sexta-feira, 29 de abril de 2016
Brisa
Sonhei que existia na poesia
das tuas mãos...breve brisa
soprada sobre a pele
do meu rosto enrubescido
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
quarta-feira, 27 de abril de 2016
Luz
terça-feira, 26 de abril de 2016
Silêncio...que se vai cantar o fado!
Escuta-se o sabor do Porto
numa boca indecente
E que se calem outras bocas
que o “Cálem” está presente
nas margens que o Douro abriga,
debruça-se a voz na ponte,
dedilha-se uma viola,
tendo a saudade no horizonte
e os xailes coloridos cumprimentam
aqueles que chegam a sorrir
como as cores que vestem os rabelos
a entrar e a sair
no rio que pinta de ouro
os socalcos que o afagam
há um abraço terno e morno,
para a uva que embalam
E em cada rolhar das castas
com cortiça meiga na garrafa
existe um Logo aprovado
por um suspiro que abafa
o perfume e o segredo
guardado a sete-chaves
do crime de amor das videiras
cantado nos versos rimados…de um fado!
Silêncio…
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Depois
Ainda a ausência da primavera
chora o sal dos beijos despojados
das folhas dos eucaliptos, já as margens
desabrocham à areia na fantasia
de um novo verão
Apenas as sombras sobram da alegria
vivida e vívida desses abraços
em ramos enlaçados nos dedos de água
e encobrem a pele dos troncos cobertos
de tanto amor
E depois, nascem alegorias brancas
bramindo destinos ao cheiro a rosmaninho
enquanto a sede sucumbe ao ruído
que fazem as cegonhas no ninho
e esfuma-se a saudade no ar
Rosa Alentejana Felisbela
(Fotos tiradas por mim - Mina de S. Domingos - Mértola)
domingo, 24 de abril de 2016
Sem eira nem beira
Quem me dera ter o verso soberbo
na ponta dos dedos
e ser o poeta sem eira
nem beira
percorrendo estradas
de searas ambíguas…
quem me dera usar a foice
com a maestria das ceifeiras,
colhendo as espigas
como quem faz amor
com o carinho de cada palavra…
quem me dera debulhar
os sentidos
como quem tira o vestido
à nobreza das águas…
quem me dera moer
ternamente os grãos
como quem dilacera
e morde
e arranha
e venera
a farinha das letras
doiradas pelo sol…
quem me dera amassar essa massa
dos pensamentos fartos,
dos pensamentos lautos
perpetuados pela semântica…
quem me dera matar a fome das gentes
com o pão da poesia
patente da fonologia
da minha língua…
quem me dera beber o calor
das vogais
trocando as consoantes certas
num sotaque quebrado
pela côdea do alfabeto da vida,
e depois sim…
morrer para não mais escrever.
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
sábado, 23 de abril de 2016
Da minha margem de menina
Na rústica enseada aqui próxima
ouço o repique glamoroso da primavera
em lírios, láudanos e esperas…
inspira-me a paixão das papoilas
revivendo o reinício, o novo rumo
resgatado das sombras, das quimeras…
e recuo ao sobressalto da retina
onde o leito de soluços se compadecia
sublimado pelo vago recomeço…
revivendo o ressurgir dessa alegria
e as gotas de chuva em papel orvalhando
cada frase, cada beijo, que não esqueço…
no sonho que sonhando, tarde se revela,
barco de noz com quilha dura, mas quebrável
pelo sonoro som das águas sem sentinela…
e acorda-me o ritmo cadenciado da luz
brilhando na fé inabalável dos lábios
sussurrando no vazio…ainda existe essa menina!
Rosa Alentejana Felisbela
(foto tirada por mim)
Sem rasto
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Mundo só nosso
Prende-me as palavras nos cabelos
enquanto murmuras chamamentos
e me pedes com carinho as memórias
tão certas como as histórias
escritas nos nossos firmamentos
Sonha-me frases nos olhos
quando a boca surpreende o beijo
no brilho que tem a manhã
enquanto escutamos
a sinfonia do sabor a chocolate
com a cor da romã
Mergulha-me nas sílabas soletradas
esse amor que me deleita
enquanto sonhador me segredas
por dentro essa volúpia
que a minha pele quente enfeita
Descreve-me círculos serenos
de pétalas em forma de letras
sobre a nuca, sobre os seios,
sobre o ventre, num vórtice louco,
num ofertar único e verdadeiro
Adoça-me a lua com a ambrósia
que tens nessas mãos sedutoras
até que a minha pele fique saturada
e se expanda e assim se torne
tua…ao mesmo tempo
serva e senhora
Só tu conheces o fascínio
guardado na harmonia dos meus braços
como se a fímbria dos dias
conspirasse com a alegria
da inspiração nas entrelinhas
da poesia que fazes…que faço…
Nesses momentos de magia
(que acontece porque estás aqui)
somos dois meninos inocentes
procurando o prazer duradouro
nas metáforas, nas hipérboles
nos cheiros
abraçando um mundo só nosso
que é tanto e tão pouco!
Rosa Alentejana Felisbela
(a publicar - direitos reservados)
(imagem da net)
quarta-feira, 20 de abril de 2016
Sorri tristezas
Hoje carreguei o sossego
do silêncio que não desarma
carreguei a melodia da melancolia
na nuvem carregada de chumbo
e carreguei todas as gotas
que brotaram do infinito mundo
hoje nasci grito de chuva
na verticalidade do momento
e sorri tristezas
como quem lambe os dedos
na febre das ausências
hoje abracei o vento
num carinhoso rosto
de saudade
hoje bebi chávenas e chávenas
de indiferença
mas nada bastou para manter
o laço
da vivacidade
hoje morri mais um pouco nas mãos
do poema
apesar da impotência
e do timbre comum
da intimidade.
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Sou toda carinho
domingo, 17 de abril de 2016
Demora
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Abril
Ainda há pouco se abriu abril
ao beijo de boca cheia
da chuva de alegria
e já o sabor se foi
perdido na poesia
do favo de uma colmeia
E o abraço que abriu abril
à ausência de espaço entre nós
não foi verso,
nem foi fado
foi poema aguardado
pela saudade feroz
E os sonhos que abril abriu
aos nossos dedos enlaçados
não foi gesto na gesta
foi cantiga de amor
na festa
bucólica dos nossos pecados
E enquanto abril abrir
a flor do silêncio primeiro
brotarão corolas coroando
a cópula do amor verdadeiro
germinando
auroras, lírios e embondeiros
E serão tantas as carícias
carinhosas e carmins
que florirão mil e um jardins
de par em par
sempre que abril abrir
um pouco de ti e de mim
no júbilo do nosso olhar!
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
quarta-feira, 13 de abril de 2016
Rebelião
Já não quero mais lugares comuns, onde a tristeza fez morada. Recuso-me a escrever a ode ao amor, cuja métrica tem de ser simétrica e organizada. A partir deste momento, nenhum soneto me algema! Não volto a escrever nem mais um poema. Sou meliante da estrada da escrita, não do grafema ou do fonema. Vou rogar encarecidamente, que me vendam temas na bolsa de valores, vou penhorar os meus pertences e até o meu jardim de flores! Vou despojar-me das figuras de retórica, oferecer metáforas e versos heroicos. Cuspirei sobre o mar das searas de tudo o que for quadra, terceto e afins. Abrirei a arca dos segredos que a “escrita corrida” tem para mim. Acabou-se a ditadura dos versos e a espada aguçada dos desvarios. Agora só quero pontos de exclamação no meu olhar e temas sérios! Arranquei de mim as nebulosas em forma de rosas, só quero as prosas, apenas as prosas!
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
terça-feira, 12 de abril de 2016
Agruras da Terra
Fustigada pelo fausto
vento que do Norte
sopra, rodando
e rodopiando
manifesta-se Terra
ela em seu protesto
como predisposto
em pousio humano
confinada ao silêncio
tanto e tão funesto
como confidente
ela carrega a cruz
inspirada e incapacitante
d’angústia penitente
arada na procura
do adubo bom
composto p’lo juízo
perdido na negrura
das palavras vãs
Oh! Terra deslumbrante
aguarda a colheita
sagrada e rarefeita
de um solo abundante
que amacia a raiz
e brota tão feliz
como fruto farto
e revigorante!
Rosa Alentejana Felisbela
(foto tirada por mim)
domingo, 10 de abril de 2016
Ode à escrita
Foi uma quente heresia nos dedos
Que acordou o brilho de um poema
Como palavra salivando, blasfema
Na oração sagrada dos segredos
E despertou a tal métrica no regaço
Decassilábico de límpida inspiração
E trouxe ao sol a verdadeira ilusão
Que canta em cada canto o abraço
Contemplando os versos germinando
Como flores no jardim alado, suspenso
Demonstra como esse amor imenso
Te ilumina esses sábios lábios, rimando
E no milagre matutino do sacramento
Silencioso de folhas já tão fatigadas
Acorda a bonança das espigas doiradas
No trigal das ilusões feitas de alento
Alumia essa clara claridade glamorosa
Emprestada à tua pele magnificente
Nessas mãos de poeta omnipresente
Que enleva em odes a envergonhada rosa.
Rosa Alentejana Felisbela
(foto minha)
sábado, 9 de abril de 2016
Temporal
Longínqua se sagrou essa louca maresia
de lábios remotos, anódinos e até mansos
que adentrando a terra foram mais amargos
e mostraram lamentos numa vera hipocrisia
jurando profundidade na forma de segredos
brotando da sinceridade que afinal não existia
revelavam um mundo com imensa harmonia
e encerraram o tal istmo sem explicar enredos
ah! Vento agreste que mordeste a doçura
de cada torrão ressequido da morna saliva
temporal que fizeste e a tornaste cativa
volta! Devolve o ensejo e a mordaz ternura
que incendeia a planície e a torna expressiva
ou extingue as gotas que a tornaram criativa!
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
quarta-feira, 6 de abril de 2016
Equívoco
Os olhos sobre a mesa
e o livro ainda incrédulo
repousando, como quem parou
na página errada
tempo gasto de entrega
e um vazio gigante
girando nos calcanhares
e prometendo uma chegada
- Prometo que não vou
sem ranger a porta – disseste.
Mas o ruído foi um passo
delicado de algodão no soalho,
uma pluma lenta
uma queda absurda e surda
espalhada sobre as mãos
de passagem
e a boca que pousa louca
desvairada
na letra da música, confinada
ao espaço exíguo
que a lágrima ocupou
a pomba emergindo a medo
num ritual de acasalamento
evocando a gravidez das palavras
nas nuvens vagas do poema
no livro
à janela
lacunas breves
no silêncio das páginas
bater de asas rumo ao infinito
da frigidez violentíssima
das sílabas
e um suspiro equivocado!
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Perduro
Hoje sei que o teu nome
é sombra e sol
na minha alma.
Esse teu nome é o mistério
que a beleza ocultou
nas páginas dos Maiores Segredos
que o “sagrado baú” guardou.
Esse nome habita-me
como manuscrito
gravado na minha ansia pura,
e embevece-me
como um lótus azul
brilhando no silêncio
do meu olhar.
Esse nome é magia e fome
que me arde na saliva…
Ah! Se te pudesse trazer à boca
como pão a levedar
no âmago da solidão,
repartir-te-ia
pelo corpo
até me entranhares as veias
e chegares ao coração!
Esse teu nome é como
luz do farol aceso
no meio da tempestade,
um “templo solene”
nas mãos
da, já gasta, serenidade,
indicando-me o caminho
que percorro sem passos
sem tempo
sem idade…
E mesmo que a chama
estremecesse ao vento,
eu
sempre preservaria
a filosofia pagã
do teu nome entre os meus lábios,
desesperadamente,
porque procuro
o abismo do futuro
na sabedoria dos sábios.
Esse teu nome cativa-me
a carne no som abstrato
que me converte em estátua,
esculpida pelo cinzel da renúncia
do destino,
tremulando
na brandura de um beijo anónimo,
marmóreo,
onde perduro.
Rosa Alentejana Felisbela
(Esculturas de Marie-Paule Deville-Chabrolle)
domingo, 3 de abril de 2016
Encoberto
Quando a distância era de somenos importância
Havia os grafemas e fonemas em ligações nuas
Em paletas de poemas sobre as pedras das ruas
Formando arco-íris belos de flores em abundância
Depois vieram as sombras concomitantes da ansia
Escurecendo os segredos guardados pelas luas
Trazendo tristezas mergulhadas nas amarguras
Saboreadas com o fel na textura dessa ganância
Que encobre os gestos numa tosca mentira impune
Cravada em alguns versos soltos e algo debilitantes
Escritos nas margens das folhas do negro negrume
Como pérolas lindas e talvez até mesmo luxuriantes
Mas também imperfeitas tal como um extinto lume
Em cinzas vagando como lamentos, toscos meliantes!
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)
sábado, 2 de abril de 2016
Quadros incompletos
Quantos quadros
quase pintámos
pelas mãos do luar?
Medito momentaneamente
na metamorfose de cada ocaso
e no deleite das cores
leitosas
derramadas no horizonte
cremoso do nosso abraço.
Ele foi o recorte imaculado
na branca espuma,
o logro que serenou a sombra
de nós
por entre as nuvens.
Depois veio a lua
vertendo estrelas sobre as pestanas
que exalavam mornas sensações
entre o sonho e a realidade
rumorejante das águas.
Ainda houve a flor
da frondosa laranjeira
rejubilante de perfume
na nossa pele
e os gomos de amor
sorvidos de tanto sabor
e sapiência por entre o azul
lascivo das auroras…
Também aconteceu o milho
amarelo regado de instantes
inscritos na voz murmurante
das abreviaturas
um quase marasmo
na brandura das planícies
trigueiras e suaves
dos nossos corpos…
Tantas lonjuras, meu amor,
tantas procuras e tanta sede
pintada em quadros
que nunca
ficaram completos.
Rosa Alentejana Felisbela
(foto tirada por mim)
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