuidados esta pobre Alma
Consolas a minha penúria, a minha míngua…
Dás-me a beber o teu Sabor, a tua calma…

Só tu me renovas a pele e me mantens viva
A cada gota enchendo o copo do meu Saber
Meu Refrigério, meu princípio, minha dádiva…
Para sempre em minhas veias te quero ter!

Rosa Alentejana

(imagem de outrapartedemim.blogs.sapo.pt )

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Abraço


Queria mostrar-te o meu carinho
Se estivesse perto de ti
Não queria que estivesses sozinho
Vem para junto de mim…

Queria dar-te o meu abraço
Não mostrar-te compaixão!
Segurar-te no meu regaço
Mostrar-te a minha afeição.

Queria abraçar a tua amizade
Para te poder amparar
Dessa imensa saudade
E as tuas lágrimas secar

Queria dar-te o meu abraço
Pois estou em crer que seria
Muito diferente de um amasso
Funcionava como terapia…

O meu abraço bem apertado
Terminava a tua depressão
Ficava para sempre guardado
Dentro do teu coração

Rosa Alentejana
(imagem de tatyconquistando.blogspot.com)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Roleta russa


Senti o baque
do tiro perdido na memória
e a ausência do toque
sem glória
no desvanecer…

Ecoa-me o silêncio
nas têmporas
e aquele grito…
silente!

Nos olhos, coração absorto
a doer…
e nas mãos…o desconjuntar
das emoções
em fragmentos…
Cacos!
Lamentos!
Cravados nos olhos
do desnorte!

Na pele, a tontura
da tortura…
A loucura
e o choque
do estalido…
O eco enervante
e o som desgastante
afundado no mergulho
do silêncio…
A paz cortante do vício…
E este encolher…
Na dor do…escolher!

Rosa Alentejana

(imagem de deiafargnoli.blogspot.com)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Triste lua

Não negues…

“Não me ames”, dizes tu…
Mas um sorriso já nasce no meu rosto
E o meu coração já está nu
E começa a cobrir-se de fogo posto…
“Não me beijes”, pedes-me a sorrir
Mas já a minha boca se rende
Ao ritmo das palavras do teu sentir
E só tu não compreendes…
“Não me toques”, tarde demais…
Já minhas mãos te alcançam
Cobrindo a distância em labaredas letais
Pouco a pouco adensam
O lume dos nossos corações reais…
Indefeso, sorris e brincas
Com os meus cabelos negros
E com o teu riso incitas
O desvendar dos meus segredos!

Rosa Alentejana

(imagem de noticiasdegaia.wordpress.com)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Voraz como o mar



A aparência do olhar abraça-me a alma em aconchegos prontos a sonhar…escorrega-me pelo vazio das demoras, e instala-se no sempre, a caminho do querer…
E eu, com receio da perda, acompanho-a em salamaleques de assentimento, reverencio-a em homenagens, e ato-a suavemente ao linho das estradas cobertas de neve branca como alfazema em quebranto, pois o perfume entranha-se na roupa, mas o sabor só sobra se o provar…
Diz-me: alguma vez quiseste saber da bruma que envolve o sopro do sabor voraz do meu mar?

Rosa Alentejana

(imagem de amadrinhadocoracao.blogspot.com )


Amor bandido


Nasceu de um suspiro
em véu cristalino,
diamante puro,
esse olhar de menino
para me enlouquecer!
Cresceu-me no peito
na boca e no ventre
sem aviso nenhum
numa vontade incomum
de não se proteger!

Morreu-me num grito
magoado e aflito
encharcado em dó
a envelhecer!
Amor tão bandido
em poema dormente
que nas frases deslumbrantes
apagou o brilho
confiado ao destino
para um dia...
esquecer!
Rosa Alentejana

(imagem de www.portalguaratiba.com.br)

Anjo da madrugada


Hoje acordei com a felicidade
Nas veias rubras de sentimento
Como se a palavra docilidade
Ganhasse um novo fundamento

Passeiam-me palavras no cabelo
Sorrisos na pele perfumada
Sinto-me a princesa do castelo
Onde a tristeza vivia guardada

E embrenhada no redemoinho
Dos teus abraços descarados
Cobro a felicidade e carinho
Nos meus olhos segredados

E entorpeço na tua canção
Embalada na tua ternura
Numa cadência onde a ilusão
Torna inocente a minha…loucura!

Rosa Alentejana

(imagem de anjosmaus2010.blogspot.com)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Redenção


Sinto as lágrimas na voz embargada pela tua ausência
Porque mais uma noite passa sem os teus amparos
Sinto a mesma chama a percorrer a minha carência
E o mesmo grito contido no vazio dos gestos pensados

Sinto a vontade de ter para mim os teus sorrisos
A luz que me ampara na sombra do meu Mundo
Sinto ainda aqueles doces e ternos suspiros
Que nunca me entregaste sequer um segundo

Sinto a verdade escorrer entre os meus dedos
Vertendo nas entranhas da minh`Alma em fúria
Nas palavras que contaminam os meus medos
Proibindo o pecado que sonhei com luxúria

Sinto a impossibilidade de ter uma alegria
Expressiva, doce e ousada na minha mão
Porque me alimento da Angústia agarrada à energia
Que carrego nas costas da submissão

E, num acesso de Loucura vingadora
Arranco as algemas que me prendem à Razão
Saio para a chuva, bafo de luz, redentora
Agarro nas palavras e detono o meu Vulcão!

Chuva ácida purifica o meu corpo imerso
Em verdades que fechava a sete chaves
Raiva e ódio desaparecem do meu Universo
Surge o sol, e no céu azul surge um bando de aves…

Rosa Alentejana

(imagem de beijodesal.blogspot.com )

Silêncio


Ouço a chuva lá fora
Espero inutilmente o teu regresso
Sou aquela que te adora
Talvez até em excesso…
Ouço o som do coração
Em batida descompassada
Mas esse bater é em vão
Pois estou amordaçada…
Jamais poderei chamar
Por teu nome à luz da Lua
Para sempre te irei amar
Para sempre serei tua…
Ouço a brisa do vento
Na tristeza da amargura
No ar fica o lamento
No teu rosto a minha ternura
Mas ouço o silêncio agora
Ele magoa e destrói tudo
Meu amor perdeu a hora
Nunca serei o teu Mundo…

Rosa Alentejana

(imagem de alinefatnomore.blogspot.com -)

Presente de Natal


Brilham as luzes na árvore
Ficam os chocolates suspensos
Os anjos com olhos de mármore
Logo perto dos embrulhos densos

Mas a prenda que eu queria
Está ainda na tua casa
Sem papel, fita ou magia
Envolto num perfume que me arrasa

Tens o sabor do chocolate
O brilho das luzes profanas
A cor de um vinho escarlate
Que sobre o meu rosto derramas

Quando sinto o teu tocar
Por breves instantes apenas
É como se o Pai Natal viesse ofertar
O seu mais lindo Mecenas

E a beleza do teu rosto
Brilha para mim em esplendor
E termina o meu desgosto
Porque o meu presente é o teu amor!

Rosa Alentejana

(imagem de www.meionorte.com)

domingo, 8 de dezembro de 2013

Já não há…histórias de amor!

Já não há histórias de amor
com lindos finais felizes
nem escadas que cheguem ao calor
dos corações infelizes

Hoje aprende-se a usurpar
os sentimentos alheios
como forma de aniquilar
esperança e sonhos inteiros

Hoje existem bonitas molduras
embelezando o quadro exibido
muito cheias de canduras
camuflando o rosto do bandido

Hoje o frio está presente
em cada lugar e canto
embora a beleza se apresente
como guia do encanto

Hoje revolta-me o dia
tão passado neste agora
definha-me a apatia
que o sossego me implora

Já não há histórias de amor
muito menos finais felizes
apenas existe o beija-flor
polinizando numerosas cicatrizes!
Rosa Alentejana

(imagem de passossilenciosos.blogspot.com)



sábado, 7 de dezembro de 2013

Tormentosa alvorada


Hoje levei-te comigo para o meu dia, na lembrança do meu sonho mais recôndito…
No início, nem te liguei, fingi que a esperança era apenas uma mancha no vidro dianteiro.
Depois, de soslaio, reparei na bruma que me envolvia a alma, e suspirei primeiro, antes de te sentir…
E foi nesse instante que me esqueci de te esquecer!
Abri as portas do meu campo em tons de castanho alaranjado, e sem aviso prévio, tentei alcançar-te…do outro lado!
Já a tarde estava no final, quando perdi a lágrima num orvalho banal e insignificante, perante as agruras da vida.
Escondi-me nos cirros cinzentos de cinza indiferente, com receio que os tormentos tomassem a forma adjacente das noites sem lua…
De nada valeu…a imprudência venceu mais uma guerra rendida!
E eu estou tão cansada…
Levei-te comigo para o meu dia, e a noite amanheceu…numa tormentosa alvorada!
Rosa Alentejana
(imagem de mensagens.culturamix.com)


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Amigo


Se a condição fosse ficar,
apenas e somente, acomodada
no teu ombro, a olhar
para o infinito, calada…

Escolheria aquele banquinho
bem juntinho do teu mar,
apreciando o ondear contínuo
lambendo a margem, a marulhar…

Conversando sobre o que sinto, o que sentes,
sobre alegrias, tristezas e o turbilhão
das nossas vidas passadas e presentes,

sobre o que magoa o teu e o meu coração,
na certeza de que, sorridentes,
um do outro, teríamos toda a atenção!

Rosa Alentejana
(imagem de olhares.sapo.pt)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Sinto-te


Sinto-te em cada gesto de ternura
Cada frase, cada divagar, cada lampejo
Respiro o teu amor e esta loucura
Mas não conheço o sabor do teu beijo…

Sinto-te de cor em cada carícia
Cada palavra de profundo desejo
Em cada sonho de pura delícia
Mas não conheço o sabor do teu beijo…

Sinto-te nas minhas mãos vazias
Em cada lugar meu…ou lugarejo
Em cada prelúdio ou sinfonia…
Mas não conheço o sabor do teu beijo…

Sinto-te no meu coração em segredo
Em cada arfar, em cada arquejo
Martírio deste meu degredo
Por não conhecer o sabor do teu beijo…

(imagem de mais-de-mim.blogspot.com)

Saudade à beira da janela

Defronte da janela larga e iluminada
Ao ritmo dolente das folhas do loureiro
Percorrem meus olhos a vida passada
Relembro a pureza do amor primeiro

Sinto Zéfiro nos meus cabelos negros
Percorrendo docemente a minha pele
Beijando ternamente meus lábios
Numa meiguice cândida que me envolve

Nem o sabor embriagante da boca de Dionísio
Me traz o prazer, (me inebria) e cega como outrora
Nem a escrita de Hermes me tira o juízo
A coerência torturante que me enamora

Abro os braços à Saudade e recebo Apolo
Sucumbo nas suas tempestades mil
Envolvo a minha tristeza no seu colo
Brado em silêncio pelo teu nome… (já débil)…

Desfaleço, por fim, num sonho insano
Onde sou a tua rainha…a tua princesa
Bebo do mel do teu cálice profano
E acabo assim com a minha tristeza

Desperto na varanda onde adormeci
Defronte da janela larga e iluminada
Releio os versos com que antes sorri
E acabei adormecida,( sem dar por mais nada)…

Rosa Alentejana

(imagem de www.abril.com.br)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Acende-me



É esse olhar que me provoca
E me fascina, desatina o coração
Num segundo deixa-me louca
Noutro deixa-me em reflexão…

São as tuas palavras um desafio
Constante, maravilhoso e estimulante
Muitas das vezes (ai tantas!) arredio
Outras (não poucas) inebriante!

Só tu me viras do avesso
Absorves a minha tristeza
Com esse teu ar travesso
Sobressaltas a minha franqueza

Não quero que fiques sério
Quero a tua gargalhada
Conta-me histórias do teu Império
Como se eu não soubesse nada…

Dá-me o sabor da tua boca safada
Sente o céu que há na minha
E com a volúpia encontrada
Acende o fogo que se adivinha

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A benção


Vivo num Castelo de princesas
Onde há vestidos coloridos
Onde Borboletas de certezas
Pousam em amores proibidos
Pássaros perfumados de esperança
Reais enquanto duram
Vogando na terna lembrança
Perdidos...anunciam...
Uma promessa de beijos quentes
Em colos imaculados
Caindo dormentes
Das bocas dos apaixonados...
Vejo o lenço na mão daquela Princesa
Acenando ao seu belo Bardo
Vejo que ele escreve poemas, alvitra beleza
Respira amor no peito, felizardo
Afagando a doce tristeza
Do queixume
Enciumado…
Porque um certo Príncipe real
Almeja o coração
Da sua Princesa leal…
Ouço as Trombetas vazias
Com música incolor
Nas bocas safadas das aias
Maldizendo aquele amor
Mas o que vejo?
É aquela linda Princesa
Que vive no Castelo Encantado
Demonstrando a sua pureza
Escrevendo um poema
Ao seu Bardo…
Vejo, então, o Príncipe a partir
Triste por não receber o Favor
Ao não saber atrair
Da bela Princesa o amor…
E vejo as aias em sofrimento
Com suas línguas viperinas
Engolindo o fingimento
Voltando às suas rotinas…
Vejo o Bardo com a sua amada Princesa
Passeando pelo jardim de sonhos
Esgueirando-se entre a certeza
E a alegria
Das Borboletas e dos Pássaros
Em plena Harmonia
Do seu abençoado Amor
E eu, estou feliz por viver aqui
Por poder esquecer-me de mim
E cada história contarei
Do princípio ao fim…
Rosa Alentejana

Rosa-dos-ventos

sábado, 23 de novembro de 2013

Pobre menina Rosa


Aquela triste e pobre menina
Que caminha na solidão
Possui uma graça divina
E um enorme coração
Mas ela caminha só na vida
Seu universo é vazio
Suas mãos secas, doridas
Transportam a água de um rio
São seus olhos que choram
Lágrimas doces em silêncio
Pois, em segredo namoram
Outros olhos, em martírio…
Nunca a sorte lhe tocou
Louco é o seu desejar
As suas palavras cuidou
Para jamais se desfolhar
Porque a Rosa da menina
Nada devendo à beleza
Baixa os olhos, peregrina
Escutando do seu amor a certeza…
Certeza de não a amar
De jamais seu perfume querer sentir
Pois, nunca ele a irá desejar
Nem no seu caminho florir
E um dia essa pobre menina Rosa
Que vivia com amor no coração
Secou o rio dos olhos
E morreu…de solidão!

(imagem de pesquisa Google)

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Lareira de brasas frias



Tenho frio até à Alma
Essa que se quer quente
Em forno brando de calor humano
Ou que se senta simplesmente
À beira da lareira saboreando
Um bom livro
Folheando os dias
Como quem olha pela janela do tempo
Chuvoso e triste
Mas mergulhando na imaginação
Da liberdade
Rindo como quem chora
O Presente em brasas
Arrefecidas do agora…
Assim sim!
A Alma fica morna
De esperança…e calma!

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Coração destroçado


Confesso que a saudade me goteja
o cérebro com lamúrias que não quero
ouvir…
Ou, talvez eu esteja no vácuo
de onde não quero sair!
Perdida entre o sonho secundarizado
da prisão da tua eloquência,
virada do avesso nesta louca
impaciência…
De coração destroçado, na noite
enfadonha e fria…
Sem ar ou céu ou alegria…
Na corda-bamba desta distante
imensidão
sorrio um sorriso triste
porque deixei escapar o suspiro
inocente
do luar da minha mão!
Confesso que a saudade
me esvai das forças, que me arrasta
pelo chão…
Que não sinto a sorte madrasta
nas conversas da multidão…
Sinto-me oca de lágrimas e gritos,
estou plena de desilusão,
na dormência do sono que sinto
empresto-me aos dias
sem querer o meu quinhão!


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Verborreia

Dádivas


dá-me o cetim dos teus dedos
dá-me a seda e o casulo
onde me refaço sem medos

dá-me o luar dos teus olhos
e esse brilho que me embriaga
de sentidos e reflexos
de mil e uma formas
em gemidos e amplexos,
momentos embebidos
na sedução aos molhos

dá-me o turbilhão
das tuas mãos suaves
no encosto e no arrasto
que me atiça a pele
e em cada vaga
nos envolve…

e o meu olhar...
enfeitiçado, voa...leve

dou-me na erupção
de prazer fulgente,
na certeza deste desejo
tão presente
fincado em mim...
levando-me ao devaneio
que tanto quero
que tanto anseio…

Rosa Alentejana e Rodrigo Lamar

(imagem de pesquisa Google)

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Pedaços de céu



Transborda-me o mel da imensidão
Deste oceano de desejo ardente
Neste delírio de fome incoerente
Que padece desta doce escravidão

Provinda dos teus lábios incoerentes
Quando balbucias a tola perdição
Que é sentir o enorme turbilhão
Da polpa dos meus dedos exigentes

São pedaços de céu rendido
Sem perdão, num terno abandono,
Quando te confessas perdido

No nosso leito de dossel atrevido
Emoldurado por este fulgor profano
Mas revelado no amar desmedido!

Rosa Alentejana


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Instante



Procuro o instante que me escorre por entre os dedos, feitos de ampulheta, em carne-viva.
E a sede, sôfrega, sabe-me a alfinetes incrustados no olhar…
Percorre-me em passos lentos, de botas cardadas, o silêncio da saudade…
Só quero a calma, como recado da Alma, entregue pelo carteiro, num tempo de pombos-correio, sem hora para aparecer!
Aguardo e baixo a guarda, despida de uniforme, no sinal intermitente e disforme, como quem chora, pela mão do instante em que quero acordar!

Rosa Alentejana

(imagem de pesquisa Google)

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Amo-te

Amo-te
Porque o sol resolveu brilhar sobre a minha sombra, que se alonga, na distância que me persegue. E no prelúdio que se converte em grafia de evasão, percorro o muro, na corda-bamba do coração, tão imberbe, que num salto, visto o vazio e corro!
Amo-te
Porque a lua se derrama sobre o mar de outono em mais uma estação. E a chama do seu olhar lança-me no abandono da falta de razão…martirizando o meu desejar!
Amo-te
Porque o vento alcança constantemente a fonte dos meus pensamentos. E nessa dança, sem compasso, voam-me os lamentos em asas de borboletas, ficando gravados na pedra, sujeita à erosão dos dias, como escravos, subjugados aos grilhões das fantasias!
Amo-te
Porque a noite amanhece sempre que o dia renasce. Tal como este estremecer nervoso se encaixa na fome transbordante do meu olhar…sempre que penso em ti e nas maçãs do teu rosto (que pretendo devorar com beijos das minhas mãos, presas ao laço de cor vermelha a cintilar)!
Amo-te
E não me canso de repetir, nesta voz rouca e atrapalhada, porque me deixas louca! E se uma parte de mim se arrasta sem norte, a outra parte sem ti é nada…vogando ao sabor da sorte!
Rosa Alentejana


domingo, 10 de novembro de 2013

Secreto deleite

Secreto deleite

Brindei-te com o meu olhar
pleno de palavras que nunca te disse,
envoltas em desejar,
aguardando que ele me traísse
e devolvesse o meu vestido
às tuas deliciosas mãos
num instante
desprevenido
numa perfeita submissão…

Ofertei a minha pele à tua boca
como dádiva doce e divina,
martírio de gemidos
que acende e sufoca
o meu desvario e me alucina…

Como forma de agradecimento
e num ato de vandalismo
transportaste meu corpo
num suave tormento
para a beira do louco abismo,
onde as imagens surgiram desfocadas
num prazer imenso e suado
em paladares de bocas delicadas
numa amálgama de corpos em pecado…

Secreto deleite
que nunca nos basta
e que guardamos na penumbra
do nosso leito…
Vinho licoroso e de embriagante casta
que aos dois deslumbra
e ao qual nos entregamos
sem qualquer preconceito!



Corcel alado

O gosto



Cascatas de iluminuras
em forma de cálices
sorvem o ar lúgubre do inquietar
Encontro decisivo entre o teu olhar
impreciso
e a vontade de te beijar!
Foi o mosto do teu gosto
que saiu à toa,
brindando à saúde da sorte
no teu lugar!
Tonto!
Como vertigem sentada
de pernas cruzadas
e olhar ausente
no bafo do cigarro
lambendo o coma perpétuo
do sincronizar!
Traço conivente, recurso da pintura
dolentemente pintada
e a pincelada inerte
do meu despertar tardio…
Alquimia discreta
da crença platónica
para mim, em versos de luar.



(imagem de www.mariajoaodealmeida.com )