quarta-feira, 26 de março de 2014

Horizontes


Chovem-me horizontes
No olhar amoroso
Encaixado ao cuidado
Das tuas retinas
Meninas traquinas
Que brincam no ar
Respirar fogoso
Sempre que me vens ver!

Chovem-me horizontes
Na boca cobiçada
Dessa vontade intrincada
Que segredas nas letras
Escritas em gestos
Concretos
Nesse envelhecer
Dos dias!

Chovem-me horizontes
Na pele exausta da espera
Pelo palpitar imperioso
Amarado ao corpo,
Como se o langor
Desejoso
Se interpusesse
Como sombra
Entre o teu sol
e o meu frescor!

Chovem-me horizontes
No chocolate quente
Preso ao sabor
Que trazes nas mãos
E, como num sonho,
Pousas sobre o meu querer
“à la carte”…para me enlouquecer!

Chovem-me horizontes
E sobra-me este desejo
Delirante
Dobrado sobre o papel de seda
Vermelho,
Onde me revejo
Vezes sem conta,
No momento em que o céu
Toca o mar…de emoções
E prazer
Por te ter!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

segunda-feira, 24 de março de 2014

Apenas rio


Correm-me as lágrimas
Rio acima
O caudal
E sinto-me no caule
Seiva
Clandestina
Escoada
P’la pele
Em surdina
E no ventre
Ardo
Encharcada
Enquanto o rebanho
Rumina
E a sede se acende
Nos cardos
Se prende
E no caos
Alucina

Correm-me as lágrimas
E tropeço
E no cimo
Rio
E peço
Pois, a ele me entrego
Sentindo o ínfimo
Do toque
Cascata
E ainda assim,
Sorrio
Enamorada

Ah! Sou mundo
Perdido
Profundo
Recluso
Dos teus dedos
Rosados
E embarco nos barcos
Dos teus braços
À deriva
Neste rio de papel
Onde sou pele,
Meu amor,
Sou verso
Sem rede
Em bandeira ao vento
Que flutua
E rasga-se o riso
E nem lamento

E apenas rio
Nascente!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 23 de março de 2014

Bem-querer


Caminho sobre esta estrada
de palavras,
ora doces, ora amargas,
nesta voragem de sorte
desafortunada,
quando nada é certo,
nem as partidas
e muito menos as chegadas…

Dos meus olhos liberta-se o sal
no escuro das noites
e nas viagens solitárias
entre os prados,
ignorando se o sol está ao meu lado
ou se sinto o seu abraço apertado…

Das minhas mãos solta-se o beijo mudo,
quente, amedrontado
mas, tão desejado,
e subscrevo os dias e as horas
num tracejado reticente
onde o “agora” é apenas um desejo
descompassado...

Escuto as notas soltas da música
que imagino escrita
à medida do meu corpo,
em tom mágico, murmurado,
segredado ao meu ouvido,
como se a alquimia da vontade
dormisse nesses braços aguardados…

Toco a paz e a ternura do “algum dia”,
enquanto o vento,
meu fiel companheiro,
surpreende a minha pele
num suave cheiro
a bem-querer,
envolvente e costumeiro…
que aguardo
em cada alvorecer!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sexta-feira, 21 de março de 2014

Primavera


E o degelo do rio das palavras
abocanhou as margens dos corpos
numa saudade sem fim,
de tal sorte, que todas as lavras plantadas
floriram do holocausto, à sede abandonado,
em louco festim!

Percorrendo caminhos sinuosos,
com areias granuladas de sedimentos
na boca salivante e dengosa,
sumarenta de tanto esperar…

Espelhando-se as águas do olhar
incerto
na certeza do naufragar,
espraiam-se os sentidos
ternurentos
nos cumes insinuantes,
num suave vislumbrar!

Ocasos com sabor a pecado
regeneram o fluxo imagético
que escorre da pele,
e num ápice,
num beijo selado,
resumem-se a sílabas
que a força do rio impele…

Sorrisos pousados na nuca atrevida
das montanhas cobertas de sensações
sorvem as cores a papoilas
em forma de primavera…
que se aconchegam, loucas, presumidas,
escutando o murmúrio do vento,
com cheiro a alecrim
do rio que a sorte venera!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quinta-feira, 20 de março de 2014

Mar aberto


Nós dois somos barcos
loucos navegantes
nos desejos de mel
e mar açucarado,
remando com remos de carinho
até chegarmos ao porto de beijos
que vem sendo adiado…
presos ao delírio do remoinho
da nossa paixão eletrizante
que abarca a mente
e os corpos delituosos e deslizantes,
numa sensação alucinante
de perda de pé,
ou de juízo,
num sorriso tímido e desesperante
quando nos olhos, nus, se despem
do tempo
e desfrutam do clímax
do instante!

E no mergulho das nossas mãos
num gesto profundo
em ondas de prazer,
em rebelião,
abre-se o sonho,
como se o fim
fosse o arrancar do chão
e o nosso mundo
fosse pronunciado
nesse mar aberto
cruzado em forma de coração!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quarta-feira, 19 de março de 2014

Suave restolhar


Trago ao canto do vagar do meu olhar
aquele brilho envolvente e cândido
do suave e amarelado restolhar
ao vento quente, amoroso, lânguido…

E no semblante trigueiro a reverberar
a sol, a céu e a azul, do porto perdido
solta-se um beijo, vaporoso, âmbar
de um perfume que fascina, desconhecido

Vagueiam desejos de algodão pelo rosto
numa louca embriaguez desconcertante
onde o vinho, cálice doce do teu mosto

acende as horas melosas do instante
em que o meu corpo, ao fogo exposto
nidifica nesse teu abraço, confiante…

Rosa Alentejana
(imagem da net)

terça-feira, 18 de março de 2014

Caminhada…


Sozinha bebes o silêncio das águas
que passam surdas ao teu grito…
e hidratas a tua sede em goles lentos,
dolentes de quem tem tempo
para simplesmente ser aflito!

Segues murmurando
ao som molhado das águas profundas,
enquanto o grito arrastado
te afasta nas mágoas e o sol se afunda…

Apenas as aves te escutam atentas ao volume,
cada vez mais mudo e…desconfiadas,
afastam-se voando em asas de negrume!

Cheiras o cheiro intenso a ervas daninhas
e cada toque ausente acorda a estrada de pó
em castanhos e cinzentos de dó,
onde te deitas e te aninhas.

Fetal é teu corpo embrenhado
nas ramagens dos tojos impiedosos,
enquanto as margens se estreitam
e tolhem os teus movimentos
insipientes e dolorosos.

Varres as águas e a estrada com os olhos em chamas…
- E o amor?
- E o amor?
- E o amor? – reclamas…

Mas nada te mata a sede
nem apaga o fogo que te acende por dentro,
pois a água é borrasca e o grito é lento
quando escutas o “logo” que julgas ternurento.

Envolves os olhos em lençóis de água
feitos com esquecimento
e ajeitas a roupagem ao corpo envelhecido pelo tempo.

E recomeças a caminhada…sozinha.

Rosa Alentejana
(imagem da net)

segunda-feira, 17 de março de 2014

Sabes?


Sabes que sou eu
a tua estrofe completa
de rimas e sons,
onde a língua se move,
de forma suave
na aliteração predileta
de toques e tons?

Sabes que eu tenho a cor
que te acalma em sossego,
na hipérbole do amor,
quando juntos esquecemos
o medo e nos entregamos
ao nosso calor?

Sabes que sou eu
a margem perfeita
para sustentar o teu rio
pleno do desejo derradeiro,
quando repousas e extravasas
as sílabas em deleite
na escrita do poema
que juntos assinamos
como se fosse
sempre o primeiro?

E sabes
que tenho tudo o que precisas
para o soneto da nossa ligação,
implícito nas letras,
decalcado nas teclas,
no sujeito e no verbo
das frases adiadas
da nossa paixão?

Sabes da leitura recíproca
que se quer entoada na oralidade,
onde o sol se esconde
todos os dias sem dó,
nem piedade!

Entendes o preâmbulo suave
que se coaduna com o pêndulo
do tempo desgastante…
e que apaga o espaço e a tristeza
que invade cada instante…

Se tu sabes e eu sei…
escrevamos nos olhos
a vontade do gesto
que ainda agora…emoldurei!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sábado, 15 de março de 2014

Encantas-me


Encanta-me o sol tão quente
e o amor, turbilhão a queimar
o corpo em brasa da gente

Encanta-me a brisa suave
pela pele orvalhada
como asas de ave
roçando o céu da madrugada

Encanta-me o teu toque manso
no meu rosto a viajar
fico perdida no remanso
do teu querer...do teu amar

Encanta-me esse cheiro
que ao teu corpo serve de adorno
e o sabor no nosso primeiro...
beijo doce...beijo morno

Encanta-me a respiração
entrecortada, que insinuas
no desejo, na tentação,
presentes nas frases tuas

Encanta-me aquele abraço
onde entrelaçamos as mãos
e quando não sobra mais espaço
nem dias, nem tempos vãos

Encanta-me o teu céu
da boca, nuvem descarada,
quando tocas o meu
e sinto-me embriagada

Encanta-me o amor transbordante
com que afagas os meus dias
quando fazes de cada instante
realidade das minhas fantasias

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Horas de querências


Plantei uma flor
no olhar das horas
em que demoras a chegar,
e em que a saudade devora
a retina no vigor de te amar…

Coloquei-as à luz do amor partilhado,
num mágico toque segredado,
nas pestanas no alvorecer…

Sombreei as ilusões
numa transparência mimada
de querências por dizer…

Pintei o horizonte com cores de desejos,
em tons firmes de beijos
corrompidos pelo vento…
em lamento por não te ver!

Vislumbrei pássaros
de asas coloridas
em voos de vagas
desenhadas no céu…

Senti o vazio do desespero
pleno de sol-pôr
no perfume que espero…

Quando, por fim,
me floriram os minutos
em pétalas de esperança,
guardei-as na lembrança,
para um dia…
poder colocar-te nas mãos
o tesouro bordado a ouro…
de tanto, mas tanto, te querer!

Rosa Alentejana

quinta-feira, 13 de março de 2014

O azul do sol


Não se passa um só dia
sem que o passado
me passe pelas mãos
de percalços enfeitados
a papel e laços!

Desembrulho cada segundo
com a avidez de uma criança
e aguardo o desenlace,
como um vício
que não me cansa!

Numa dessas oportunidades,
saíste-me na quermesse
ofertada pelo olhar,
com novidades nas mãos e eu…
fiquei encantada,
neste inebriado admirar…

Com toda a delicadeza,
acariciei o meu presente,
com receio que a incerteza
te esfumasse da minha frente…

Hoje leio-te em versos
feitos de luar,
embriagada pela noite serena
que se deita no teu belo olhar
e sinto uma gula desmedida
por viver os momentos
vestidos de futuro
nas nossas vidas!

Lambuzo-me da tua ternura
e amarroto o tempo
na folha de papel madura…
um dia,
a nossa hora
irá determinar o instante
em que o azul do sol
irá brilhar!

Rosa Alentejana

terça-feira, 11 de março de 2014

Perfume a rosmaninho

Quando encosto a cabeça
ao luar cálido do fim do dia,
fico pensando em letargia
no teu rosto, sem pressa…

E na forma como a promessa
desse olhar de pura poesia
marca a desejos a minha alegria
e mais nada me interessa!

És pedaço de mau caminho
na estrada da minha vida
perfume doce a rosmaninho

embrenhado na pele comovida!
E desse odor renasce o carinho
pela tua boca tão terna e querida!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

segunda-feira, 10 de março de 2014

Um pouco de magia


Todos precisamos de um pouco de magia
feita por encomenda no jardim colorido da vida,
em canteiros de sensações brandas
de harmonia cálida,
como numa oferenda!

Ah! E do corte da relva mundana,
onde favos de fel cobrem de capim
o mato bravo que bebemos de um só trago,
como se o zumbido dos zangões
não ferisse a cinzel a pele dos restos
de ti e de mim…

Todos precisamos de um pouco daquela magia
lavrada em sementes de amor,
e que sem saber,
foi usurpada por braços alheios ao seu suor…
como se o vento polinizador se encarregasse
das nossas entranhas entranhadas
na terra robusta de um dia de Estio,
onde a palavra encarna
nas línguas de mar bravio…
tão perto, mas tão longe do fim!

Todos precisamos daquela magia
tocada, perfumada, inventada
no quarto crescente em delírios de paixão,
confinada a desejos de beijos
no colchão de chão,
pincelado de rosas tingidas de sal e verão,
onde o cheiro a gaivotas é girassol
em luar claro na noite de escuridão!

Pressinto a magia em cada filigrana de céu
que é nota da nossa canção
porque o sol começa a aquecer
a primavera do tempo
que guardo dentro de mim
e sinto-te madrugada
a despertar em festim!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 9 de março de 2014

Sem sorte


Não me escondas o sonho,
abre-me a porta da alma
que eu segredo-te
na palma da mão
o perfume dos meus
ais…

Cheiram a desejos
e a beijos não consumados
na pele das manhãs
que querem
demais!

São passos
sem som
que escurecem
os dias
perdidos nos abraços
a caminhar
sem norte.

Sou corpo sem sorte
navegando à deriva
sem, sequer,
se importar…

Olho-te nos olhos
e sonho-te
pela porta entreaberta
segurando, com toda
a ternura, a tua alma
na palma da minha mão…

Sei que és um sonho,
mas ainda murmuro
o sabor a querer
no meu acordar!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Razão e coração


Coloca as flores
sobre a mesa
despe o coração
que eu abro o olhar

Já não me confortam
as cores
nem é suficiente
a fraqueza
do teu abraçar
ausente

Preciso do som
preciso do riso
e desse dom
da intenção
presente

Já não quero a letra
dessa canção
inócua e indecente

Preciso do calor
estridente
no interpretar
dos sentidos

Já não tenho lugar
para a amargura
da dor que levo
aos lábios
e me escorre dos olhos
em migalhas
de dias,
em fantasias…

Preciso do cheiro
preciso da alegria
e do primeiro
verso da nossa poesia!

Coloca-me as flores
sobre as mãos
despe a alma
que eu continuo
a escutar
com o coração!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

segunda-feira, 3 de março de 2014

Carência


Comportam-se perante o pêndulo
do relógio doido do tempo que passa
E como aves a quem cortaram a asa
vão voando naquele voar incrédulo

Aguardam o dia langoroso vindouro
em que o vazio de corpos afastados
num côncavo e convexo, encaixados
será o prazer original e duradouro

Então, voarão pelo céu vermelho fogo
numa dança condenada à inocência
nessa pureza arrebatada, nesse jogo

onde esquecerão, perdidos, a coerência
libertando cada gemido no epílogo
do final dessa desmedida carência…

Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 2 de março de 2014

Escandaloso desejo

Acordo na serena serenata
de palavras
que não gastas
salivas
sussurras
e nunca afastas

Almejas
na minha manhã
o sabor desse beijo
coberto do afã do meu deserto
de sorriso aberto
e depositas o tesouro
coroado de escandaloso desejo
nas minhas mãos,
como pérolas redondas
rolando pelo chão
dos afetos misteriosos,
envoltos na meia-luz
destes dias chuvosos
e nesse som sibilante
do roçar da pele nua

Respiro a magia
do início do dia
voluptuoso
refletido no teu olhar
e no meu a borbulhar
sem tréguas,
nem que isso nos custe léguas
e léguas
de jardim perfumado
de sensações em ti,
entornadas em mim,
nesse quarto
de lua
posta nesta manhã
coberta
apenas pelo lençol de cetim!

Rosa Alentejana
(imagem da net)