sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O coração


O coração:
janela para as emoções
no trinco da saudade

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Vazio


Dentro do vazio
que sinto
tudo está quebrado

uma recordação
um sorriso
um instinto

as rosas por podar
e o coração cansado

um perfume
um paraíso

e um mundo
de emoções
sempre a ser moldado!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Rastilho aceso


Tu sabias do espaço exíguo
onde dependurava a memória ardente
dos teus lábios

sabias do caminho obstruído
pela luminosidade do poente
presa na flor-da-laranjeira

e sabias da música plangente
que ficou depois da desordem
dos sentidos

e já sabias do sopro distante
das tuas mãos ao pousarem
levemente nos pátios
abertos dos meus ombros

mas insististe no rastilho aceso
na palha seca do meu nome
e no silêncio chorado
-única pétala de inocência-
florida nos meus olhos!

Rosa Alentejana Felisbela
28/09/2017
(imagem da net)

Pequena palavra


Sinto-me uma pequena palavra
fechada no casulo da ilusão...
com dúvidas se alguma vez
chegarei a poema (o teu)!

Rosa Alentejana Felisbela

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Love me like you do

Há amores...


Há amores que deixam
como recordações
apenas palavras
que mordem os lábios
de tanta saudade!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Percurso


Tece-me coroas de vento
nos cabelos soltos
e sopra-me momentos
na pressa das nuvens

Enlaça-me tranças
com os dedos tontos
de tantas lembranças
nas tardes nuas

Abraça-me os montes
percorre-me as curvas
na saudade do espelho
calvo do retrovisor

E se um dia voltares
não percas o sul
da bússola do amor…
afasta as cinzas turvas

e não deixes chover
a não ser beijo a beijo
no banco de trás
onde o molde dos corpos
seja o eterno condutor!

Rosa Alentejana Felisbela
27/09/2017
(imagem da net)

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Acredita


Acredita que adorava ler
as entrelinhas que vejo nas estrelas...
mas perdi o dom de imaginar.
Ensina-me os sons que devo ouvir
e as letras que devo estudar!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Parto


Visto-me de nuvens
de suspiros e parto
das entranhas
para junto desse lugar
onde o amor me é
caminho e esperança
mesmo sem razão...

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sede de ficar


E há uma sede de matar
a saudade de entrar no olhar amado
e ficar...

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Promete...


Promete-me a cor tranquila
do amor antes que a rocha
se quebre pelo embate do mar
-vírgula que a areia incendeia
nos versos de tanto amar.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Obra-prima


Conheci-te
antes de te ver

soube-te choro de mãe
em branco cru

foste
grito vermelho, devaneio
de paredes velhas

-náusea e cheiro-

abraço nu

e abriram-se
trémulas lágrimas
cintilantes
sobre o leito

e um sorriso franco
em jeito de encanto:

amor primeiro!

31/08/2017
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Senta-te junto a mim

Senta-te junto a mim
e ouve o som das folhas
a cair...
não há nada mais belo
que a chegada...
do outono!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Amoras


Sempre que te sonho

- inusitada inundação-

de carícias de aromas
de lábios lentos

- sedução -

saliva-me o fruto
proibido e oculto
das amoras

da perdição

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

domingo, 24 de setembro de 2017

Silêncio precário


O silêncio precário
esconde-se
no punhal vivo
que tens nas mãos

e o suspiro
temerário
na escalada
beijo a beijo

que conservas
poro a poro
no vulto escuro
do fadário
da ilusão…

a doce penetração
que cravas
na gruta escura
da neve da solidão

e vergas a sombra
tão clara
como seda

e o orvalho
que brilha
profundamente

e a alegria que nasce
louca
de nos amarmos
perdidamente…

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sábado, 23 de setembro de 2017

O vendaval da tristeza


Na doçura
da cor da cal
murmurada ao muro
da cegueira
há uma loucura
inquieta

No labirinto infernal
dos tijolos
e rebocos velados
pela luz eterna da lua
há uma fraca
silhueta

Abandona o sabor
branco
bebendo o cálix
do veneno
salientando a espiral
soturna

E no vendaval da tristeza
sobressai
o ébano
a urna
onde o corpo
se deixa adormecer

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Negra náusea


Há um ciclo de sangue
a esvair-se
lentamente

e da mão aberta
desdobra-se
a solidão

dissolve-se
o gesto
ausente de ternura

e a eterna procura
da pedra dura e lisa
onde a nuca
adormeça
com a divisa:

jazem as espáduas
o peito e o ventre
sossega a sofreguidão
de sofrer

e é negra a náusea
e o sorriso morre
de tanto anoitecer.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Amar do muro mais alto


Amar-te é subir
ao prumo desnivelado
do muro

e num assomo
de paraíso

deslizar e cair

mais leve
e imatura

a boca dilacerada
de beijos

o corpo rendido
à loucura

o ventre
acordado

e a íris dilatada
de tanta ternura

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O fardo da distância


Sinto a memória do cardo
acordada no sabor

e no feno aberto ao ar
o labor exausto do odor

a chuva lúcida e breve
e a brevidade da infância

quem dera o fardo
para descansar

e a água fresca do poço
percorrendo os veios

da distância…

Rosa Alentejana Felisbela
( Monsaraz sobre o Alqueva ao pôr do Sol- photo: Luís Pedro Morais)

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Ilusão de letras


Primeiro o enfoque
substantivado na objetiva

e a correnteza das letras
enrolando as palavras
em movimento giratório

voragem cativa
das aves

e um tema alado
aleatório

depois o voo encantado
na poesia

e o choque na nuvem
do fingimento
real num clique

numa imagem
metafórica

numa foto
de um local mágico
ilusório


Rosa Alentejana Felisbela
15/09/2017
(imagem da net)

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

As ondas


As ondas são meninas
Marotas e sabedoras
Tanto enchem salinas
Como apagam as horas

Banham o mais pequenino
E banham também o maior
Sensato, louco ou libertino
A todos com muito amor

Roubam a parte de cima
Dos biquínis das mulheres
E ninguém as recrimina
“só lá vais se quiseres”

Às velhas beijam joanetes
Às novas os fartos seios
Fazem de todos “joguetes”
E não olham a meios

Aos meninos roubam brinquedos
E é vê-los logo a chorar
Porque elas inspiram medos
A quem não sabe nadar…

Rosa Alentejana Felisbela
05/08/2017

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

História frutificada



Percorre o sangue
das veias das árvores e pensa!

Quantos sonhos sonâmbulos
se vivem na sombra das folhas?

Entre a seiva líquida
escorre um número inconfundível
de beijos
e pelo caule sobem os abraços
inumeráveis…

Acaso confundes o verde
com a esperança
do germinar da flor?

Pesa a espera das pétalas
na balança do coração
e equilibra a estrada que a memória
conduz:
pisa as conjeturas e semeia
sentidos no pequeno
pedaço de terra que resta.

Talvez assim subsista o perdão.
Talvez assim frutifique
a história!

Rosa Alentejana Felisbela
26/08/2017
(imagem da net)

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Dúvida


Há uma rota inserida
nos passos que dá a chuva
que calca que lava que aduba
as memórias as decisões
as dúvidas
e num “ping ping” dividida
questiona o vento
moribunda:
“sou poça de alegria relativa
ou mar de tristeza
profunda”?

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Ao fim e ao cabo...


Enquanto costuro
um poema
farfalham-me
sons aos ouvidos

agulha firme
seda serena
caxemira transparente
aos sentidos

um dedal de sonho
que procuro
e uma linha aprimorada
no embaraço

e tudo se reduz
num farrapo
de segredo…

no teu abraço

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

domingo, 10 de setembro de 2017

Resgata-me


Resgata-me a renda
aberta
de par em par
e ombreia a luz que cintila
nas janelas
do teu olhar

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Fantasia reinventada


Desvenda-me a rima
prostrada na linha
acima da folha

e afaga-a
como quem olha
a mulher amada

surpreende a pontuação
e demarca
a cerca às lágrimas

num sossego reinventado
como quem efabula
as páginas

Rosa Alentejana Felisbela
(carvão s papel de aguarela
Judith, de C Brook Hobbins
2012)

sábado, 9 de setembro de 2017

Mãos de poeta


No elixir das mãos
a alquimia das rosas:

caem sépalas
em forma de versos

caem pétalas
em forma de prosas

e da harmonia
exalada

o odor do desfolhar
das palavras poderosas

um amor
in albis
em botões de emoções

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A poesia do teu sotaque


A poesia é vaso delicado
contendo versos pronunciados
pela doçura da tua Língua:
ramagem bordada
ponto a ponto pelos teus dedos
à luz ténue do crepúsculo!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Braseiro


Luz à luz da lua
trémula tremura
ao longe
uma chama

- archote?-

num campo
de espanto

num canto
o eucalipto
no outro
o sobreiro
ali a cortiça

- das cinzas
o cheiro-

um cavalo
a trote
levando
o mensageiro

- má sorte?-

o fardo
da culpa
a palha
que se espalha
na noite
ardendo

o teu nome
na boca
do nascer
do dia
inteiro
morrendo

renascendo
braseiro

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O teu Palácio de sonhos


Desdobram-se as ondas
abrindo o leito de espuma
ao espanto do olhar

e a areia, qual poalha estelar,
feita com estrelas do mar, acolhe
os corpos celestes cansados

uma promessa de sombra
prolonga-se na toalha verde-água
e arqueia as costas,
qual gato a ronronar

o tempo segue como molusco
passeando sobre
os relógios-de-sol
em caracol, na espiral das sensações

o sol beija os seios das sereias
sem rodeios, e transforma-os no bronze
que o olhar saboreia (como mel) no rosto
dos homens

há um sorriso côncavo nos braços
dos namorados, como peixes
alienados na arte do pecado
coberto de escamas suaves

depois pendura-se o horizonte
no Olimpo encoberto pelo véu diáfano da Lua
e viveste mais um dia
no teu Palácio dos sonhos!

Rosa Alentejana Felisbela
08/08/2017

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Súbito instante

Súbito instante

Pincelei de azuis
a estrada para ti
caminhante

Debrucei-me no cais
embrulhada na tua voz
de navegante

No cordame
depositei a fé
que mereces

Soltei os olhos
romeiros do horizonte

Encantada
emergi sereia
cantando a música
do mar (que conheces,
de trás para diante)

mas as tuas pegadas
evaporaram na espuma
naufragada na areia triste
num súbito instante.

Rosa Alentejana Felisbela
04/08/2017

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Emaranhado


No cordame
da minha memória
há um emaranhado
que me cativa
espalhado no branco
do barco
que me mantém viva

Amarro um beijo
à proa

Das vagas faço calmaria
e aguardo a brisa
da saudade boa

Das velas
faço a minha melodia

e no vai-e-vem balançando
ao ritmo dos acontecimentos
vou esperando

esperando
o teu abraço
de porto-seguro
ou de maré viva?

Rosa Alentejana Felisbela
05/08/2017
(imagem da net)

domingo, 3 de setembro de 2017

Puta de vida


O banho não lava
e o corpo
só cava mais fundo
as imperfeições
do diamante

Enfeita a pele
com brilhos e disfarça
os trilhos
feitos pela vida
agonizante

Coloca um bambolear
provocante no tacão alto
nos píncaros
da oferta e a graça
que vende no vestido
vermelho-coração

Sopra um trejeito
suspeito no cigarro
aceso
sobre o batom ousado
e esquece a palavra
“não”

Obedece às leis
do chulo
e decora a esquina
- a vitrina - a que
emprestas a saúde

E vês passar
o estalo, a lágrima,
a nota, a saliva,
o sémen e o nojo
- tudo e nada -
amiúde

Rosa Alentejana Felisbela
07/08/2017
(imagem da net)