terça-feira, 30 de setembro de 2014

Minha seiva és tu


Segredo-te na lonjura
desejos próprios das rosas orvalhadas,
que no despontar das manhãs
já estão desfeitas em madrugadas
de amor.

Murmuro-te nas polpas dos dedos
o desespero das folhas caducas do outono,
quando a ventania urge
no hálito sedoso do sabor do abandono.

Sussurro-te a melodia das pétalas perfumadas,
magias supremas envoltas na pele que vestes
sempre que invento uma música
nas carícias envergonhadas.

Acredita, recebo-te chuva
no viço das minhas raízes, em gotículas rubras
plenas do teu feitiço,
em matizes de abraços felizes!

Crê que és a seiva temperada de que preciso,
num beijo apaixonado pelo mundo que somos,
paraíso ajardinado,
zona de conforto onde te aguardo
beija-flor num sonho tantas vezes…sonhado!

Rosa Alentejana
30/09/2014
(imagem da net)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Despertar moribundo


Experimento um vazio esmagado, endurecido no esforço de ficar em pé, de maneira a que, não há estaca de osso que me deixe na vertical, tal é o tamanho da minha solidão.

Sinto um cansaço nas pálpebras dos sonhos que já não tenho, porque me choram as ilusões, num choro triste e monótono e abafado.

Estou demasiado sensível ao cheiro a bafio que me escorre pela pele delgada e envelhecida da demora e causa-me agonia e quero apenas matar o dia, hora a hora a escurecer-me…

Aspiro o sono numa vertigem de grito sonâmbulo preso às cordas vocais, e num voo picado sobre o meu âmago, desdobro-me em dores infernais!

Pudesse eu tocar a sombra que não vejo! Pudesse eu abraçar o corpo que não encontro! Pudessem as minhas mãos transbordar as emoções que me consomem!

E acordo do pesadelo, como se a berma fosse a rádio sintonizada na música do teu nome e eu…ainda sinto o arrepio deste entristecer!

Rosa Alentejana
29/09/2014

sábado, 27 de setembro de 2014

Habitas-me


Habitas o meu pensamento, na memória que tenho dos dias que passam arrastando o tempo.

Tenho-te na representação lógica das noites, enquanto a tua silhueta simbólica se recorta na lonjura do firmamento.

Recrio-te vezes sem conta na criatividade que descrevo com versos pobres e insalubres, quando perco a precisão aos poucos, e desbravo palavras na selva da saudade.

Já não sei se embalo o caos de forma voluntária, ou se ele cai sobre mim como cascata doentia, primária…sem que eu tenha a chance de emergir e recuperar o fôlego da realidade.

Habitas cada poema que escrevo, em metáforas de emoções arrebatadas, em cada anáfora repetindo-te o meu desejo, em cada comparação exagerada, em cada gradação dos sentimentos…

Fazes dos meus sonhos a tua morada e do meu coração a lareira acesa onde te aconchegas quando já não sobra mais estrada na minha imaginação.

Sou-te agasalho com calor por dentro, e alimento com sabor a ventre saciado…moras-me no meu prazer adiado!

Rosa Alentejana
27/09/2014
(imagem da net)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Decreto lei


Reivindico aqui a presença das palavras
que trazes guardadas na tua boca,
e com elas o hálito das flores castas,
e mesmo das adulteradas
por esse desejo libertino
encaixado no palato que,
de vez em quando, o meu ar evoca!

Reclamo também o calor provindo
da pele dos teus lábios e dedos
porque é nesse cetim, macio,
que se deitam os fragmentos
de algodão doce do prazer advindo
dos nossos segredos…

Quero ficar exposta ao perfume
que trazes ancorado ao teu peito
e que, pelo ar navegas em ondas de lume
chispando fagulhas desse doce
emanado pelo teu jeito…

Decreto aqui a lei que te inibe
de ficares longe da minha emoção
sob pena de ficares preso
na distância
que considero ser a tua maior
transgressão!
Rosa Alentejana
25/09/2014
(imagem da net)

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Lê-me a alma na parte côncava das mãos


Não sou senão terra ressequida aguardando as bátegas descaradas das tuas loucuras, nesse arrepiar mundano onde cada torrente de palavras desmedida sacia o vício, mas nunca a sede…

Não sou mais do que sombra escondida na mais recôndita escuridão de solidão, onde o frio instalado anseia o calor do teu sol de devassidão, numa busca interna desse fio forte de luz…

Sou apenas o cálix da rosa, pronta para receber o prazer do teu prazer, nesse misto de querer e autorizar essa partilha ainda antes de acontecer, no verbo prometido, contido, no nosso único entender…

Sou só a batida do coração que és tu, numa combinação perfeita entre o desejo e a aspiração de toques, de sentires conectados nas metáforas das palavras lavradas no céu etéreo e tão terreno…

E sou a porta aberta ao teu entendimento, quando conténs a chave perfeita para esse entrosamento desmedido, cobiçado pelas bocas a arder em poemas, pelas labaredas transcritas pelas mãos, pela sensualidade descrita nas folhas brancas das peles transpiradas…

Silencia essa torrente de versos análogos e respira o ar que me rodeia.

Permite que a emoção descrita nos meus olhos se dispa dentro dos teus.

Consente que as chamas se libertem na fogueira ardente das nossas almas.

Lê tudo isso na parte côncava das minhas mãos!

Rosa Alentejana
24/09/2014
(imagem da net)

domingo, 21 de setembro de 2014

Labaredas


Somos achas do mesmo fogo
quando os sentidos começam a arder
labaredas que derretem a inocência numa fome
que o desejo não pretende esconder
pois, são as polpas dos lábios
o mel doce que nos lambuza
em ternas vagas
quando o nosso olhar se cruza
e se entrelaçam os nossos dedos
num torvelinho de emoções
que nos embriaga, que nos come
em arrepios nas nossas dermes
em convulsões
somos a febre espontânea que nos consome
num mar de ondas
ausentes de medos
a fogueira de palavras que queima
cada poema que o nosso amor
faz nascer!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sábado, 20 de setembro de 2014

Minha quimera


Poderiam as minhas mãos trocar de ofício,
num arrebatamento de palavras insones
da minha triste lembrança,
mas nos meus olhos
ainda se banha o luar prateado
daquela esperança…

Sim, poderiam as minhas mãos
sulcar novos mares, em diferentes fragas,
de sílabas similares, mas os pontos
(na exclamação dos dias)
ainda poisam nos vãos dos mastros
altaneiros dos sonhos invulgares…

Poderiam os meus dedos macerar letras
em pretéritos mais que perfeitos,
mas a preguiça paralela aos leitos onde as deito,
retoma o curso a cada hora,
num compromisso sinuoso
a que chamo de “preceito”…

Sim, poderiam as minhas mãos
ser lagos de águas estagnadas,
onde frases e promessas,
miragens de poesias deturpadas,
encalhadas nas margens da boca solitária,
moveriam desejos obscenos
rumo ao sol nascente da tua capitania…

Mas os retalhos maduros da tua boca,
que se fazem constantemente açucarados,
meneiam fonemas prematuros
que se cruzam com vogais
dos escritos desgastados nos textos
onde descrevo os meus fados…

Por isso, as minhas mãos se embrenham
delicadamente nos ventosos versos dos teus olhos,
na infinita pureza dos teus lábios,
no doce sorriso que ostentas no rosto sábio,
e redijo cada consoante numa caligrafia cuidada,
e manifesto a quimera
na minha prosa aprumada.

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Factível


Ainda sinto a dor desta espera
que me cobre os olhos de escuro
ânimo
que me tolhe as vontades
e que se torna rainha
e impera
sobre todos os sentidos
que lês nas entrelinhas
do que escrevo,
nas palavras ímpias
onde ardo e me queimo
sem saberes, conhecendo tu
as minhas verdades!

Ainda sinto a dor da espera
que se encosta aos meus ouvidos,
num murmúrio delirante,
gemido de desejo pelo meu corpo
errante
por um resquício de beijo
e de abraço
- esse abraço -
(o tal!)
que tanto quero, um só instante
na tua sombra física,
no perfume do teu hálito
morno…

Sim, ainda sinto a dor da espera
enquanto a chuva
passeia pelos meus olhos
e os sonhos vagueiam
pela ilusão
da morte desta sede
com cheiro a terra molhada,
num logro chamado de “sorte”
quando encontrámos,
tantas vezes, a madrugada…

E agora, enquanto sigo o caminho
da estrela cadente rumo ao teu sorriso,
abrigo-me na visão etérea
do teu rosto virtual
e acompanho o passo lento
para esse local
onde as palavras se transformam
em silêncio
numa ótica convencional!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Sonhas-me?


Meu amor, apenas hoje, peço-te:
Sonha-me

Leva-me aninhada nos teus braços
na escuridão desta noite de lua cheia
e sem compromissos de laços
sente o meu perfume. A que cheira?

À tua ausência o dia inteiro,
ao hálito sofrido da inclemência,
mas que ao mesmo tempo
é tão doce e verdadeiro
como o sabor da minha pele
quando te recebe, inteiro

Deita-me na cama a teu lado
e declama-me poemas de beijos
nos olhos fechados de poentes
tão eternos como os desejos
que sei que sinto…que sei que sentes
neste deserto machucado
a que chamamos de…presente

Brandamente entra-me no vácuo da demora
que teima em soluçar-nos
neste espera tão dolorosa
e pouco a pouco…perde a hora
da noite onde queremos ficar…

Sim, meu amor, esta noite sonha-me
e não me deixes acordar!

Rosa Alentejana
10/09/2014
(imagem da net)

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Sinto-te


Sinto-te em cada gesto de ternura
Cada frase, cada divagar, cada lampejo
Respiro o teu amor e esta loucura
Mas não conheço o sabor do teu beijo…

Sinto-te de cor em cada carícia
Cada palavra de profundo desejo
Em cada sonho de pura delícia
Mas não conheço o sabor do teu beijo…

Sinto-te nas minhas mãos vazias
Em cada lugar meu…ou lugarejo
Em cada prelúdio ou sinfonia…
Mas não conheço o sabor do teu beijo…

Sinto-te no meu coração em segredo
Em cada arfar, em cada arquejo
Martírio deste meu degredo
Por não conhecer o sabor do teu beijo…

Rosa Alentejana
15/04/2012
(imagem da net)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Amor indomado

Categoria : O céu enamorado

Cobre-se o céu enamorado
Com as estrelas da volúpia
No teu corpo despudorado
Que sem saber me arrepia

Vira-me do avesso e converte
Em certo o que parece errado
Por isso, amor, é tão bom ver-te
E ao teu jeito brando e indomado

Que me acolhe… e enfeitiça
Nesse sorriso de meloso mago
Onde me perco e que me atiça

Num tormento quase delicado
De ternuras, mais do que repleto,
De mel tão docemente encantado!

Rosa Alentejana
in "A essência dos sentidos III"

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Futuro


Tenho um fogo meu amor
Tenho nas mãos as brasas
E o sabor desse teu licor
Nos lábios que me afagas

Tenho lume no meu olhar
Tenho a tua graça no ventre
E o sol no teu despertar
Ao sabor da minha corrente

Tens a lua de que falo
Tens estrelas matutinas
E esse tão doce embalo
Nas palavras traquinas

Tens o verbo saboroso
No ato de amor profundo
E esse teu ar apetitoso
Que é todo o meu mundo

Ambos temos este amor
Guardado como tesouro
E o carinho de um beija-flor
No ninho do nosso futuro

Rosa Alentejana

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Cópia de mim


Guardo as mãos no colo sereno
e já os meus olhos não bastam,
para tornar o mundo deste sótão pequeno
no teu mundo,
pois estas sombras apenas te afastam.

Tenho os caminhos das minhas lágrimas sulcadas
neste rosto cansado,
e nos cabelos já sem brilho,
apenas um travessão
da cor do tempo passado.

Sobre os ombros aconchego o xaile arrendado,
para manter o frio afastado,
das noites da tua ausência.

Por companhia tenho os pensamentos,
que embatem nas paredes da recordação,
e o gatinho malhado
que roça os meus pés
numa espécie de consolação.

E do baú com cheiro a bafio e pó
retiro os poemas que te escrevi,
numa dolência com sabor a dó das letras,
sorvo os suspiros que nunca senti de ti…

Passa-se a hora na demora
dos versos rabiscados no papel
a caneta permanente
como eu guardo para sempre
o meu amor por ti tão fiel.

E no desalento da solidão
vejo neste espelho a cópia de mim,
refletida nas paredes
desbotadas do meu coração
e num beijo soprado, que nunca me deste,
sinto que te despedes
da minha triste ilusão…

Agora já posso morrer
pois, o meu tempo nunca chegou,
peço a Morpheu que me leve
para o infinito sonho alado
de quem nunca voou!

Rosa Alentejana
04/09/2014
(imagem da net)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O último verso


Se te desse a hipótese de me leres
cada sonho mergulhado nos cabelos
da vida inteira, mesmo os pesadelos
isso alteraria a forma de me veres?

Não, creio que essa não seria a solução
pois, “despenteaste-me os sentimentos”
de uma forma absurda e sinto os gritos
nas veias queimadas de dor p’la emoção

Se te mostrasse a nudez da alma perdida
nas noites e dias no conforto do teu olhar
isso iria provocar uma nova forma de rimar
ou apresentaria uma face desconhecida?

Não, julgo que não, pois despiste-me verbos
e atiraste para longe os véus da consciência
como se não me doesse a tua certa ausência
e fosse fácil para mim encarar esses arroubos

Se te privasse do perfume das palavras redigidas
pela minha mão, isso deixar-te-ia saudades
ou não? Irias querer vencer as dificuldades
ou continuarias com as tuas palavras escondidas?

Não, não sentirias nem um bocadinho
pois, o tempo é algo que não te afeta,
uma vez que as tuas ideias de poeta
continuariam em ti o seu caminho

Mas agora sou essa rima inacabada
que precisa de vogais e consoantes
de um hálito suspirado na pele de antes
para a escrita traduzida da madrugada

um instante frágil, um instinto perverso
no ninho subtil de uma folha amarfanhada
onde a escrita triste, nula e desvairada
seja inflamada até morrer num último verso.

Rosa Alentejana
02/09/2014
(imagem de Paradoxos)

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Renascer


Escuta o som das ondas....
ouve o que dizem elas
no seu gemido constante
quando no desaguar suas preces na areia
que as acolhe
se sentem livres, amadas
num imenso renascer revigorante
como se as suas palavras
fizessem parte de um momento maior
que a entrega nesse instante…

Olha o adormecer do sol…
vê Aquela que se acende no erguer
renascida a cada anoitecer do dia
e reparte do que reflete em luar
rasgos da sua aura sem cobranças,
enquanto os vales e os montes
se esquecem de agradecer
cada toque de magia
vertido nos mares e pontes
em palavras, em lembranças
que cada poeta esconde
no renascer
nas entrelinhas da sua escrita.

Sente a brisa que te bafeja...
afago gracioso como quem deseja
o tatear arrastado, por todo o lado,
o remexer no cabelo despenteado
o fazer sorrir num admitir mais
brisas amenas ou fortes,
alusões ao bom que há de vir
porque a vida é esse vento
alado que nos transporta ao devir
esse abraço descontrolado
de incertezas que nos dá força
para emergir, renascer
sempre
num frente a frente imparável
com o nosso existir!

Rosa Alentejana / Rodrigo Lamar
(imagem da net)