terça-feira, 24 de abril de 2018

LoLa & Hauser - Moonlight Sonata



A minha sonata

Escuta a sonata
do meu peito

cada nota
que te toco

escuta o tom delicado
do beijo disfarçado
sem jeito

a carícia naufragada
no mar da melodia
que te evoca

escuta o fado a dor
segredada
monocórdica

que denota cada corda
cada tecla tocada
ao meu jeito

pelos dedos do meu amor
no teu corpo de saudade
engelhada

guarda-a no silêncio
abafado
do quadro gravado

guarda-a na imagem
parada na parede
da diligência

com que te calo
quando te afago
em cada cadência

Rosa Alentejana Felisbela

24/04/2018
(feito ao som desta música)

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Livros


Tenho sorrisos escondidos
entre as folhas
como rosas

tenho perfumes eruditos
tenho prosas!
tenho prosas!

Das letras guardo o sabor
e dos sonhos nelas
fogaças

tenho noites vagarosas
e vertidas nas vidraças!

Dos verbos escolho os viçosos
e das capas o botão

dos poetas enganosos
o arrulhar no coração…

tenho fome e tenho sede
nos livros perco a razão!

Rosa Alentejana Felisbela
23/04/2018
(imagem da net)

domingo, 22 de abril de 2018

Paz


Vibram as estradas ruidosas
sob as rodas pesarosas
(assustando as pombas brancas)
e de negro vão vestidas

risco branco seguido
ou incerto tracejado
encurvadas ou corridas

movem os olhos agradados
pela esteva branca rasteira
pelo couto ou pelo montado

pela rocha que faz de cadeira
pelas águas do rio, pelo prado
de mansinho sobem a ladeira

num esforço de aragem agreste
que o calor, por vezes, atraiçoa
surgem os troncos e as folhagens

emprestam sonhos prestes
de descidas sobranceiras
e de sombras e paragens

em barragens e lagoas
matando a sede dos ais
em cada papoila ou girassol

derramam nos corações
inclinados ao por do sol
um abismo de mar

uma brisa a acariciar
o rosto o corpo e o destino
desaguando numa foz de amor

e a gaivota e o condor
sobrevoam as ilusões
pousadas num raminho

ou guardam as crias
num ninho e renascem
a primavera, ou quem sabe, a espera

por um hálito a hortelã
um murmúrio de fado da hera
crescendo rumo à quimera da manhã

evaporam-se num olhar
num poema de encantar
numa sílaba oculta da Terra

e as rodas rolam agora
sabendo que a demora
se deve à beleza que arrulha
no bico das pombas brancas que continuam a voar

Rosa Alentejana Felisbela
22/04/2018
(imagem da net)

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Terra e mar


Sinto da seara
o cheiro, a cor, o sol

tu tens do mar
o roteiro, a barra, o farol

a minha costa
é semeada de amieiro

a tua é abismo
socalco, salgueiro

água límpida escorrendo
como canto de rouxinol

e o nosso abraço
é pressa casta

no leito branco tremendo
na urgência do lençol…

Rosa Alentejana Felisbela
20/04/2018
(imagem da net)

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Colorindo


São belos os dias
que ressuscito
perante o espaço
extenso
inexistente

entre o meu peito
e o teu abraço
num amor puro
bendito
e envolvente

em versos de poesia
perdendo a razão
o lápis, as letras, o poente

riscando as cinzas
e colorindo
o coração

Rosa Alentejana Felisbela
18/04/2018
(imagem da net)

Katie Melua - I Will Be There (Full Concert Version) - Official Video

Estarei sempre do lado de cá da laranja, amadurecendo os gomos, adoçando o sumo que os teus lábios saberão beber
Rosa Alentejana Felisbela  

Da degradação…

Sempre que me desloco a algum lugar, seja dentro ou fora do país, penso se estarei a agir de acordo com as leis. Por exemplo, se for a Espanha, tenho que levar um kit de lâmpadas de substituição no carro e mais um triângulo. Se for conduzir, tenho que me certificar se é pela direita ou pela esquerda que devo circular. Coisas deste género incomodam-me, porque quero fazer tudo como está escrito na “constituição” do país, para não entrar em transgressão. Até gosto de saber umas palavrinhas na Língua local, para não me apanharem desprevenida. Se for em Portugal, corro menos riscos, mas lá vou eu consultar a internet antes de viajar para ter a certeza de estradas, comidas e locais a visitar. Mas há uma coisa que levo sempre na mala: educação. Essa nunca a deixo em casa, por mais voltas que me queiram dar. Isto tudo veio a propósito de quê? - perguntam vocês -, pois bem, sem querer fotografei uma situação que me incomodou. Um pai, em pleno jardim público, colocou a filha a fazer as necessidades à vista de todos! Mas naquele país (tenho a certeza absoluta) existem casas de banho. Eu própria as utilizei…

Rosa Alentejana Felisbela
18/0472018

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Carta de amor ou um simples recado


Meu amor,
Tens em mim o efeito que tem a casa. Por vezes emudeces por dentro, com as sombras rasando as ideias, ainda assim, com a chaminé aberta ao ar puro.

Se o meu vento benfazejo as afasta, logo os teus olhos-janelas se enfeitam de túlipas e cravos e rosmaninhos. Só se cobrem de negrume agreste nas cortinas-pálpebras, quando as deixas entrar, como ladrões furtivos descendo a escadaria do sótão dos teus pensamentos.

Mas, mesmo assim, não chegam para preencher todos os espaços das tuas paredes fechadas. Elas guardam os preciosos quadros com cheiros dos nossos momentos. Emoções com um valor sentimental inegável, impagável. Não somos pessoas de guardar futilidades, mas sim felicidades. Essas, que ninguém nunca viveu por nós.

Ah meu amor, a sedução da sabedoria que emana da cozinha das tuas mãos tem o dom de me emudecer. Nesse complexo mundo de temperos, é que descortino o sabor aprimorado da paixão. A saliva sobe na sua espiral de veias rumo ao quarto.

E aí, descubro o reboco branco e a tinta terna da tua voz. Ao fundo, um espelho reflete as nossas silhuetas sobre o veludo vermelho que tem a cama, e um véu transparente no dossel a cobrir a nossa sorte. Sim, a nossa perdição foi a nossa sorte.

No entanto, tu gostas de a esconder atrás das varandas do teu sorriso. Esse, que me deixa maravilhada e altiva nos degraus da porta que me abres, sempre que te quero visitar por dentro.

Fascinas-me com esse chão imaculadamente limpo do teu coração, onde nem sequer se escuta o som dos meus passos, porque não tens lugar para o pó exterior passear. Existe apenas o caminho aberto para as ternuras que te levo de presente.

E hoje, fica aqui o meu presente (o que quero viver contigo) nesta simples carta ou recado…de amor.

Rosa Alentejana Felisbela
12/04/2018
(imagem da net)

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Cortês?


Conheces o traço
que risca o céu
de ponta a ponta?

É o nosso abraço
-estrela envolvente-
que a história conta…

Era uma vez
o dia de manhã
que a tarde ardente
converteu em cortesã

e o desejo vil
fragilmente fez
do amor poente
o sabor a maçã…

Mas a boa sorte
envolveu os corpos
como é apanágio

resta saber
se esse amor é forte
e traz bom presságio!

Rosa Alentejana Felisbela
09/04/2018
(Camille Claudel – la valse)

domingo, 8 de abril de 2018

Vácuo


Parem o sopro tóxico
nas narinas
pequenas

sendo a falta
do oxigénio
a dádiva serena

descendo das pálpebras
para as pupilas
dilatadas

e o frio fundido
na pele
revela as feridas

que a boca exala
o vómito
das carências reveladas

e o pavor
deitado na terra
é vácuo, é buraco negro de guerra.

Rosa Alentejana Felisbela
08/04/2018

Poisar


Cobre-se a paisagem
do vento que traz
a neve

e nos meus dedos
a linguagem
que te faz voltar

à carícia leve
que me leva as roupas
e me desnuda

o ser

sopro “amo-te”
e o brilho do teu olhar
é quente entender

não sinto frio
apenas a voragem
desse beijo na nuca - a poisar.

Rosa Alentejana Felisbela
08/04/2018
(Lovers Dancing in the Wind by Chinese sculptor, Lou Li Rong)

sábado, 7 de abril de 2018

Íntimos


Percorri o caminho
das gotas
de chuva

esquina por esquina
rego por rego

desaguei de mansinho
nas tuas feições

na testa no nariz
e cheia de apego

afundei-me em teus
lábios

íntimos abismos
marotos desvelos

Rosa Alentejana Felisbela
07/04/2018

quarta-feira, 4 de abril de 2018

poema que não faço


Um perfume, uma imagem, um aconchegado abraço,
uma ternura que enlaço nas palavras que a gente procura
e pouco mais desta loucura que é mar e porventura
um mísero poema que não faço...

Rosa Alentejana Felisbela

Onda


Hoje houve uma onda
vestida de espuma
mareando aos pés da areia

despida do manto
do verde da bruma

arrepiando o frio
ao sabor do vento

deixando tão só
um grito bravio

e no olhar salgado
um mar sedento…

Rosa Alentejana Felisbela
04/04/2018

segunda-feira, 2 de abril de 2018

um dia...

Se te amo tanto
que importa o engano
da cor que deve ser?

Quero a inocência
e o arco do corpo
a transparecer

-o ronronar da história
que um dia ha de SER!

Rosa Alentejana Felisbela
(desconheço o autor da escultura)

Sem juízo


Descalça as flores de maio
e tira as roupas que trazem
as poeiras do tempo

pede silêncio ao lábio
que superior eu não entendo

desliga o som dos pássaros
não é deles que preciso

compõe as asas de abril
apossa-te das ternuras mil
e alisa-me as rugas que idealizo

na terra roubada à planície
pisa a manha, pisa a sanha
que os animais selvagens mudos
se arreganhem!

Perante um minuto
no íntimo de tudo
quando os nossos corpos se entranhem

naquela delícia imprecisa nos olhos
naquela tremura mundana
regada de gemidos que emana

da boca do gargalo do poço fundo
e o mais que se atreva a barganha
gerada num sopro de paraíso

depois gaba-te da façanha
ao sol, às flores, ao riso
ao veludo dos sonhos em que deslizo

mas não deixes nunca de ser
o meu mel, o meu cinzel
sem juízo!

Rosa Alentejana Felisbela
02/04/2018
(escultura da chinesa Luo Li Rong)

Remanso


No seguro remanso
dos teus lábios amados
é que nunca me canso
da beleza dos fados

se a suavidade da voz
se a expressividade dos dedos

sei que és do rio a foz
de todos os meus segredos

entrego-me ao branco
desta sorte bendita
és puro quebranto
onde fico rendida

e quero-te tanto
meu amor sincero
que se te ausentas um pouco
para sempre te espero…

Rosa Alentejana Felisbela
02/04/2018
(imagem da net)