quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Livro



Hoje dei por mim a pensar porque te amo. Sempre imaginei que não existisse ninguém que me completasse tão bem, que isso era coisa para filmes e canções e poesias. Mas eis que me surpreendeste com a facilidade da palavra e a forma de conduzir as horas, como se fosses o dono de todos os tempos! De facto, a liberdade que doas aos vocábulos inscritos na “brochura” onde a nossa vontade impera, é verdadeiramente desconcertante. Impeles-me a tomar decisões e exiges de mim um horizonte jamais imaginado, e eu sei que sou capaz de lhe tocar! Porque, simplesmente, confio na quiroscopia das frases, nas entrelinhas. Descobri o “amor-próprio” agregado à valorização das desvantagens que já sofri, no corpo e na alma. Ele já existia, mas afastaste o véu do feito como tesouro recuperado retomando ao lugar de onde nunca deveria ter saído. Como se as nuvens de um quebranto ocultassem as letras e eu não soubesse formar as palavras certas. Através do diálogo duradouro incitas-me a atuar e a recuar como numa história em que as personagens entram na vertigem de uma demanda, vivendo aventuras, perdendo e ganhando até conseguir o seu intento. Porque ganhar é um bem maior, se fizermos tudo o que estiver ao nosso alcance, mas perder também pode ser possível. E não é o fim do mundo. Ensinaste-me a afiar os sentidos para que a escrita saia coesa e equilibrada, numa caligrafia que se entenda… sim, é isso! Mas, tens de ler-me com o cuidado do jardineiro quando cuida das suas rosas…aprecia a fragilidade que se torna força e nunca percas o perfume que exala das minhas mãos…guarda as pétalas das minhas palavras pois, enquanto reflito, percebo que és a metade que me faltava. Lembras-te que falei de uma “brochura”? Pois escrevamos juntos o “livro” da nossa existência, porque estamos sempre a aprender a amar.

Rosa Alentejana Felisbela
26/08/2015
(imagem da net)

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