quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Venero-te


Venero-te templo
no desalinho dos meus desejos,
quebrado pelo ADN
impresso nos lábios
onde guardas os beijos.

Venero-te templo
coberto pelo manto sagrado do tempo,
sincopado aleatoriamente,
quando a luz das velas veneradas
dos teus olhos
aquecem as fugidias retinas dos meus.

Venero-te templo
da derme sublime,
onde entrelaço sabores em teias de anseios,
na cerimónia lúbrica
onde consagras o teu amor aos meus seios.

Venero-te templo
na aura prodigiosa do encontro no altar
que é o início da vida,
quando a luz se derrama pelos nossos corpos,
numa eterna chegada…e partida.

Venero-te templo
no culto delicioso
onde prostrada me entrego
a cada recanto profanado apenas por ti…
na pureza imaculada do leito
que é apenas nosso e onde…
renasci!

Rosa Alentejana
30/10/2014

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Face e forma


Que o ar se solte livre
do corpo que é vida
no teu olhar
e que esse latejar
se renda solene junto ao peito
no recanto escondido
do coração a bombear
ribeiros, rios e mares de palavras
tão ternas como o leito
derramado
nas noites vertiginosas
de luar

Que a tua mão
caia caduca na minha
como folha branca
ensaiando a dança
da caneta atrevida,
quando o poema se aninha
nas nervuras
da nossa perfumada lembrança
em linhas onduladas de prosas
de amor embebidas

Quem de nós dois irá disfarçar
o sorriso segredado
ao ouvido, numa surdez de demoras
à beira das águas espelhadas?

Somos face e forma de um mesmo lugar
de mãos dadas
sem tempo para sublinhar
o vazio dos sonhos
entre nós…a pairar!

Rosa Alentejana
27/10/2014
(imagem da net)

domingo, 26 de outubro de 2014

Planície de solidão


Eu não queria mais
do que ir longe,
ao fim da planície adormecida,
onde as espigas
tocam o horizonte
e lhes transmitem
toda uma palete de sonhos.

Só queria que eles
não fossem rocha,
como de rocha rasa e escorregadia
são os dias.

Queria apenas lançar daqui
um manifesto
contra o ciclo das estações
que me rasgam por dentro
e ateiam as brasas
que esmorecem
a minha derme em gritos.

Sou o parco sorriso
ajoelhado no cimo do monte,
aspergindo leves beijos tristes
sobre o desfiladeiro do teu corpo…

Sou o ténue fio de desejo
murmurado aos quatro ventos
nos sonetos que engrandeces…

E sou a clareira acesa
nos braços da natureza
que não vinga,
porque as palavras já não têm raízes
para segurar o encanto!

Por fim, considero que falhei,
porque já não sou farol
no penhasco das tuas mãos.

Agora sei que sou
queda abissal
nesta planície de solidão.

Rosa Alentejana
26/10/2014
(imagem da net)

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Poeta sem alma


Sou eu o poeta sem alma
nesta solidão de palavras
de mãos vazias
como borboletas
escritas
sem asas

Dói-me o chão por cultivar
nesta aragem sobranceira
quando seca
a fonte,
num imenso latejar,
soluça de saudade
o sal da caligrafia
verdadeira

Já não me sobram poemas
nem sílabas para versejar
pois,
ainda as letras se perfilam
mas, para elas, ainda
que a música sussurre,
eu já não encontro
o par

Por mais que eu plante dias
no deserto do meu pensamento
não há cores, não há sons
nas palavras
que triste
invento

Vou escavar sorrisos ao sol

Vou lavrar pétalas de rosas

E a partir deste momento
vou renovar as minhas prosas

Suspirando junto da fonte,
plantando casulos
no mundo,
na eventualidade
de descobrir algo mais profundo
como o vocábulo
emergido
da terra
revolvendo a naturalidade…
surge a palavra
Amor!

Rosa Alentejana
22/10/2014
(imagem da net)

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Almejado sol


E os gestos vão deslizando
mansos
pelas estações da vida,
displicentes,
ao som das chuvas e ventos,
numa azáfama corriqueira a banal…

Augura-se, ao longe,
nos palácios de serras reluzentes, o sol

Pois, que seja de sol
o discurso que me sobeja
da boca apaixonada
pela crónica da vida
vista da íris dos teus olhos!

E que seja de sol
a palavra
amorosamente melosa
que escrevo com grafemas gratos
pelo hálito de desejo
provindo dessa nascente
que me dilata a vontade
de um beijo
dessa tua boca!

Que seja de sol
cada toque
sensual e servil

Que me embale o corpo

Que me morda o arroubo
das sílabas salivadas
ao ouvido morno
onde deponho as cores
do poente que teima em entardecer

Ah! Que seja de sol
a sede
que me embarga a sombra
dos poemas vespertinos
que mansamente ofereces
ao meu viver

E que seja claro o sol
que me sombreia a vida
em cada gomo triste
que saboreio
em sal
quando das tuas mãos
aguardo um gesto apenas
em forma de sinal

E aguardo-te sol
na vontade imensa que me liquefaz!

Rosa Alentejana
21/10/2014
(imagem da net)

domingo, 19 de outubro de 2014

Amar


Por favor, deixa-me escrever
sobre os raios de sol
como fios de vida
coloridos
no equilíbrio de uma caligrafia
livre, para os teus olhos poderem ler

Por favor, deixa-me escrever
sobre as pétalas do girassol
amarelecendo os campos,
eterna guarida
para as minhas garatujas,
para ti,
em cada expressivo
alvorecer

Por favor, deixa-me escrever
sobre os malmequeres
de mágoas brancas
quando te perco
e desconheço onde andas
e os meus dias
ficam em claro enegrecer

Por favor, deixa-me escrever
sobre a alegria que dança
nos meus olhos ao ver
os teus
quando a retina te alcança
e as lágrimas sucumbem
num arfar de prazer

Por favor, deixa-me escrever
sobre as águas que correm
bravias e mansas
em cada sonho
que ainda quero viver

Por favor, deixa-me escrever
sobre as labaredas da raiva
quando os gestos
são projéteis
que as palavras
já não são suficientes
para o que te quero dizer

Por favor, deixa-me escrever
sobre a terra fértil da glória
quando o meu desejo
é semente de carinho
que tenho
para te oferecer

Por favor, deixa-me apenas escrever
sem condições nem amarras
que os meus gritos
são apenas aparas
do lápis que uso
para, nos meus textos,
te poder amar
sem padecer!

Rosa Alentejana
19/10/2014
(imagem da net)

sábado, 18 de outubro de 2014

Carma incondicional


São os teus lábios polpa doce que me ofereces
em sabores cálidos como o desenhar de prosas
nesse jeito manso, tão terno, quando me roças
a pele em beijos delicados, nirvana de benesses!

São os teus dedos os mensageiros das rosas
cobertos do perfume, que é néctar dos deuses,
para a boca que é minha, quando me aqueces
no toque das tuas mãos, em vagas deliciosas!

E sinto-me a benemérita usurpadora celestial
do palácio que ostentas em gemidos sagrados
quando em mim vertes esse teu amor especial…

E somos anjo e demónio numa paixão ancestral
através dos corpos, vestígios pelos dois venerados,
como carma vagaroso, carinhosamente incondicional.

Rosa Alentejana
18/10/2014
(imagem de BERNINI. 1622.
PLUTÓN Y PROSERPINA.
(Detalle))

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Delírios pintados de azuis


Diz-me de que é feito o teu tempo.
É de folhas que caem como lágrimas de dias cada vez mais curtos, ou de arroubos momentâneos do vento que cruza o ar que respiras e nunca fica…é feito de bancos de jardim solitários nos jardins da tua passagem, ou enche as mãos que usas para abarcar o amor que guardas em pequenas gotículas, em avaro pretexto para me consolar?

Diz-me de que é feito o teu perfume.
É de neblinas frescas sobre as flores que ficam sob a varanda da janela do teu quarto, ou da brisa que vem do teu mar de azuis em conchas de doçuras mascavadas a anis do teu olhar…ou será das sombras deliciosas dos carvalhos e pinheiros-mansos dos montes fecundados pela Lua onde pousas o hálito das tuas palavras?

A tua ausência está pintada no quadro desbotado dos meus braços a tinta indelével.
É nas cores do por do sol dos meus olhos que te encaixas, dia após dia, como se fosses nuvem no céu da minha ilusão, e jamais te pudesse tocar!

A sombra do teu corpo vive resignada na morada da minha pele, como queimadura incandescente e dolorosa, feita pelos banhos de luar onde me tentas, onde me deitas, onde me beijas, onde me vens usurpar o cio, como lápis de carvão em folha de papel desenhando poemas, num eterno versejar!

Quando acordo, vejo apenas a luz que deixou o sol, quando beijou a almofada de penas que tenho a meu lado…numa prece à madrugada pelo delírio que enfeitou o sonho que guardo para te dar.
Rosa Alentejana
16/10/2014
(imagem da net)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

No abrigo das palavras


Escorrem-me palavras pela boca do dia nesta tarde de outono.

E eu, impávida, multiplico cada uma por mil, em equações que não sei calcular. Nunca soube. Tal é o tamanho do infinito desejo que me alucina, tal é o cansaço elevado ao fracasso onde mergulham os meus poemas.

Mesmo que aladas, as palavras sobrevoam apenas o roçar dos teus lábios, sem nunca lhes tocar.

Mesmo que açucaradas nem sequer se aproximam do mel que há na tua pele, ainda que a rimar.

Por mais que as imprima no papel amarelado do tempo que passa, pardo, elas não te são a seiva da vida, não te transmitem a vontade de serenar os olhos tristes do meu coração.

Embelezam os cadernos amarrotados e já rasgados pelo folhear dos dias que escolhes, e voam…voam ao ritmo dos juízos que não me importam.

Voam ao sabor do sol e das cassiopeias estampadas nos céus da minha imaginação…sou fraca, sou forte, sou nada e tudo num acesso proibido ao mundo onde se esconde a desilusão.

Mas continuam a transbordar-me como encruzilhas, como motores, que ressoam no eco vibrante da escuridão onde persisto.

E tomo o caminho das frases como mosto que me aquece as veias no albergue das tuas mãos e aguardo…o espelho indolor que abraço como náufrago sobre as águas em forma de sujeição.

Talvez um dia…seja eu o perfume que se escreve, com a tua caligrafia de alegria, quando o teu sorriso se abre para uma nova jornada.

Talvez um dia…as portas de cada divisão, da casa que sou, se abram rumo à morte…da saudade.

E vou sorrindo às palavras, vício melancólico que me resta no dicionário onde busco, incessantemente, o abrigo da chuva da nossa realidade.

Rosa Alentejana
08/10/2014
(imagem da net)

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Faltas-me


Quando o céu se rasga
em nuvens copiosas de rios
de lágrimas
e o coração explode em conformidade,
ressoa e ecoa
uma dor dolorosa
porque me faltas…

E cabes-me no filamento etéreo
do vento suão
que me embaraça os pensamentos
numa ausência
em forma de furacão
que me abarca…

E vertes-me aluviões
de carências
sobre a terra ressequida
da pele em chamas,
porque resides apenas
na imaginação
das tempestades que provocas…

Sombra fugidia
que escorre pelas vidraças
do meu olhar…
toca na minha mão
e não me deixes mais…
chorar!

Rosa Alentejana
07/10/2014
(imagem da net)

domingo, 5 de outubro de 2014

Labirinto da vida


Perdes-te tantas vezes na vida como as que acordas pela manhã.

A vida é um labirinto onde os caminhos se assemelham, mas que tens que escolher imperiosamente, sem tempo para pensar nas dúvidas. Mais floridos ou mais empoeirados, menos ensolarados ou menos chuvosos, uns pesados, outros leves, outros, por vezes, vergonhosos…

No entanto, todos escapam entre os ponteiros vagarosos ao ritmo desenfreado do tempo…

Se não encontrares momentos felizes, encosta o sapato à pedra que te enfrenta e luta! Mas luta como se de um jogador de futebol se tratasse, dá um chuto e faz o golo, desfruta o momento antes que se acabe!

Não sofras calado as tuas desventuras, perdendo os passos! Procura voar nas asas dos anjos que sempre te amparam e continua a caminhar…

Reúne os amigos em volta de um prato recheado de amizade, com sonhos de carinho, abraços de liberdade, segredos fresquinhos e pequenos nadas…e para enfeitar, polvilha de gargalhadas, originadas por palavras que nem foram mencionadas. E um brinde ao vigor em taça encantada!

Se preciso for, pede alguma sorte ao destino das mãos que te são ofertadas, e verás que os teus passos se tornam mais firmes, e tomarás nas tuas as batalhas sopesadas, arremessando com mais força o forte fardo que antes carregavas.

A diferença do atalho és tu que fazes, com um sorriso no rosto, apesar da tempestade. Por muito que te custe, por muito que te falte, há sempre novos trilhos para desbravar, num jamais render durante a busca incessante da…felicidade!

Rosa Alentejana
05/10/2014
(imagem da net)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A ferro e fogo


Nos ciclos das luas
dispo o medo brumoso
e quando a noite se deita nas ruas
deixo escapar o suspiro ansioso,
fértil de aspirações e devaneios concretos,
nas palavras que te nomeio
em significados circunspectos.

Pouso os olhos nos enluarados contornos
que assumes ao longe e pinto-te vago
na paisagem de uma tela enganosa
em que os reflexos onde vagueio
pertencem ao imenso lago
da distância amarga e penosa.

Marcas-me o sorriso a ferro e fogo
com o arado da promessa
de que um dia nos libertaremos do jugo
da vida, já sem pressa,
e juntos semearemos um campo
de rosas com pétalas dos nossos beijos.

No entanto,
assumes a margem sobre a ponte
do lado oposto ao meu escurecer
e tantas são as noites em que
o meu horizonte
se acerca dos ponteiros do relógio
e grita e chora, embora
não o deixe transparecer…
que são os meus olhos mares de mágoa
e as tuas palavras simples noz oca
que flutua e abalroa
a vontade de te ter.

Eu sou o teu amparo
Tu és o meu
enlouquecer…

Rosa Alentejana
03/10/2014
(imagem da net)