domingo, 28 de junho de 2015

Vive-me o poema para sempre, amor


Por favor, não me morras o poema…
esse que mora
nos meus pensamentos mais íntimos
e que só a ti confidencio.

És a minha alma,
gémea na emoção
e na loucura, e na vontade, e na solidão…

Ambos bebemos o sumo
do fruto proibido da vida,
deleitamos os sentidos
na fonte imensurável do prazer,
colorimos a aura
por dentro dos corpos
numa vulnerabilidade aguda
que se espraia pela saliva,
pelas saliências aduaneiras
da razão descrita em amor
na poesia…

Há tanto tempo que me colheste
ainda em botão na escuridão do passado
e aos teus cuidados
fui florindo
e das nossas mãos brotaram
borboletas dos silvados
onde o vinho murmurou nas bocas
o pecado que enterrámos
nos espinhos…

E o nosso abraço
instintivamente escrito nas estrelas
segredou-nos a metade que faltava
nos nossos corpos
sem obedecer a julgamentos
ou a punições do código genético
da sociedade!

Crescemos a cada dia
na mesma ótica de valores
enquanto as virtudes emolduram
o nosso parecer…somos dois
numa unicidade idêntica
onde as palavras
caligrafadas nas peles
correspondem à imensidade
frenética
do desejo…

Por isso
peço-te:
vive-me o poema
para sempre
e acrescenta-me as letras
para suspirar a lua
que trazemos
no olhar!

Rosa Alentejana Felisbela
28/06/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ancorados


Além do Tejo amarelo de girassol
Amadurecem-me versos na boca
Molhada como peixe preso ao anzol
Marulhando na secura tão louca
Orvalhada pela luz da manhã
Onde me beijaste pela primeira vez
Tão doce e ternamente como maçã
Trincada no meio do paraíso
Em baixo da árvore da perdição
Enquanto o sol magoava o viço
Mesclado de vida na raiz do coração
Mas as palavras consomem-me
Em trovas de quadras sem rima
Enquanto a tua ausência dorme
Um sono de amor que me mima
Um instante num tempo sagrado
Motivado pela nossa ternura
Mostrando que o futuro açucarado
Ainda pode existir sem amargura
Aniquilando regras e suposições
Num misto de sonho e realidade
Nas mãos generosas das confissões
Unidas em torno de uma saudade
Utópica, já que somos apenas os dois
Enlaçados por este grande amor
E ancorados nessa praia e depois
Levados pela brisa ao sabor
Lascivo e sem arrependimento…ou dor!

23/06/2015
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sorriso nu


Na tua ausência subalimentam-se
as letras e os poemas emigram
para paragens mais amenas,
já o suspiro,
é dor em papel nu

Ficam as vogais desidratadas
e no fio balançam em desequilíbrio
batem asas indomadas
e não encontram
o livre-arbítrio

Tentam pousar na tentação
ou no delírio ensimesmado de sol
mas a canícula sulca a pele
e do papel fazem lençol

O delito esboroa-se no branco
enquanto o negro toma conta do borrão
castrado, insone e franco
da tristeza no coração

Porém, existe um nome
embutido a letras douradas
nas minhas mãos e essa fome
faz bombear sílabas aladas
ao pensamento…e sorrio!

22/06/2015
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

domingo, 21 de junho de 2015

Solstício de verão


Entre duas vidas conquistas o espaço
passado entre os lençóis
(onde ficou vazio o lugar dos super-heróis)
e resgatas o vestido da lua perplexa
de insanidade, enquanto a boca
muda de desejo se cala perante
a história secreta…

Desconheces-lhe o final
ou se nasceu para morrer nos lábios
no desassossego dos sonhos

Desidratas as horas quando não há
sintonia astral com os olhos
e ficas refém do infinito “durante”
em que as estrelas e os trilhos trocados por elas
se cruzaram perpendiculares e se afastaram
paralelas, sem nunca se tocar…

Há um ponto móvel coberto pela sombra
que se derrama na saudade
e outro ponto imóvel de luz que não abre
a mão da realidade desconexa…

Confessas a palavra envelhecida
naquele poema intocado da manhã
enquanto mergulhas no mar aberto
e livre e solto dos cabelos prateados
de vento, mas jamais a terás por perto
e a verás crescer e multiplicar
como rebento só vosso
no primeiro suspirar…

Recolhes as letras, guardas as sílabas
e fechas o dicionário empírico do coração
sem querer olhar mais a página feliz
que ainda dói nos rabiscos pueris
enquanto as escadas tristes são descidas
simplesmente…

Solta-se o grito da razão
ainda que soluces poesia nas asas da vida
e que o desmoronamento
seja momentâneo
porque o sol agita-se ao longe
num amor desmedido
e tamanho…

21/06/2015
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Mito(lógico)


Embrenhei-me no mito lógico do teu amor
e senti a palavra de mel na ponta da língua…

Salivei através da ranhura da fechadura
sem chave para a tua ternura
e avistei a estrada estrelada para o teu coração,
onde cavalgavas nesse corcel branco e brando
de nuvem purificada pelas tuas mãos,
de crina revolta, envolta na nuca cobiçada,
penteada, afagada pelos meus versos…

Ainda a palavra vestia o teu corpo
engalanado de silêncio, folhas de loureiro e desejo nu,
selvagem e arrojado

como anjo que flutua na lua
dos beijos, enamorado,

e já te memorizava verso
em soneto decassilábico
reproduzindo o som das asas
a roçar os teus flancos
descobertos pelos meus olhos

doces, mansos e mágicos

e depositava solenemente a minha palavra
na beira do teu leito de lençóis macios
onde dormias para a poderes sonhar…
sonhar…sonhar…

Rosa Alentejana Felisbela
15/06/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Esse quarto de lua


O assombro
caiu no abismo perfeito
dos nossos olhares
enquanto as mãos
roçaram o destino
despido de preconceitos

E eu precisei do pacto feito
entre o teu e o meu peito
no momento em que caíram
perdidas
as nossas bocas
na caligrafia arriscada
do nosso poema

Pois nada ficou no lugar
da certeza imputada
ao meu ventre
quando se renovou de odores
próprios da primavera
num misto de infusão
com sabor a alegria
e a jardim repleto do teu mel

Houve uma invasão de alma
arranhada pelas tuas palavras
na ponta dos dedos
e soltou-se o gemido
purpura pura
na ternura entre a tua língua
e a minha

Assim…publicaste-me os segredos
em rimas de risos remanescentes
enquanto suavizaste os meus pensamentos
na beira das folhas do livro
que escrevemos
durante o tempo guardado
no quarto de lua
onde nos deitámos
e amor…fizemos.

Rosa Alentejana Felisbela
12/06/2015
(imagem da net)

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Brisas eternas e doces de paixão


Trago em mim esta doçura
provinda das palavras indomadas
que me sussurras, que me ousas, que me usas
decalcadas na pele…
Essência lambuzada neste amor
lapidado a ternura com o cinzel do alabastro
perpétuo do teu olhar…

Metáfora que roça o infinito
numa entrega incontrolada
como se as nossas metades fossem o âmago
da memória de muitas vidas
onde jamais nos esqueceremos
que caminho devemos tomar
para encontrar a razão…

Por isso, te sopro brisas de paixão
e nomeio o teu nome de mel
em rimas quentes como o verão
e na voz carrego nenúfares perfumados
de lagos profanados pelos meus dedos
quando me entregas rendido
o teu coração.

Porque é eterno este querer?

Porque serenas as minhas palavras
quando a minha cabeça tomba sobre o teu peito
ao ritmo da língua dos anjos
que só eu entendo
quando me despes dos medos
que carrego na alma…sem razão.

Rosa Alentejana Felisbela
11/06/2015
(imagem da net)

domingo, 7 de junho de 2015

Cartografia do nosso amor


Vem comigo sentir as folhas quebrarem
Por debaixo dos pés num ritmo frenético
Como quem consome um verão herético
Na pressa de os corpos se encontrarem

Sente o cheiro da terra molhada, poético
Na valsa das palavras antes de se darem
Aos versos nos corpos quentes, a vibrarem
Quando o desejo é um culminar profético

Entrelaça os teus dedos nos meus cabelos
E beija-me as margens no leito da ramagem
Quando os fonemas se tornam supérfluos

E os gemidos se dissipam e surge a coragem
Para o toque sem receio em intensos anelos
Quando mais nada existe, só esta voragem

Rosa Alentejana Felisbela
07/06/2015
(imagem da net)

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Professor...


Eu não entendo
porque sempre se perde
a minha mente…

E sinto uma angústia
que vai crescendo…

Às vezes, sou tragado pelo medo
outras vezes, fico indiferente!

Professor…
Eu não sei porque riem
os meus colegas
quando falo como eles,
já não sei como me justifico…
simplesmente,
não sei se vou ou se fico!

Professor…
Eu às vezes sou sincero
e até digo o que penso,
mas zangam-se comigo…
quase fico em desespero!

Professor…
“eu não consigo”!

Resta-me aquela solidão
do recreio
vazio de amigos,
nenhuma mão
para me dar a ajuda
que anseio!

Professor…
Descobre tu o meu amor
nas entrelinhas
que não escrevo…
porque não sei!

Escreve por mim
com aquelas letrinhas
que sabes fazer!

Diz que só quero fazer parte
da nossa escola,
que levo o que sinto
e também os lápis
na minha sacola!

Professor…
Eu depois faço um desenho
para ti, cheio do carinho
que carrego em mim
junto com o sonho
de um dia
ser feliz!

Rosa Alentejana Felisbela
29/4/2013
(imagem da net)