terça-feira, 28 de abril de 2015

Fascina-me o teu sorriso


Fascina-me o teu sorriso
e a sobrancelha levemente pousada
sobre o erotismo dos meus verbos
quando descobres a vontade velada
pelo véu luxurioso
que inscrevo nos versos.

Fascina-me o teu sorriso
e o arrepio de desejo na minha pele,
quando os teus olhos me beijam,
pedaço a pedaço,
namorando o licor entranhado
nas vogais roçando
as minhas palavras de mel.

Fascina-me o teu sorriso
e o sotaque atrevido
da tua língua sorrateira,
quando me lambes os sentidos
escritos
nos sinónimos transcritos
da minha míngua.

Fascina-me o teu sorriso
e os lábios de fruta vermelha suculenta
que exibes sob a forma de paraíso,
mordendo as minhas frases numa leitura
quente e lenta
misturada de encantos
e de ternura.

Fascina-me o teu sorriso
quando te canto a música
que nos embala
na saliva trocada
pela fome
que a tentação
pintada nos muros
já não cala
ou quando sussurro
ao teu ouvido
o teu nome.

Rosa Alentejana
28/04/2015
(imagem da net)

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Apenas poesia


Reconheço-te nas palavras entranhadas
nas entrelinhas moldadas pelo teu olhar
e entendo-te favo do mel consagrado
que eu quero tanto provar

Reconheço-te menino doce e ladino
de modos sinceros e sorridentes
transbordando de romance e destino
marcando os meus dias imprudentes

Reconheço-te face da minha face
na vontade da minha vontade
aguardando o desenlace
que nos trará…quem sabe… a felicidade

Reconheço-te as mãos ternurentas
compenetradas na minha pele morena
quando a fome me sustentas
numa louca ousadia serena

Reconheço-te beijo delicioso
nos lábios risonhos do meu dia
encaixe belo e harmonioso
na minha metade da parceria

Reconheço-te pele da minha jovialidade
quando a carícia distante já não me basta
e o que conta é a nossa afinidade
sem regras, sem tempo…que se arrasta

Reconheço-te êxtase pleno e devorado
pelos meus dedos, palavra a palavra, ardente
como o nosso sonho suave e molhado
num ímpeto fogoso e urgente

Reconheço-me taça clandestina e suprema
onde lateja o licor da lasciva fantasia
que bebes na língua que escrevo sem pena
nas metáforas da minha…poesia!

Rosa Alentejana
27/04/2015
(imagem da net)

domingo, 26 de abril de 2015

Rio Coragem


Há um poema que nasceu nas pedras rubras das entranhas da terra
onde seixos cobertos de devaneios em lençóis freáticos,
provindos da acomodação estática dos dias em latência,
provocaram o jorrar lascivo dos versos…

Esse poema foi fino veio percorrendo, com receio, o seu caminho,
e nas descidas íngremes, deleitou-se com prazer no leito feito
sem calma, encontrando rochas, rasgando de ciúme a alma,
mas emergindo sempre da aspereza transformada em carinho…

Existe um poema que aconteceu nos braços de água que enlaçaram
as palavras plenas do musgo aveludado, onde cada passo foi dado
numa lógica inconsequente, mesmo quando desaguava
nos meandros agrestes e sinuosos das hipérboles crescentes…

E o poema tornou-se caudal aceso nas margens desarvoradas da poesia
a jusante dos dicionários, porque não precisou de sinónimos
para expressar a pureza dos sentimentos precários na condição
do bote de salvação de sonetos arbitrários…

Ele foi tão simples como um paradoxo vertido no rápido da voz segura do poeta
quando a queda livre das palavras murmuraram ternuras
e transpuseram metas, confluindo na foz da boca do corpo da bonança
e só nessa altura a profundidade do momento se converteu em…coragem!

Rosa Alentejana
26/04/2015

sábado, 25 de abril de 2015

Infusão


Primeiro perfumaste-me
os sentidos,
em aromas indecentes
que aguçaram o apetite voraz
dos meus gemidos.

Aconchegaste as minhas vontades
ao som da melodia do mar,
enquanto se despia de gotas
sobre o areal dos pensamentos
debruçados
por cima de uma simples
folha de papel.

Depois embriagaste-me
as veias em frases
que não se encontram
nos compêndios da solidão,
porque o calor
afunda-se nos lábios
e arde bem alto,
no coração.

Foi quando alcancei a praia
através das janelas abertas
do prazer,
que senti o arrebatamento
das sílabas húmidas
na minha boca,
sem perceber se existia
uma tónica
ou se o pronome átono
absorvia apenas o outono
do meu entardecer.

Quis acreditar no milagre
da multiplicação das letras
ao toque redondo dos dedos
e numa argumentação de pele
tão delicada
quanto a fantasia escrita na voz…
bebi mais um gole
do chá implantado no teu olhar.

Sou folha
na infusão
do limbo do pecado
onde quero mergulhar
porque cada beijo é átomo
na gravidade da soma
de cada êxtase
no centro do sabor
do teu…ser!

Rosa Alentejana
25/04/2015
(imagem da net)

terça-feira, 21 de abril de 2015

Portal


Quedei-me perante o espelho
adornado com figuras de retórica alada
pelo anjo sedutor
e na imagem polida
a vocábulos românticos
descortinei um sonho de afagos tão íntimos,
como o vermelho dos lábios
na pureza do seu alvor.

Ergui os olhos estremados
pela silhueta cristalina e,
segurando a rosa encantada,
senti o perfume florido e profanado
na subida íngreme da colina
onde cultivei versos,
reguei prosas
e aguardei o brotar
da fonte do teu riso celestial.

Quando as minhas mãos tocaram
as nuvens plenas de novidade,
já o branco das sílabas se derretia na boca
em alerta de amor,
enquanto as tuas mãos se entretinham
na brincadeira com os meus cabelos,
ofuscando o brilho das estrelas do meu vestido
numa cadência louca.

Chamaste-me Estrela da Tarde
e acordaste-me no embalo
dos teus braços de musselina,
levando-me a percorrer constelações
de luares escritos em poemas,
encontro natural do ato próprio de estrelas binárias,
numa atração mútua e precária
na órbita do centro da nossa gravidade
num misto de cedências.

E as palavras…grávidas de desejo
vibraram-nos nas vozes mudas…
cobertas do calor galáctico
do beijo barrado de futuro
e num momento mágico
transpusemos o portal aberto no espelho,
surgindo a esperança ainda…nua
de tanto sonhar!

Rosa Alentejana
21/04/2015
(imagem da net)

sábado, 11 de abril de 2015

Arder letra a letra


Permite-me
tatuar o teu nome
na noite da minha prosa
desnudada em tantos
papiros escritos,
desgastados pelo tempo
e jamais lidos por ninguém.

Permite-me
fantasiar
esse sorriso de mel
nas dobras do lençol perdido
dos meus ditongos,
rasgado de luar desidratado
onde repouso as mãos
para me inspirar.

Parte o silêncio em mil pedaços
e deixa-me olhar
o espelho
onde a verdade se acumula
no sereno da nossa cama
de gramática ousada.

Doa-me os teus abraços
na caligrafia da música secreta
da tua voz
e acende
a fogueira dos meus sentidos
lentamente
até que o soneto das nossas vontades
não seja mais do que um grito…

Cumpre-me o verso alisado
nos teus dedos
em cada poro da minha pele,
como se o sonho se tornasse vulcão
prestes a entrar na erupção
do nosso prazer.

Tapa a minha boca
com o êxtase das tuas metáforas
sílaba a sílaba
porque eu quero arder
em cada letra.

E deixa-me acordar
na lava das tuas palavras
onde cada beijo
saiba exatamente o lugar
a ocupar nos nossos poemas
em cada dia.

Rosa Alentejana
11/04/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Pecado


Empilhados sobre o céu em sorrisos,
brilham pomares de loucuras renovadas.

São eles que me alimentam os dedos
plenos de volúpias
e que se acercam dos teus lábios,
paraíso onde as folhas me desnudam
o azul do eclipse solar.

Embriago-me no mel do poema
que tens na voz e
enrosco-me paulatinamente
ao tronco das tuas raízes, como serpente,
coroando-te o peito de beijos impunes,
incólumes, de desejo…

Langorosamente roço os dedos na maçã
e as veias segredam-me
o quão maduro está o teu perfume…

E as folhas lavadas pela lavanda intrínseca ao mundo
sabem o nosso segredo…
suspiro suave,
que nos impele rumo ao pecado do amor.

Rosa Alentejana
08/04/2015
(imagem da net)

domingo, 5 de abril de 2015

Sonhar-te

Sonhar-te as curvas das consoantes
é um pecado capital, mordedura nos lábios,
veneno incorporado no deleite
que considero fatal...mas quero-o
tanto, como ao poema que te ofereço
por seres especial!

Rosa Alentejana

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Axis-mundi


Talvez o mais sublime
da arte de semear
seja o arado que seguras com segurança,
rumo às palavras escritas
a sol na minha boca
de árvore encantada.

E quando me cobres o orvalho uterino
com as folhas da figueira,
enquanto alucino no Paraíso das tuas mãos,
sou eu a paz e a plenitude
da ânsia gravada na tua pele
e emerges camponês-guardião
da minha vontade.

Sou-te o pilar cósmico que te guia
pelas constelações do universo,
o “axis-mundi” da tua paixão, que te regenera,
fertiliza a mente,
cresce à medida da tua fome,
te torna imortal nos versos que proclamas
aos sete ventos
no Sete-Estrelo do meu sorriso!

Mas és tu a seiva que se entranha
nas raízes do meu mundo subterrâneo e vil,
que me acolhe e me assanha,
mas embriaga a sede
e sobe ao âmago da copa do meu corpo
sempre que me beijas.

É aí, onde o firmamento se confunde
com o Olimpo dos meus gemidos,
que me levas ao mundo dos Deuses
e me colocas no Altar,
como deusa-dionisíaca,
portadora do cálice de onde bebes,
e depositas nos meus cabelos
a guirlanda de rainha metafórica
dos instintos impudicos que adoras!

Promoves-me a nudez com pérolas
cor de cetim carmim
para idolatrar
a orgia lenta
dos nossos sentidos,
num Éden só nosso,
onde apenas existem infrutescências
doces e melosas como ambrósias
do nosso querer.

Rosa Alentejana
03/04/2015
(imagem da net)

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Verdade despetalada...


Escrevo-te a vontade branca
nas dobras das pálpebras dos meus olhos
enquanto o calendário muda a estação
no tempo curvo do meu entardecer...

E eu mudo…o silêncio em música
e a janela murmura segredos que nem sei
se estou a escutar, mas vejo a semente
a sobrevoar-me os pés em dança…

Acendo a lanterna dos sonhos
e refletem-se os nossos olhos em gestos revertidos
bocas de mar embatendo na maré de orvalho
na planície da minha única razão…

Mas fica-me o sabor na saliva distante
ardendo em espasmos perante as lágrimas enganosas
vigiando a solidão em doses cândidas
enquanto o veneno rasga a fé do nosso coração alado.

Transforma-se a cama na rima
da vida que se quer métrica e meticulosamente correta
enquanto os raios de luz se esbatem,
miraculosamente, na colcha da refeição que se aprimora.

Tenho o usufruto da praia privada dos meus abraços
mas o sorriso é o meu vestido de linho
bordado a licor de esperança
enquanto a tarde adormece nas asas da minha imaginação!

Agora tenho o ato de amor cravado no céu
estrelado das nossas palavras, relento que resgato
à pele no braseiro inundado por ti
na verdade despetalada da minha inocência.

Rosa Alentejana
02/04/2015
(imagem da net)