sexta-feira, 30 de maio de 2014

Ponto final


Sou esse verso meigo que te afaga
ternamente e com toda a inocência
mesmo no simples toque da reticência
ou na frase-chave que nunca se apaga

Sou essa vírgula, que tal como adaga,
corta a suposição sem qualquer ciência,
fazendo verter toda aquela sapiência,
do amor que a bom-porto traz cada vaga

Mas quero ser o ponto final que te cerca
com beijos nas margens de cada estrofe
e que nenhum se acanhe, ou se perca

nem se fique pela simples apóstrofe
rogada em silêncio e deixando a marca
num quase-amar nessa linha limítrofe!

Rosa Alentejana
29/05/2014
(imagem da net)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Acredita!


E se a ausência te força a ser sereno, subjuga o destino e torna-o sarcasticamente ameno!
Porque a audácia sugere o desabafo e o sol a pino retira a eficácia da decisão…mas não acredites na abnegação!
Atira o segredo dos dentes para fora, range-os de dor, se isso te faz sofrer!
Mas não te deixes perder, nem percas a sorte do golpe de vista pintado a vontade nas tuas mãos!
Olha em frente e abraça o norte que norteia os teus serões! São “eles” a luz que ilumina a tua vida, por vezes sofrida, por vezes só!
Mas carrega no momento com o botão de acreditar, digita as palavras que te fazem levitar!
Não esperes que os outros te coloquem o tapete no chão…de vermelho nesta vida apenas temos o sangue e a solidão!
Não mudes apenas porque os outros mentem, muda porque sentes, muda porque queres e nada mais esperes…suspira e segue em frente!
Ganhar da luta amarga da vida não é para inocentes, é para os que fazem o estágio no presente e jogam de mangas arregaçadas no futuro…eventualmente duro, mas o escolhido e que te vai fazer feliz! Acredita!

Rosa Alentejana
29/05/2014
(imagem da net)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Atrevida?


Sim sou eu aquela
a quem chamas atrevida
que te oferece o fogo
que te acende nesta vida
que te mata a solidão
que te instiga desejos
desconhecidos
que te tira o chão
e devolve os gemidos

Se tu queres o silêncio
beijo-te a boca
com sofreguidão
se queres o meu carinho
atiço-te a confusão
se queres uma overdose
despe a timidez
e devora a simbiose
da tua na minha mão
e a dos corpos
juntos nessa união
entrelaçada
extravasada
na pureza
dessa abrasão

Se queres que vá…
eu vou
conquistar a tempestade
dos sentidos
na felicidade
em que ambos
precisamos ficar rendidos!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sábado, 24 de maio de 2014

Suave como cetim


Que a oração do teu olhar
abençoe a minha boca
no altar
do desejo
que sempre me toca
quando te vejo...

Que a súplica da minha pele
se reflita no brilho
que tens na vontade
e que ao matares a tua sede
possas provar
o pecado da minha carne!

Que a bênção do teu cálice
se derrame
sobre a corola do meu ser
e que, sem disfarce,
reclame
o néctar que tenho
para te oferecer!

Que seja eu a deusa
venerada
pelo céu das tuas mãos
e ao mesmo tempo a causa
do alumiar dos teus serões
em versos de louvores
e incensos de mil cheiros
e cores…

Que sejas tu o deus
bendito
que inflama os poemas meus
e que ilumina cada verso
escrito
como vela chamejante
em altares ateus…

Que sejamos estrela e lua
num firmamento sem fim
numa cúpula em que o espaço
etéreo
perdido de mim
se torna no nosso abraço
suave como cetim!

Rosa Alentejana
24/05/2014
(imagem da net)

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Pro(fundo) como o a(mar)


Água pura e tépida que lava a alma
com a doçura do chocolate
e acalma
e torna os versos em arte
na forma de cingir a cintura
e de beijar a nuca com malícia
e ternura que tudo cura!

Tivesse eu maneira de amar-te
na luz morna da madrugada
quando os pássaros
prenhes da cacofonia do dia
me lembram do quanto me sinto
Amada
e todos os sabores e cores
das frutas maduras dos teus lábios
encerrariam o som
do piano nas tuas mãos
numa melodia em tom
de fábula
que o coração…esse ladrão
de suspiros
levaria ao altar
desse proibido querer!

Ardem-me os sonhos
no lacrimejar do desejo
numa amálgama de beijos
ajustados à foz dos verbos
que tenho para te dizer
porque as marés sobem
em margens
e este mar
deixa-me sem pé!

Rosa Alentejana
23-05/2014
(imagem da net)

terça-feira, 20 de maio de 2014

Lendas


Tenho lendas de lábios
adormecidos nos meus
e um sabor inquieto
de saliva do instante
em que o luar se rendeu
à palavra constelada,
derramada em tons de mel,
da delícia partilhada
no abraço de pele e pó de lua
em que me senti…tão tua!

Ah! Sonho de uma noite
no verão da nostalgia
onde o desejo era pura
fantasia
e as janelas eram prados
chorando copiosamente
pelos fados
perdidos na languidez
das tormentas

Claridade sitiada
no esquadrinhar perverso
de cada verso
das entrelinhas
devotadas em silêncio
ao firmamento
dos corpos…

E o teu corpo desabrigado
partido e desgovernado
nem sorria para o meu
mas eu…
Apenas queria receber
cada pedaço e devolver-te
à vida inteiro,
como se o meu fosse
a substância que faz aderir
cada mágoa,
transformando
esse quebranto
em pura água
do encanto que te fugiu
voltando o teu rosto
a florescer…

Pedi que escrevesses
o solstício do verão
na pele da minha mão,
vagabunda de ti,
onde queria arder
sem ambicionar o perdão,
mas a chuva
voltou a cair…

Agora tenho lendas
de corpos encontrados
no desencontro da nossa fé
porque o mundo
é os nossos lábios
em versos
que já não lês!

Rosa Alentejana
20/05/2014
(imagem da net)

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Presente


Tenho a lamuria
Dos dias correntes
Nas mãos cheias de fúria
Por um sopro, um som
Recorrentes
Da tua boca, do teu corpo
Como frágeis ecos sonoros
Vertidos dos poros
Da tua pele
Que me cala
E não me acalma
Apenas exala

E por tanto te querer
Tanto desejar
Tanto te inspirar
E não te ter
Nem tocar…

Repetem-se as senhas
E palavras secretas,
Mas só as luas
Conseguem ultrapassar
As fases tristes
E as frases discretas
Da solidão

Porque eu sonho
E tu sonhas,
Mas nada se altera.

Pergunto-me por que razão
Não se cumpre a distância
Desta ânsia
Da comunhão…

É dos meus olhos serenos
Que bebes a fantasia

E é dos teus olhos pequenos
Que se alimenta
A minha parca harmonia…

E como metades de um todo
Sem paz
Continuamos distantes
Nessa vontade que se faz…
Presente!

Rosa Alentejana
19/05/2014
(imagem da net)

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sou pastor do meu pensamento


Sustenho a respiração encostado ao cajado da ilusão…sonhando com o mar da seara do meu chão, este trigo e esta esteva…a cor da erva…a cor dos dias de silêncio que sempre me deixam sonolento e o ladrar do cão que me corta o pensamento!

Entrego-me à sombra da azinheira de alma cheia de vento, conforto-me com os torrões que me aconchegam o corpo humildemente e escuto os grilos que chamam as cigarras para o baile do casamento entre o que fui e o que nunca quis ser…sou asas soltas de cada amanhecer!

O meu mundo é o rebanho que me brinda com a vida que eu entendo, que me mostra a doçura de Deus em cada novo nascimento…eu nada lamento, não!

Nem as rugas traçadas pelo sol neste barro de que fui feito, nem o naco de pão com o toucinho das mágoas choradas pelo porco ao morrer, e muito menos a água fresca do poço, bebida pelo cucharro…ela mata-me a secura da garganta feita de modas para afastar o sofrimento!

Eu apenas tenho o vagar que eu invento…e este cheiro a mãos calejadas das estradas poeirentas e o estio do som do zumbido das abelhas barulhentas no cabelo! E tudo me parece tão belo!

No calmo anoitecer, depois do dia de sol, sentado na soleira da cal…sonhando que o azul da barra da rua seja o mar das ondas do pensamento…sou feliz e aguardo as estrelas do firmamento, aqui ao relento.

Rosa Alentejana
15/05/2014
(imagem da net)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Palácio do teu ser


Grafitei o muro que tens no olhar
com palavras rasgadas, de alma cheias,
mas no silêncio de um soluço aceso
por uma promessa no altar
sobrou-me apenas
o cheiro a incenso
das palavras alheias....

Encheu-se o grito abobadado
de sinais de pontuação,
e eu exangue,
rasguei o fado
na renda do andor
onde amarrei o meu perdão

Na agressividade compulsiva
por uma cama de amores vazia
plantei a calma soalheira
na borda da oportunidade onde fiquei cativa
e enfeitei a punhos cerrados
a má sorte que amofinas
e me envolve, tão fria…

Bebi dos sinos rimados
a música da brisa que tens nas mãos
mas nem um som, um carinho,
um afago
perpetuaram o luar
do meu caminho
neste imenso turbilhão


Porque eu um dia quis conquistar
o palácio inteiro do teu ser,
mas faltaram-me palavras
para evangelizar
esse céu que eu, um dia,
sonhei acontecer!


Rosa Alentejana
14/05/2014
(imagem da net)

domingo, 11 de maio de 2014

Órfão da luz


Conta-me da tristeza
que te curva as costas
e te dá esse ar desolado,
quando nos versos negros destilas o veneno
desse copo entornado,
maldizendo a vida dura, sem perdão,
que te rompeu a armadura de guerreiro,
que tinha o teu brasão, e que agora
mais não é que um descontente
fado atormentado!

Conta-me dos sonhos
que não cumpriste nas nuvens,
por teres o fardo pesado nos olhos
e a ausência dessa sorte que não mudas,
pela azáfama dos dias em que, mudo,
apertas a tua solitária mão...
Porque te sentas ao sol inclemente,
para não teres da vida
qualquer sombra de satisfação?

Conta-me das alegrias
desses dois faróis de luz
que te encantam as retinas
sempre que te levantas e caminhas
rumo ao dia, nesse passo cansado,
numa lentidão dolorosa
onde mergulhas a tua prosa, mas
que te conduz ao brilho
que tanto abominas!

Conta-me dos desejos
em forma de tantos beijos
e dos abraços apertados e quentes
que te envolvem, inconsequentes,
num pudor que atiras à parede
com raiva tamanha, e sem quereres
feres, com ácido, a boca de quem
sempre te acompanha…

Conta-me desse turbilhão
que trazes teimosamente gravado
nesse doce e terno coração,
que amargamente embalas
na tua solitária solidão
e deixa escorrer as lágrimas,
se assim tiver que ser,
para lavares essa alma
e deixares-me entender…

Rosa Alentejana
11/05/2014
(imagem da net)

sábado, 10 de maio de 2014

Sorriso apapoilado


Veste-me de cravos vermelhos, amor
e também com rosas brancas e bravias
enquanto em quadras descreves o odor
do teu corpo em tantas e novas poesias

Veste-me também de goivos e alfazema,
doce amor, imprudente e despudorado
e no aroma de versos em meigo poema
cobre-me da cor do sol-pôr, puro dourado

Depois quero que, em trovas de louvor
ao desejo desse teu beijo desflorado,
me desnudes ao jeito de jardim multicolor

este meu corpo, num sorriso apapoilado,
porque és tu aquele venturoso pintor
das emoções deste coração tão delicado!

Rosa Alentejana
10/05/2014
(imagem da net)

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Até tu…chegares!


Porque te escrevo
com os olhos em pranto
se comigo levo
este desconsolo
de quem te quer tanto...
Lembrança maviosa
de ternuras pintada,
quadro em doce rosa
destilando prosa
da pele interditada

Fogueira em noite fria
queimando as entranhas
na vontade bravia
que se solta precoce,
por um beijo que fosse,
mas em culpas tamanhas…

Saliva salivante
em boca solitária
que num verso extasiante
num sussurro, num instante,
se transforma em mordida voluntária

E o peito aberto
como quilha do barco
em mar incerto
de fogo farto…
Prazer ao largo
como largo o deserto
de carinhos parco

Razões suficientes
para levar o pranto
nas mãos displicentes
que em algum recanto
procuram as tuas
nas esquinas das ruas
em pontes e mares
até tu…chegares!

Rosa Alentejana
07/05/2014
(imagem da net)

terça-feira, 6 de maio de 2014

És brisa…sou mar


Que fazer se és
todos os céus
em que quero
naufragar?
És brisa
sou mar...

Sinto-me nuvem
no Orfeu do teu olhar
e desfaço-me
ambrósia
quando me vens acarinhar

sorriso do rosto
de velas erguidas
navegas-me ao luar
d’agosto
p’las estrelas
do oriente
perdidas

carícias na pele
na proa dos desejos
desaguamos no cais
de delícias
abalroados
por beijos

És brisa
marinha sem norte
nem praia
que num sopro de sorte
se eterniza
na renda da minha saia

porque sou mar
do teu porto de abrigo
feito vaga vagarosa
neste marear
ao sabor da tua brisa
de fantasia
nos versos
da tua prosa!

Rosa Alentejana
(imagem da net)
06/05/2014

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Remissão


Perdoa-me
o tracejado dos dedos,
fogachos envenenados,
percorrendo a pele
da fantasia!

Perdoa-me o som desatinado,
talvez,
do gemido arrebatado
pelo sentir da embriaguez!

Perdoa-me o calor venerado
pelos abraços,
na valsa dos sonhos
desalinhados,
pólos opostos,
separados
do toque que se quer
sedutor!

Perdoa-me os delírios dos dias
em que, louca,
troco as minhas alegrias
pelo branco puro
dos lírios
das frases escritas
em jardins de poesias!

Perdoa-me a omissão
do beijo
quando a dor
pincela o céu estrelado
com o negrume da cor
da saudade
a que fico presa,
sem caução!

Por fim, perdoa-me as madrugadas
em que as tardes se transformam
em desejos de ternuras desvairadas
pelas noites…
dias e dias…


Rosa Alentejana
(imagem da net)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Desfragmentação


Sobre o branco e claro papel
Desnudas os versos que faço
Lês toda a ternura do abraço
Mergulhado em vagas de mel

Elas sustentam esse belo batel
Tão frágil, em alma, como laço
Que apenas e só enfeita o espaço
Desse querer… inconfessável

Tu afagas o abismo imensurável
Dos medos medonhos do cansaço
Numa ternura sempre inalterável

E eu decanto o calor do meu regaço
Em redondilhas todas forjadas a fel
Neste branco onde inteira me desfaço…

Rosa Alentejana
(imagem da net)