terça-feira, 29 de setembro de 2015

Altruísmo


Quando o sofrimento reverbera
No rosto de uma mãe que corre
Riscos de uma vida que escorre
P’lo desespero que a sorte impera…

Fica-me o coração despedaçado
Tomando consciência da fragilidade
De uma criança que não tem idade
Para carregar um peso tão pesado!

E ocorrem-me à memória “direitos”
Que ficam escritos no lindo papel
Mas que a luz ao fundo do túnel
Não serve para nos deixar satisfeitos…

Dói-me tanto o descontentamento
Dos que morrem sem ter consciência
Das maravilhas que a velha ciência
Implanta nas mentes do momento!

Enquanto uns passeiam nas redes sociais
Preocupados com as poesias “indecentes”
Outros fogem com os seus descendentes
De mortes tristes e injustiças descomunais!

Que inquietação tamanha seria
Viver num conflito desconcertante
Com um medo puro e constante
De virem buscar nossos filhos um dia!

Colocar uma arma nas mãos de meninos
E fazer deles soldados na longínqua Somália
É como fazer sentir uma eterna represália
Nas feridas abertas dos corações maternos…

São as mulheres perpetuamente assediadas
Que se apressam a sair daqueles países
Onde as perseguições as tornam infelizes
Psicológica, física e sexualmente abusadas…

Sofrem os homens constantes ataques
Por contrariarem um regime político
Onde é morto quem tem espírito crítico
Deixando famílias órfãs e carentes…

Detenhamo-nos, pois, no altruísmo
Na ajuda a ser reposta a igualdade
A quem precisa da nossa generosidade
Para ter um pouco de paz sem extremismos!

Rosa Alentejana Felisbela
29/09/2015
(imagem da net)

domingo, 27 de setembro de 2015

Ilumina-me e faz-me crescer!


Oh Zeus que sobre o cume dos cumes mais altos nesse Olimpo distante estás sentado!
Agora que terminou a primavera dos poemas cobertos do deleite da ambrósia e frutos silvestres, neste outono da vida, que me cobre o olhar de prata e ouro, atenta!
Repara na crosta de rugas que me cobre o tronco e diz-me quanta dureza ainda se espraia sobre a minha fronte, e eu mereço-a?
Bem sei que, por vezes, o vento torna-se agreste e envolve-me os sonhos de ruídos assustadores, de uivos agoirentos e do ribombar estridente dos trovões, enquanto as bátegas, zangadas, tentam vergar as minhas emoções, e os gritos da tempestade fustigam os meus ouvidos…
No entanto, nunca te esqueças das minhas raízes profundas no barro que tão bem conheço, feitas do ferro de que a idade me fez herdeira…elas dão-me de beber a fantasia e a inspiração que mereço, bem como a vontade de viver!
Sei bem que os meus ramos crescem na direção dos céus em prece e que já foram cortados (como a liberdade) vezes sem conta, mas eles são como os braços da “estrela-do-mar”, renascem sempre mais e mais com vontade de ficar! Sou prisioneira da vida, o que me deixa com o coração a bater de seiva bruta plena de amor…
Esses ramos encontram-se, agora, cobertos de folhas coloridas, que refletem o arco em íris trazido pela chuva, rubras do desejo que pousa sobre o pote de ouro onde mergulho e busco as letras com que escrevo para me entreter! Cubro-as com o pó que as musas soltam e invento alegorias quando a lua vermelha me vem ver…
Zeus, ilumina-me e faz-me sempre crescer!

Rosa Alentejana Felisbela
27/09/2015
(imagem da net)

domingo, 20 de setembro de 2015

Suave perecer dos sentidos


Enamorada
pelo olhar que tentas segurar
e encantas
e enlaças
e enlevas
e envolves
e enfeitiças
no suspiro que tento
reter

Enamorada
pela boca com que
me atentas
à fome
à sede
à lentidão
à lascívia
que soletro
sem perdão
no âmago do prazer

Enamorada
pela pele que provocas
quando tocas
e consegues
derreter
com mimos
com mãos
com mordidas
com malícias
e carícias
que nem tento
suster

Enamorada
pelo vício
que crias
no bulício
das ancas
das pernas
quando me arrancas
o gemido
contido
sentido
no ventre
nos seios
no ouvido
e quando me acompanhas
no doce amor
no suave torpor
no infinito perecer
dos sentidos.

Rosa Alentejana Felisbela
19/09/2015
(imagem da net)

sábado, 19 de setembro de 2015

Meu mar de sonho


Meu mar maravilhoso, sereno e manso
Minha vaga lenta que não me canso
De ver sempre chegar, de ver crescer…

Minha espuma branca e perfumada
Tocada pelo belo sol ou enluarada
Na minha praia de encantar, de prazer…

Minha areia amarelinha, criança traquina
Brincando nos recantos da menina
Que sou e que fui e continuarei a ser…

Minha alga colorida, branda e macia
Envolta em tanto sal, mel e ousadia
Mareando o meu corpo num terno entender…

Minha estrela-do-mar anil e flutuante
Perco-me nos teus braços a cada instante
Para sempre em meu corpo te quero prender…

Minha anémona linda, minha amálgama
De tão doce doçura que me tira a calma
no amor sem nexo, no sexo que só nós podemos fazer…

Meu cavalo-marinho enamorado e alado
Cavalgando, sem rédeas, o meu corpo suado
Que a minha alegria se regozija de ter…

Minha concha de rocha mais quente que fria
Aconchega-me e aquece-me na tua poesia
Escreve-me versos no meu humilde aprender…

Minha gota, minha bátega, meu “favo de sal”
Recebo-te inteiro, no nosso abraço especial
Nesta pele de trigo, oásis que sonhas voltar a beber…

Sonha-me sempre e nunca me irás perder!

Rosa Alentejana Felisbela
19/09/2015
(imagem da net)

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A constelação do Golfinho


Quando te digo que és a âncora que me segura a este mar-chão desejoso de ser conquistado pela esperança dos sonhos, julgas que não estou a falar a sério. Sei bem que tenho remos e que não existirão apenas vendavais a levantar ondas abissais, e que também existirão dias de calmaria, de bonança no equilíbrio de horas periclitantes. Porém, depende de mim e das velas que norteiam os sentimentos que nutro, o rumo da minha embarcação. Neste momento voo sobre ondas infinitas de prazer na tua direção. Mergulho nessas águas cristalinas dos corais que descreves com essas mãos de marinheiro-doce e deixo-me afogar de amor, amor, amar, amar…enquanto o êxtase se espalha e espelha no meu olhar, e ficas a brilhar na minha pele dourada e arrepiada de ternura! Só tu enfeitas o meu corpo de pérolas cintilantes de desejo. Sinto-me nereida de cabelos de algas ao vento, quando enleias os teus dedos num afago meigo como vagas, nos meus pensamentos mais íntimos sempre que deito a cabeça no teu colo. E sinto que tudo posso. Não posso? Só tu me contas as histórias que me embalam durante a noite e me fazem sonhar com esse mundo onde o oceano nos é eterno de partilha. Só tu perdes o teu tempo num discurso onde os sons do mar marulham e compreendem os meus porquês. No fundo, sopras-me brisas delicadas de entendimento na profundidade que assumo como nossa e que, jamais, alguém entenderá. É o nosso capricho, proibido por Poseidon de tridente na mão, mas abençoado por Nereu, na sua infinita sabedoria e justiça. Apenas porque somos metades de um todo uno, a estrela mais radiosa na constelação do Golfinho!

Rosa Alentejana Felisbela
17/09/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Queria que fosses a chuva


Chove no pedaço de chão
a que chamo meu.

Se fosses tu…

Quem dera que fosses o vento
que hoje despenteou os meus cabelos
e amarfanhou as minhas roupas,
revirando-me inteira,
tirando-me o ar
como se um temporal de prazer
ficasse aninhado por dentro de mim!

Mas não foste tu…

Como eu queria que as nuvens escuras
que toldaram o céu
fossem a tua sombra
e me abarcassem o corpo até à alma…

Mas não…não foste tu…

Que bom seria se me chovesses
desfeito em gotículas de carícias…
se te entranhasses na aridez da pele
e me hidratasses os poros
enternecidos por te receberem!

Mas não és tu…

E, por isso, fiquei ali…no meio da rua,
perdida,
a sentir o barro nas entranhas,
frio de nevoeiros
de tempos passados
e presentes ainda…

E o meu presente não foste tu…

E foi então que te pedi:
desfaz-te na borrasca
dos sonhos que sonhamos
e deita-me novamente no leito
do rio…
e que o ciclo recomece
num romance
que é meu
e teu
tão doce
e bravio.

Rosa Alentejana Felisbela
16/09/2015
(imagem da net)

domingo, 13 de setembro de 2015

Na cápsula do tempo


Penso

que me fugiram as palavras da ternura
para parte incerta…

perdidas entre a língua e o palato

ficou a saliva
do desejo
que não vês
nem te importa

e agora

olhando as mãos tristes
e cansadas
da tua ausência

despreocupada

perpetuo a sede
que sinto
num último poema de amor.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Sonho na realidade


Amanheceu e hoje não me importam as palavras sobre a mesa do café, porque a manhã partiu sem um “amo-te”, nem deixou um beijo a arrefecer. Mas nem a mágoa certeira de quem a chora me faz molhar as mãos, simplesmente porque já não sinto. Sequer me vou martirizar pelo simples afago nos cabelos que não se ajeitou à pobreza do meu pequeno-almoço. Já não ouço as notícias da vizinha do lado colada à janela a pisar as folhas ainda brandas das lembranças. Nem me importa o cão que ladra ao meu lado, por causa das magras gotas de água que caíram no quintal. Apenas vou sorrir. Vou sorrir à flor perfumada que me doaste através das pontas dos dedos soltos à brisa da minha esperança, tantas vezes perdida. À chama que inventaste na minha boca, como dilúvio quente penetrando na minha realidade de veias intrínsecas ao coração. À suavidade que entrou abruptamente na loucura da minha pele. A esse derreter exausto de tanto evitar querer…mas que cedeu vagarosa e ternamente à maravilha das palavras ocultas no dicionário de nós. Ao suspiro que a boca arquejou quando o fogo do teu sonho abriu caminho entre vales suspensos há tanto tempo, que a língua igualava a rocha muda do chão que os forrava. Ao entendimento que suportou o discurso anelando as paredes caiadas de tristeza e que as pintou com as cores do arco-íris, de todas as vezes que imaginávamos uma ponte. Às tardes e noites em que não me vendaste o brilho, mas que tanto queriam transbordar de quimeras… Ao banho quente com pétalas de rosas emaranhadas nas nossas vontades inquietas por um sopro de amanhecer… E volto a sorrir ao dia que vive em mim, por tua causa, e à energia que não desiste de um dia…um dia…acontecer!

Rosa Alentejana Felisbela
13/09/2015
(imagem da net)

sábado, 12 de setembro de 2015

Perfume a rosas


Dedilhei o espaço entre as linhas escritas pelos teus dedos quando penetraste a folha de papel num arriscar de tinta e loucura…e suspirei. Por não haver espaço para inspirar o tempo entre uma sílaba e outra, ganhei palavras e despendi-as nesse arrulhar próprio das frases criadas com o propósito escondido, sufocado, do nosso amor. Amarfanhei o compromisso do acordo ortográfico, porque ele já não me basta para te dizer o que sinto. Que se calem os olhares dos poetas. Que os rios de filosofias derretam sobre as ruas das nossas vidas, num confesso medo acolhido pelos nossos corações, de mãos abertas pela generosidade. Saciemos a fome do espírito, em letras inventadas, em refrões banais que nos comovam as almas, de asas leves e soltas, beijando o céu das nossas bocas. Que a promessa da prosa se rasgue numa miríade de pérolas que te ofereço nestas singelas linhas que te escrevo com o perfume das rosas entre os meus dedos…amo-te.

Rosa Alentejana Felisbela
12/09/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A pureza do nosso abraço


Nada é tão puro quanto o nosso abraço. Nada é tão perfeito, porque apenas as nossas dermes possuem um mesmo latejar, uma simultaneidade impregnada de certeza no desejo do outro que transcende as cores das auroras. E são elas que levantam os véus do silêncio entre as nossas bocas num compasso terno de entendimento. Só os pássaros voam o nosso voo de liberdade nos gestos, porque é deles a vontade de pousar ali e não noutro lugar. Como se esse fosse o pacto mais correto a assinar pelos nossos corpos nessa eterna capacidade que têm as nuvens de desabrochar o perfume a eucalipto de dentro das nossas lembranças. Porque elas são feitas daquele algodão imaculado com que se tece a magia, bordando os lábios numa perfeita sintonia. E depois…existe o contacto perturbante das nossas faces e o estio que reverbera no remanso das searas das nossas mãos, como se o vento acariciasse as espigas da nossa voluptuosidade e nos arrastasse para a cor de que são feitas as papoilas. Certamente haverá uma tempestade a romper do abismo do nosso amor…é uma questão de segundos até que o sol incendeie definitivamente o nosso beijo e o leito da nossa existência abra definitivamente as portas do nosso dia. E será certamente um belíssimo dia.

Rosa Alentejana Felisbela
11/09/2015
(imagem da net)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Balanços mal calculados


Fraca é a vontade
que se agarra àquela mão
volátil e mensageira da verdade
de um lúgubre senão…

Vestígios de insanidades e manhas
remoem as antigas alegrias
insalubres e estranhas
feitas penas, fantasias…

Cálculos de desejos roubados
em folhas de balanços mal calculados,
sentimentos de duplas entradas
assinalados em cruzamentos de estradas
onde o risco do abandono
é hediondo, é tamanho…

Que mesmo no ajustamento
de curvas, nos assolam o pavimento
urdido e gasto pela mão
sinónimo de análise de correlação…

Mas fina linha de associação ilusória
onde se gasta e agasta a nossa história
pela barreira absorvente
da probabilidade inexistente
do coeficiente de confiança…

Que se tornou numa lembrança
motivada pela curva de regressão
onde deixamos a solidão
ou seria apenas erro de amostragem
de um fraco e fino fio de coragem?

No fundo faltou a filtragem
por uma parca hipótese nula
onde a independência rotula
o limite de confiança…

Afinal, bastaria um nível de fiabilidade aceitável
perante a sensibilidade tolerável
e emergiria sem falhas…

Mas estas existem e ardem como palhas
num campo quente de estio…
E agora, o campo é estéril ou de pousio?

Rosa Alentejana Felisbela
08/09/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Num só


Cada razão é abrigo para as nossas vozes,
como se fossemos capazes de interditar
o tempo numa magia venerada
pelas nossas mãos!

Só assim me sinto feliz,
daquele tipo de felicidade intacta,
inteira e bela…como um escrito teu!

Cada sorriso é um marco
que o mundo jamais conhecerá
por ser só nosso,
por sermos dois
a utilizar as bocas numa só,
por sermos os únicos
solitariamente febris
pelos beijos
extasiantes na distância
de um poema meu!

Cada abraço é a tela pintada
pelo por do sol alentejano
numa ponte qualquer,
enquanto o rio percorre
o seu curso
num suspirar irregular de tanto amor,
de tanto amar…

Cada olhar é a roupagem
que veste o sangue
da ternura sem par,
daquele desejo ímpar,
daquela pressa
que invade a mente
quando o toque começa a despertar…

E existes tu na minha prosa,
existo eu nas letras
contaminadas
pelas fases da lua no seu brilhar
contínuo sobre os amantes…

Rosa Alentejana Felisbela
04/09/2015
(imagem da net)