sábado, 17 de outubro de 2015

Voo comum


Chove nesta manhã de sábado. Mas chovem alegrias de regressos ao lar que o coração engendrou para nós. Somos o fado abençoado pela música que a chuva canta sobre as vidraças. O hino que o parapeito sopra ao tamborilar desenfreado pelo vento. O chapinhar que se move ao ritmo das rodas dos carros ao longo da rua deserta de transeuntes. O destino que brilha em cada gota na metade que deixou de nos pertencer. E sabes a razão? O meu abraço reflete o teu quando o frio chega. O meu sorriso completa-se na tua boca ainda trémula da saliva comum. Os meus lábios têm o sabor dos teus sabendo o mesmo segredo. A minha pele respira na tua há tanto tempo que a sudação sabe os locais certos por onde deve correr. E o meu olhar tem a hora exata de convocar o teu para a familiaridade, pois obedecemos ao mesmo impulso de estar juntos. Somos o novelo colorido a duas cores que a fortuna enovelou e que a vida desenrola nas mesmas mãos, qual Penélope, no sentido do relógio. Porque este amor reclama o seu jardim secreto, qual tapeçaria na parede do nosso quarto, exposto às bátegas desta chuva de carinhos e saudades. E o perfume…ah! O perfume pousado na pele abre as asas no voo que tão bem conhecemos!

Rosa Alentejana Felisbela
17/10/2015
(Imagem da net)

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