sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Carnaval


Vejo-te ao longe, sorrindo e acenando
Seguindo o corso, vendo as belas morenas
Sem saber como, vou-me aproximando
Procurando teus olhos, jaspes pequenas

Minhas plumas coloridas a flutuar
Na batida de um samba, na multidão
Roçando o teu rosto a murmurar
Pedindo que só tenhas olhos para o meu coração

Ele bate por ti e só diz o teu nome
Num som estridente e enternecedor
E o desejo ardente, que quase me consome
Clama a tua atenção num olhar sedutor

Vejo o teu olhar preso ao meu, atento
Sorrindo para mim, quase nem acreditando
Tiro a máscara um instante, num sopro de vento
Coloco-a de novo e sei que me estás amando

Atiro-te um beijo indecente e provocador
Sei que te verei muito mais tarde
Sigo sambando ao ritmo do amor
Toda a alegria do Carnaval em mim arde…

Rosa Alentejana
(imagem da net)

Coração negro


Porque não me deixas ficar
dobrada sobre o meu mundo
chorando como o vagabundo
a quem não permitem cantar?

Tenho voz de tristeza embargada
e as entranhas secas e dolorosas
nem sinto mais o cheiro a rosas
apenas o perfume a terra molhada!

Sou como o fruto do loureiro
visto de negro como a escuridão
já nem sinto o coração inteiro

Uma parte pousou na ilusão
do que um dia pensei verdadeiro
a outra quedou-se sonho na solidão!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Poema vazio


Sinto-me poema preso
na árvore do desassossego,
já foi verde,
hoje é seco
e como outono esmaece,
fica solto e sem vida
em tons amarelados
e aos poucos transparece
nas penas dos meus tristes fados…
não dorme o sono dos justos
por não ter alegria
e sofre do abandono
a que o amor o acamou um dia…
se houvesse justiça dos poetas
de cartola e martelo na mão
a Morfeu me entregaria
para viver só na minha solidão…
mas eu…
sou poema algemado ao vento
minha bússola
é o lamento
e oriento-me pelo desprendimento
cravado no coração!
Meu viver foi deitado ao rio frio
e o meu corpo é o vazio
das palavras a correr…
sombrio…
sem ti para me aquecer!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

Quase primavera


Caminho pela rua da “quase primavera”, germinando para ti…meu amor!
Todos os dias me levanto com as brumas embutidas na concavidade das mãos da madrugada, murmurando desejos de ser, por ti, amada…
Todos os dias sigo a razão inscrita nos teus lábios, num louco sussurrar de recomeçar o caminho…com todo o teu carinho…em pétalas de amar!
Cada dia que passa, fico mais perto da alameda em flor, que debruando as tuas margens sôfregas e intensas, embeleza a minha prosa…pintando-a das cores das rosas…
E esta viagem que sigo na tua direção transforma-se na razão suficiente para me fazer acreditar que amar de novo é apenas um segundo, um passo…que me queima como lume do teu olhar…sedutor!
Ofereço-te o alecrim e o rosmaninho, numa chuva de odores campestres…e prometo perfumar a tua pele de mar…com essas fragâncias silvestres!
Apenas peço que saboreies os meus lábios de amor(as) e sintas a carícia do meu olhar…depois…podes ir…ou ficar!

Rosa Alentejana

(imagem da net)

Pedaços de céu


Transborda-me o mel da imensidão
Deste oceano de desejo ardente
Neste delírio de fome incoerente
Que padece desta doce escravidão

Provinda dos teus lábios incoerentes
Quando balbucias a tola perdição
Que é sentir o enorme turbilhão
Da polpa dos meus dedos exigentes

São pedaços de céu rendido
Sem perdão, num terno abandono,
Quando te confessas perdido

No nosso leito de dossel atrevido
Emoldurado por este fulgor profano
Mas revelado no amar desmedido!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Luminescência


Aqui onde o sol se deita
cala-se o sonho
para nascer a luz
dos teus olhos!

Envergonham-se as estrelas
perante a lareira nua
que acolhes no teu corpo
apenas num sopro de lua!

Continuo acariciando
o cometa longínquo
dos teus pensamentos,
bebendo o licor
dos momentos,
como se a magia
residisse na constelação
da tua boca.

Caminho nas nuvens
do pó estrelar
que espalhas no chão
só para me veres passar.

Certo ou errado...
está escrito no céu do
encantamento
que te quero no meu fado
iluminando o meu quarto
com os teus olhos!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Caiada de sonhos


Amanheces na cobiça
do meu devaneio
e voas-me nas asas
da utopia
o dia inteiro…

Segredas-me alquimias
com voz de madrugada
num sussurro preso ao dia
para me sentir tentada…

Meus olhos são, então,
moinhos de vento
aguardando a brisa
do teu respirar…

E nesta fome
bendita
de contentamento
perco até a razão
no meu levitar…

E sinto-te D. Quixote
lutando com os segredos
confusos e loucos da minha alma
para depois, afastando
os meus medos,
restabeleceres a calma
do meu respirar…

E levo-te
perfume
dos campos trigueiros
no lume que me cerca
quando vibra o ar
em teu redor…

E transformo-me em nuvem
caiada de sonhos
evado-me no espaço
só por um momento…
no teu olhar!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

Caixa de Pandora


Abro o baú dos Tempos
Passados…
Retiro vestidos de lágrimas, lamentos…
Cubro o soalho do
Presente!

Retiro vestidos de memórias doces…
Torno-as atuais
E não banais!

Retiro o vestido da saudade…
Amarroto e deito
Longe da minha verdade!

Retiro o vestido da alegria… de ser criança
E gravo-a na lembrança
Como tatuagem!

Retiro o vestido da inveja e da tristeza …
Mas só sobra
A pureza…
Em mim!

Não adianta fingir…
O único vestido
Que sobra
És tu, em forma de ilusão
Que me assenta
Como um vulcão
Prestes a emergir!

E eu fico aqui
A sorrir!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

À deriva


O meu corpo esqueceu
os recantos que procurou
no teu

A mágoa sabe-me a tudo
o que resultou
do teu mundo

O céu sereno, sem saliva,
ausentou-se dos beijos
imigrantes da lascívia

Os dedos do tato
apagaram-se
da pele
em lampejos
e esqueceram-se,
tontos,
dos desejos!

A frase da poesia
perdeu-se na ousadia
dos dias…vagou
pelo mar da incerteza,
à deriva…

Até as palavras
murmuradas
à beira dos teus sentidos
se retraíram,
envergonhadas
em suspiros rendidos…

Não te procuro
porque já não seguro
a vontade
do teu colo quente
onde aguardava o embalo
que calo
silente!

Apenas flutuo
num barco vazio,
vadio,
cujo mar é chão
e eu…tatuo no meu rosto
esta minha solidão!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Sou rocha

Sou rocha
que o tempo abandonou
às intempéries
pois,
já não sinto o frio
da madrugada
transformada
em nada
e sou chão que gerou
o pó de estrada
que o vento
bravio
espalhou
para longe…

Sou rocha
que a água devora
constantemente
como mágoa
que chora
o seu presente…

Sou rocha
que o vento fustiga
em rajadas
inclementes
quando a chuva desaba
e desabriga
as minhas vestes
de basalto e carinho
penitentes!

Sou rocha
e já não sinto
a escuridão
do silêncio
quando o dia se apaga
como se o lampião
se esvaísse
sem forças
e se afundasse
por fim
na água.
Rosa Alentejana

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Estilhaçada


Não me lembro dos dias de sol,
onde brilhavam as íris
e o ar da manhã,
mal recomposto,
era perfumado de rosas
num bouquet de arrebol…

Esqueci-me da minha memória
na lâmina da ponta da faca afiada,
que lambo,
e rasgo os lábios dormentes,
sem som, sem glória,
magoada!

Esqueci-me que as lágrimas
molhadas de silêncio
tinham pousado nos olhos,
como poetas encerrados
nas barras do vendaval
fictício e infernal.

Perdi-me nos afagos sem lógica
do mausoléu dos dias,
gastos, descoloridos, desidratados,
embaciados pela penumbra nevrálgica
que me cobre o corpo…morno, quase morto.

Agora…aguardo a faísca pronta a deflagrar
pelo brilho do teu olhar…
a fagulha dissipada nas pontas dos teus dedos…
as brasas acesas na tua voz
e espalhadas pela língua de fogaréu do teu céu…

Aguardo que me lembres da vida estilhaçada,
porque não me recordo de nada!
Rosa Alentejana
(imagem da net)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Porquê mãe?


Mãe? Diz-me porque sinto este mal-estar
Que me arranha as entranhas
De tal sorte que me sinto fraquejar?
De nada servem rezas e receitas estranhas
Pois, o meu pulso pequenino e debilitado
Não tem forças para te acariciar o rosto
E até o som do martelar do sino desenfreado
Aqui na igreja próxima, se torna tosco,
Perto desta vontade louca que tenho de…chorar!
Mãe…diz-me porque estão as imagens
Adormecidas nesse mar de lágrimas
Que vão e veem…como se fossem miragens
De um livro vão…como se não tivesse páginas?
Mãe…sorrio e bebo uma última vez o ar que respiras
Que eu tanto adoro…mas ele caminha a passos largos
Para longe de ti…e eu não sei onde repousas
Os teus olhos…que me enlaçam em ternura…vagos
Neste sono no qual não quero mergulhar!!
Mas a luz do descanso eterno muito me atrai
E eu sinto que não vou demorar
Sorriso breve…dentro do teu olhar que se esvai…
E num remar contra a corrente ficou escuro
Mãe…? E nada mais…
Rosa Alentejana
(imagem da net)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Manhãs maduras do teu olhar



Sim, são maduras as manhãs de solidão e as suturas que me obrigam a costurar na alma que mordo e arranho pela penumbra da tua ausência…e nessa penitência, sucumbe-me o ar desfeito nos pulmões do desalento, que invade como mar em pedaços a esponja da incerteza, que não cabe mais nos riachos de lágrimas onde me contorço!

Sim, são maduras essas manhãs de nevoeiro cerrado a tule negro que se apodera de mim com o medo forrado a nuvens temporãs…que me cobre com o seu manto e me abraça e abarca o vazio sem luz, sem brilho, mas que me seduz…

Sim, são maduras as manhãs com cheiro a chuva e a terra molhada, que se encerram na janela trancada para o horizonte onde te vejo passar…e pago a promessa de joelhos ensanguentados na fragilidade do chão, carrasco da fonte inversa à escrita do meu pensar!

Ah! Se eu pudesse colher-te as manhãs do olhar suave, poderia morder delicadamente o fruto da chave desse coração…e num gozo eloquente, escrever um poema com o amor da gente, assim…não!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Bocas


Quando a Lua chega e me deixas entrar
Na constelação dos teus pensamentos
Fagulhas de desejo espalham-se no ar
Deixando um brilho sem constrangimentos

E entornam-se melosas auroras boreais
Nos céus voluptuosos das nossas bocas
E nos corpos a partilha de gemidos e ais
Juntamente c’ o amor exalado dessas trocas

Até esse quarto-crescente do teu belo sorriso
Bordado a quentes e brandas delícias salivantes
Embriaga esse sonho delicado de que preciso

Com essas ternuras que nunca são bastantes…
Como se a tua boca fosse do cálice que agora diviso
O mel viciante de que dependo a todos os instantes!
Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Paixão telúrica


Encosto o meu passado à beira da estrada e continuo o meu caminho.
Vejo com os olhos do rosto que as bermas estão pintadas com verdes puros e castanhos inebriantes…e com os olhos da alma, no meu pensamento, vejo o tom rosado do por que o sol entornou nas tuas faces…
E toda eu sou destino em nuvens de odores soberanos, incrustada em instantes do matiz do girassol, porque te venero em cores gritantes quando calas os meus lábios num suave arrebol.
E sou erva macia onde te banhas e te espraias…bravia quando te entranhas e contigo me arrastas!
E sabem-me os olhos ao azul que abraço nestas águas correntes, tal como o sangue me circula em torrentes de vontades ardentes…
E adoro quando desbravas a pureza das ervas em erupção, tal como a tua beleza surge renovada em cada estação. Quanto mais o tempo passa, mais te amo com a alma do coração…
E sei que não há lugar mais doce onde possa pousar estes olhos de menina a sorrir, da mesma forma que tu passas as formas mais perfeitas sujeitas às retinas que por ti sempre estarão a florir…
São estes olhos rendeiros da colheita do pão que abandonas à boca do meu coração. É com eles que vejo esta estrada segredada à beira do meu destino, sem certezas, mas com paixão!
Rosa Alentejana

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Piano de solidão


No mapa do rastreio insensato
desta imensidão
compactuo com o anseio
que devasta a eito
alma e coração.

Perdi-me entre a frase feita
e a estrada de sentido único do teu olhar,
onde a curva direita da tua boca nua,
enfeitada de rubor,
se esconde do abraço da minha lua,
vazia de amor…

São becos sem saída,
onde não nascem flores,
onde os resquícios dos desejos
me deixam comedida,
parca de carinhos,
viciada em vícios escarninhos,
numa existência entristecida de tanta dor…

Inventa-me a estrela guia
para o desassossego
das teclas deste piano moribundo,
e ateia-me o fogo perdido
na monotonia em dó maior
onde escuto o meu mundo…
melodia equivocada
do ruído das lágrimas
sobre o meu suspiro mais profundo.

E toco a brisa corrente
do perfume aprisionado em ti,
folha triste e caduca
que eu nunca senti…
e acordo do sonho
que nunca viste
com o travesseiro morno
de silêncio e aquele frio
vadio e derradeiro,
onde me inspiro
para escrever
o único acorde
que considero verdadeiro: só(l).

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Quem quer saber do amor??

Não me falem naquele Cupido
Com as suas fraldas e as asinhas…
Com ar de santinho, é um bandido,
Que merecia umas “palmadinhas”!

Faz-se de sonso, olhar ternurento,
De flecha em punho e seta “certeira”…
Não acertava sequer num jumento
Se lhe aparecesse diante da “focinheira”!

Não me falem em “amor à primeira vista”!
Que esse nem vê-lo pelos binóculos…
E nos beijos na boca, nem insista…
São pérolas caras, deitadas a porcos!

Não me falem naquele S. Valentim,
Que celebrou “escondido” tantos casamentos…
Aquele Bispo matreiro e “chinfrim”,
Que causou tantos constrangimentos!

Apaixonou-se por uma menina,
Escrevia-lhe cartas e fez milagres…
Quem admite isto…alucina!
Mais uma lenda para acreditares…

Não me venham falar dos cartões
Do Dia dos Namorados, todos melosos
Carregados de perfume e corações…
São doces insossos e até perigosos…

Não me venham com as cartas ridículas,
Cheias de frases mais do que pirosas…
São mentiras gastas, por vezes profícuas,
Que nos contam balelas em forma de rosas!

Não me mostrem os tons de vermelho
Das faces das pequenas, que estou zangada!!
Isso é um truque adolescente, já velho
Para mostrar a pureza das moças “abusadas”!

Quem me dera ser eu o Adamastor,
E com um sopro apenas, poder afastar
Todas as formas falsas do falso amor
E secar as lágrimas de tanto chorar…

Não me venham com tretas de amor bendito
Que, se esse existe, eu quero provar…
Mostrem-me o amor que é correspondido
Esse sim, que venha, que eu deixo-o entrar!

Eu até lhes mostro o lugar preciso
Onde fica escondido o meu coração
E que venha S. Valentim, ou o Cupido
E me provem essa tal “Lei da Atração”!!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A luz do corpo teu


Enquanto as nuvens se deitam
aos pés do sol moribundo,
venerando a fuligem do dia
que se espraia em apatia,
ergo o olhar um só segundo,
na fé que o amor me deu,
e antecipo o perfume do luar
inscrito a estrelas no rosto teu!

E nessa pele macia e morena
gravada a desejos no tato
da minha boca
sou brisa doida pelo vento
emanado dos teus olhos
quando, sem tempo,
me tocam e deixam louca…

E é no compasso dessa espera,
onde encosto a fronte quente
e febril,
que sinto a distância do espaço
entre o levante do teu mundo
e o meu ensejo pueril…

E se o orvalho se vier instalar
entre as íris deste fogo brando,
meu amor,
não foi porque a noite me veio beijar,
foi um simples deslizar da dor
vinda desta insensatez
que me vai queimando...

E não culpes as noites enluaradas
pelos meus ais mais profundos…
É essa a tua poesia a reverberar
nas telas pintadas pelo traço meu
e onde me deito como pobre
vagabundo
em busca da luz
do corpo teu!
Rosa Alentejana

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Tivesse eu asas…


Vapores vagos vagueiam
na mente do meu sonho…
Meliantes do abandono
a que votaste o meu ser…

Sozinha sinto o saque
ao doce mel dos meus abraços
e já nem te ouço nos passos
que o baque do grito
viveu…

E eu…
percorro a planície profanada
nas curvas onde me perdi,
pois, longa é a empreitada
a que, triste, me rendi…

Com a água rasa nos olhos
rasgo as ruas e as estradas
no dilúvio em que aluí
sem sortes bafejadas…

Corro e corro sem rumo
ao sabor da dura bruma
tivesse eu vida…
tivesse eu asas…
na mente do meu sonho!
Rosa Alentejana
(imagem da net)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Arte de mordiscar…te


Mordisco o lábio da palavra alada,
como quem lambe o infinito
da verdade segredada, desejada…
não é ruído, nem grito, nem nada,
é o murmúrio embargado,
colado à tez do verbo soletrado
em sílabas silenciosas,
perfeitas como rosas harmoniosas
de inverno, exalando o perfume eterno
de quem sabe o que quer!
Mordisco a carícia dos olhos,
quando coloco cada acento circunflexo
no modo de escrever cada verso,
na forma de embarcar no amplexo mudo,
mas inteiro,
quando fazemos sexo,
entre aspas…
porque cada gesto perde-se
quando te afastas!
Mordisco levemente o luar dos teus beijos,
transportados nas estrelas cadentes
das reticências dos meus desejos,
lambuzados de indecências escondidas…
abandonados à sorte da escrita…
onde morro a cada novo anoitecer!
Rosa Alentejana

(imagem da net)

Fado triste


Caminho pelas ruas
em passos arrastados…

Segurando o tempo
nas mãos,
de pés nus, feridos, cansados…

Um gemido sangrento
brota consternado
dos olhos,
revelado pelos grãos de pó
arranhando cada doloroso
lamento…

Na voz trago o silêncio
consumido, velado
no procedimento
normal e sincopado
de quem sofre os resquícios
do vento…temporal
que emaranha
os meus cabelos negros
despenteados
pela solidão
neste desalento
do horizonte longínquo,
frio e atormentado…

E este vestido negro
e rasgado
amordaça-me o corpo desnudado,
febril de pecado,
enredado no arrendado dos dias
cinzentos, amarrotados,
presos na trama dos gritos
cortantes e gelados
da dor
do fado.

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quarto só


Estou envolta em lençóis de penumbra
no quarto esquerdo
de quem vive com os pés no chão.

As minhas janelas são feitas do negrume
que deslumbra o eco perdido
nos passos ausentes da mágoa,
sem ressurgimento possível.

E tanto faz,
se me enterro no colchão
do silêncio em apodrecimento,
ou se aterro o rosto na almofada
resignada de tanta solidão…

Os meus olhos são de cristal baço
no colo desta triste enormidade
e tenho os seios encrespados
na dormência cansada
de tanto me alimentar do “não”…

Tenho o ventre rasgado
na raiva do soluço que choro em vão…
e as minhas mãos são leitos ressequidos
de rios de lágrimas que foram
inundados por fraquezas
exaradas pelo entendimento!

Já não quero o meu coração…
esse que exangue bombeia
sentidos ocos às veias vazias…
ofereço-o às trovas cantadas pelos poetas,
esses falsos profetas
que encantam a mentira das rimas…
e no final,
apenas ofertam a mesma sina
à lua aleivosa e petulante,
pois não existem mais sonhos para viver…

Estou nua…neste quarto
fadado para não mais renascer!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Devir


Apenas o latejar das palavras mudas...
das desculpas inaudíveis...
elas descem pelo rosto da tarde
numa nascente que se fez mar...

Apenas a solidão é um véu ténue
que arde na pele
e começa a evaporar
a fantasia
no futuro do agora
sem forças para retornar...

Apenas a chuva...água e estrada molhada
da insónia
da noite anterior...
e aquela moinha que faz a mágoa
nas feridas
e a dor...a dor…

Apenas o balançar desgovernado
do barco remando
contra a maré
e o abalroamento
que faz do equilíbrio
o lamento
que não permite
ficar em pé...

Apenas o som gotejante
e ensurdecedor
que as penas fazem
ao cair
no cérebro em carne-viva
faz acordar o odor
a terra embebida
em devir!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Artesã de sonhos


As tuas mãos de pano gasto e desbotado pelas intempéries roçam o tecido delicado e transformam os meus sonhos em vestidos encantados!
Atenta, sigo cada ponto, costurado com toda a ternura, escutando a ladainha que o conto faz na tua máquina de costura…
Sorrio aos caminhos traçados pelo tempo no teu rosto, tens tantos factos passados guardados em gostos e desgostos…
Contas-me do encanto que a luz do dia tem nos teus olhos cansados, na suave melodia da linha na agulha, passando pelos tecidos baratos.
Olho o trabalho terminado com orgulho em ser tua neta…um dia vou ser como tu…uma artesã de sonhos velhinha, amorosa e discreta!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Nuvem plúmbea de silêncio


Aquele silêncio queima-me a pele
numa ânsia que não nomeio,
porque me mata e leva com ele
o fumo do cigarro feito de solidão,
que fica na madrugada arquejando
nos dedos trémulos da mão…

Aquele silêncio arde-me nos olhos tristes,
num brilho incolor, em planícies cobertas
de rios de colheitas amarguradas,
infecundas, secas de amor…

Aquele silêncio anestesia-me a mente,
cortando as sinapses nervosas,
de forma inclemente, num abandono
de lágrimas ao vento, gritando, gemendo…

Aquele silêncio mergulha-me no mar alto,
sem pé, sem abraço, sem sorriso,
num cansaço sem fé, ou corda ou laço…
E eu sem ar respiro, sem fé rezo, sem ti…
sou apenas uma nuvem plúmbea de silêncio.

Rosa Alentejana