segunda-feira, 30 de junho de 2014

A morte da natureza


Para onde foram todas aquelas cores
Grudadas à trincha daquele pobre pintor
Semimorto à beira do abismo doce d’amor
Despido dos cinzentos de outros autores?

Tartamudeia pelos chilreares voadores
Nos céus onde o ar era rei e senhor
Mas solitário fenece no asfixiante vapor
Dos escapes dos carros aos milhares

Porque todos se importam com o material
De que são feitas as tintas e vernizes
Com que se enfeitam e escondem o mal

Arreigado aos homens, parecendo felizes,
Quando a alma se evola ao som infernal
Da morte da natureza sem aceitar as raízes!?

Rosa Alentejana
28/06/2014
(imagem da net)

domingo, 29 de junho de 2014

Mundo agonizante


Vivemos nos cheiros nauseabundos
Expelidos pelas fábricas circundantes
Ensurdecidos p’los ruídos dissonantes
Das turbinas de metais vagabundos

Criados pelos amores angustiantes
À evolução e crescimentos moribundos
De economias presas aos segundos
Em que as moedas nunca são bastantes

Para os bolsos dos ricos em fortuna
Enquanto o povo, na escada periclitante,
Desenha o sol de sangue na coluna

Do fumo que tolda o céu azul distante
Erguido a custo caro na vontade una
De assomar no ofegar triste e restante…

Rosa Alentejana
28/06/2014
(imagem da net)

sábado, 28 de junho de 2014

Prometo-te um tempo


Empresta-me a azáfama dos teus dias
Empilhados em tarefas e obrigações
Esvazia os bolsos de tempo e fantasias
Sonhos impossíveis e atribulações!

Prometo que te oferto a paz desejada
Do meu corpo cálido e por ti vibrante;
Que te segredo delícias… rendida…
No arfar das horas em cada instante!

Prometo orar no segredo partilhado
A ladainha secreta dos eternos amantes,
Regando a mácula pele do teu Fado
Com doçuras abrasadas e hesitantes…

Dos beijos lascivos, sensuais e proibidos
Encaixados em concha nas mãos quentes
Enlaçados pelos lábios emocionados
Prometo suavizar a mordida dos dentes!

Prometo-te um restolhar de roupas perdidas
No chão com o teu perfume delicioso
Colado à derme insegura das franjas
Do meu cabelo num dia auspicioso!

Silencia o abraço no princípio do Sonho
Que sonharmos em tragos de vinho encorpado
Que a Alma se renda num sorriso risonho
Naquele Olhar eterno de Desejo enfeitiçado!

Perigosa nostalgia esta, que te prometo
Se apenas esvaziares os bolsos como te pedi
Mas do meu amor ameno e secreto
Sentirás o sabor indecente, ao qual me rendi!

Rosa Alentejana
1/12/2012
(imagem da net)

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Do mundo


Tu, meu amor, não me pertences, mas sim ao mundo
À luz do dia e ao escuro da noite que te abarca a vida
Aos faróis que orientam o teu ser tão mais profundo
E a quem chamas carinhosamente a tua “eterna guarida”

Tu, meu anjo, és do mar o porto de chegada e partida
E das nuvens a brisa certa que passa por um segundo
Do desejo os beijos, a tua própria fogueira já esquecida
E liberta da vontade onde vives louco, triste e moribundo

És tu a sombra que passa pela minha aberta janela
O simples perfume a céu que não sinto no meu jardim
A seiva que se ausenta da minha raiz com toda a cautela

Bem como das flores que cultivo no chão de mim
És aquele poema que guardo numa pequena parcela
Pois de mim és apenas o princípio e nunca o fim!

Rosa Alentejana
25/06/2014
(imagem da net)

sábado, 21 de junho de 2014

Contendas do coração


Somos gestos concêntricos que se encaixam
na perfeição fugaz da nossa tosca teimosia
num pedaço de céu estrelado, na brisa fugidia
que envolve a luz dos olhos que logo se acham

sem se perderem de vista, expressam a harmonia
do voo exímio das borboletas que os abraçam
quando delicadamente os seguram e os deitam
na cama de candura ao nascer de cada calmo dia

somos a razão do amor invadida pelo coração
numa guerra desordeira promovida por línguas
escravizadas pelos tribunais até mais não

mas as leis apenas acordam as mínguas
e nada mais contra nós elas poderão,
pois os gritos dos êxtases serão armas profícuas!

Rosa Alentejana
21/06/2014
(imagem da net)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Porquê


Deslizaram-me os olhos para os lagos
de água salgada depostos a meus pés
e percorri todo o espaço de lés a lés
mas todos os lugares estavam vagos

plenos das palavras tristes que não lês
num silêncio de pensamentos escusos
num vagar de signos tortos e tortuosos
em lágrimas cálidas sem saber os porquês

de uma mágoa dolente que se perfila
sobre este corpo cansado de cada dia
que de negro se veste na redonda pupila

ostentando a vermelhidão que ardia
nessa ferida que sangra e que cintila
neste coração fraco e sem energia…

Rosa Alentejana
20/06/2014
(imagem da net)

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Eu e tu...um mundo só!


“Bom dia” dizem os meus dedos
à pele tua
contando-te os meus segredos
num sorriso de meia-lua

e em gestos largos
gestos tão cientes
de suspiros vagos
mas ardentes

envio-te a palavra
atrevida mente
que te morde a pele
e crava
o desejo no teu sol nascente

e regressa meiga
aos meus dedos
e assim se aconchega
em suaves elos
perdidamente

“Bom dia” dizem meus olhos
aos olhos teus
em silêncios calmos
nos beijos serenos
de carmim suados

e as magias brandas
de ternuras tantas
aladas
enlaçadas nos corpos terrenos
mas ocultas em vidas passadas

cheias de volúpia
devoradas em círculos gigantes
tornados pequenos
num dia
adiado
mas pleno!

“Bom dia” diz-te o meu segredo
ao ouvido silente
e nesse enredo
de vontade premente
bebemos da lua nova
a poesia crescente

latejando nos poros
olvidando o tempo
quando os gemidos sonoros
já esqueceram o lamento
do tormento
de não sermos um…

Mas somos tudo
no abraço sem dó
num leito pautado
pelo amor profundo

apenas eu e tu
um mundo
só!

Rosa Alentejana
(imagem da net)
16/06/2014

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Poemas


Quis escrever poemas firmes
na campina onde o sol se desenha,
em pinceladas sublimes,
qual pintor que muito se empenha…

Mas o rebanho de ideias
que pisou a minha mente
deitou-me o húmus nas veias
e aclarou o meu presente!

E as palavras que fluíram
no florir ao sol do outeiro,
pela janela aberta entraram,
como se fossem o suspiro
desse amor primeiro
e ficaram
ruminando poemas de amor
como se o roçar da tua luz
na palma da minha mão com calor
fosse algo natural, como fio que conduz
ao mistério dos teus olhos,
minhas mais doces palavras!

E continuei lendo
e escutando o silêncio da tua alma
e tentando escrever
com calma…

Rosa Alentejana
(imagem da net)

Na roda da vida

E agora na onda de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

A vida é uma roda que não para de rodar
e é com raiva que rebento o chão
onde antes quis vir a semear
um sopro cavado a mármore
um desgosto prenhe de emoção
em falso fado por confessar…

Na missa do domingo ,que me demore,
eu já não quero suspirar!

Isolo-me na vontade cortante
em que a febre me coage
a simular no semblante
as dores que me traz a aragem…

Resvala-me do seio subtil
a fome da máquina que me emociona,
sou filha de um Deus menor
delirante na sensação que me impulsiona
a jorrar destinos e suor
pela debulhadora da vida
que vai e volta e…siga!

Subo ao tic-tac dos dias e grito:
Eia! Eia!
Estou aqui! Pobre de mim…

Rosa Alentejana
(imagem da net)

Abismo


Na onda de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Sinto a corda dos dias
amarrando-me os pulsos,
dilacerando o pescoço das horas,
em doidos impulsos
beliscando a ironia do meu Destino
(esse que não existe)
num tortuoso caminho
(esse por onde partiste)!

Para que quero a glória e a fama
se o meu Fado é viver sem o calor
da tua chama?

Que ciência masoquista é essa
que me mata a vida
cheia de pressa?

Se o barqueiro sombrio
me aguarda impaciente na barca sofrida
com aquele sorriso inclemente?

Grito e afirmo
que o amanhã não existe
e eu apenas…salto para o abismo
do rio
imprudente!
Rosa Alentejana
(imagem da net)

Pessoa

Fernando Pessoa faria hoje 126 anos...em sua homenagem tomei a liberdade de escrever este texto que vos deixo:


Quem sou…sou uma mistura sem vergonha
de “horas absurdas” onde me revejo
no ímpeto dos versos que o sono sonha
ou no trejeito dos lábios quando beijo

Talvez eu “cante sem razão”
Trovas de um amor que sabe a nada
ou queira, na verdadeira aceção
da palavra, um amor-perfeito,
que nunca acaba

Mas é de “flores transparentes”
cultivadas no meu coração,
este “pórtico partido” nos montes,
que nasce esta imensidão
cheia de luz, e “de repente
todo o espaço pára”
ao redor do meu “desassossego”…

E a “chuva oblíqua” não se equipara
ao fundo profundo do meu medo!
Sou eu o verso que passa e ressoa
na boca de toda a gente
“o menino de sua mãe”, o Pessoa
que na “inocência de não pensar”…sente!

Rosa Alentejana
Embora a frase não esteja correta...

terça-feira, 10 de junho de 2014

Aprisionada


Presa na armadilha
da amargura
a um passo
sem partilha
que dura
dura...

Separa-me um passo
do muro
branco da inexistência
e na mão repousa
o verso laço
de pura
penitência

Toco a frieza
com os dedos
profanados
pelo silêncio
e escorre-me a tristeza
pelo âmago
da solidão
que não venço

Vergastada
pelo universo
de cada palavra
fogem fragmentos
dispersos
em sílabas
de histórias

Cada história
é um mundo
em extremos
de fôlegos
profundos
e lugares
imundos

Cicatrizes incrustadas
em peles envelhecidas
enganadas
foragidas
de vidas
jamais amadas

Obituários de emoções
nos olhos reticentes
onde a dor se encolhe
e a cor morre
para sempre

E os tambores?
Rufam pelo tempo perdido
na lógica sem lógica
do peso de amores
que voam...
fio de luz
no horizonte
distante

E eu regresso
à armadilha
sem nexo
como ave
perdida
em gaiola dourada
e se há pouco
era pouco
agora sou nada

Rosa Alentejana
10/06/2014
(imagem da net)

domingo, 8 de junho de 2014

Até...


Chega sem promessas
(que as guarde quem faz orações)
sem medo do dia
sem saber das horas
ou se a ousadia
contempla a dor dos corações…

Mas chega...nas asas
da tua vontade
com um par de beijos
no olhar
e um bolso repleto
de liberdade
só…para nos guiar!

Mas vem sem cobranças
com o abraço apertado
e atira as semelhanças
do passado
para qualquer lado!

Que o momento seja
só nosso…prolongado
até que a gente queira!

E vem sem exageros
acender a fogueira
das dermes com a combustão
que tens nos dedos
e não pares antes
de demonstrarmos
os sentimentos sinceros
e delirantes
que assim fluirão!

Traz a brincadeira
no rosto travesso
e nunca presumas
que eu não queira
o que não te peço…

Vem com o desejo
de ser feliz
preso na tua atenção
e que o sabor da vida
não passe do sopro
que tudo foi em vão…

Se a oportunidade existe
vamos fazer dela
um naco de felicidade
tornando-a mais bela
em vez do cinzento triste
saboreando-a
até termos vontade…

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sábado, 7 de junho de 2014

Reconstrução


Escuto o som vazio da tua voz
e invades-me solidão
na foz do meu grito
ilusão
atroz

Concebo-te esperança
no dia encoberto
como se a lembrança
desanuviasse
a saudade
nuvem
no deserto

E eu, nua de palavras,
recebo-te hábito
em arcaísmos
e gírias
descritos em fados
como
hálito
benemérito

Mas castigas-me
com o roçar decrépito
das falanges
espumosas
na brisa perdida
das rosas
onde me perco
a versejar

E tudo é vácuo
e vago
e triste
e não existes
nem nos versos
nem nas verdades

Albergo-te
ainda
sonho
nas asas
das farsas
do abandono
e eu
abismo
do grito
solidão
te recomponho

Rosa Alentejana

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sorrisos


Há um desejo bem guardado
entre a minha boca e a tua
escondendo o beijo selado
numa noite à luz da lua

Tal como o lápis e aquela folha
namorando a escrever poesia
ambas traçaram a tal batalha
do amor descoberto um dia

E entre versos apaixonados
nossas bocas loucas se uniram
em suspiros quentes e arrepiados

E todas as dúvidas se diluíram
nesses quereres consolados
e como num poema…sorriram!

Rosa Alentejana
5/6/2014
(imagem da net)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

No teu abraço


Eu sonho contigo todas as noites em cada momento dos dias risonhos.
E sonho cada pedaço de ti, como se o céu te tomasse e voasse sem ser possível sentir o calor do teu sol.
E sonho cada beijo, como se as nuvens te aconchegassem em campânula de afetos e te roubassem de mim.
E sonho cada olhar, como se a noite te lembrasse e me escondesse o teu brilho…
E sonho o teu corpo, como se fosse o templo que idolatro e a quem rezo orações de devaneios mundanos…
Queria murmurar-te todos os desejos no olhar…
Queria caber no teu abraço e preencher cada espaço com sabores vindos de mim…
Será possível? Diz-me que sim…
14/5/2013
Rosa Alentejana
(imagem da net)

domingo, 1 de junho de 2014

Opressão


Tenho esta verdade crua
no meio das mãos caladas
e solta-se uma lágrima nua
na ausência das palavras

São pecados tão meus
moldados no barro dos dias
e nos farrapos de tantas luas
que me voam das fantasias

E as mensagens timbradas a sal
inscritas nas teclas soterradas
são flocos de bem...ou mal
em noites de angústias torturadas

E na escalada pedregosa de betão
e de arame farpado cingido
em torno do corpo e do coração
brota este fogo escondido

Levo o marasmo dos pesadelos
coberto de desajeitados pedaços
de fios emaranhados de novelos
envolvendo os meus passos

E os sulcos escavados de gritos
na penumbra da escuridão
vão encurralados nos ouvidos
sangrando p'los nós da mão

E as memórias do sabor do sol
gastas no ébano noturno
vão mergulhadas no copo do álcool
no estuário do dia taciturno

E esse encontro fugaz de vida
no fervilhar prazenteiro das vielas
sinto-o regra ordeira transgredida
no constante pulsar das janelas

Abrem-se as mãos de borboletas
manipuladas por um Deus fanfarrão
transformadas em mariposas radiosas
aguardando o assombroso sermão

Verga-se-me o corpo tenebroso
ao peso da angústia medonha
e o sabor acre e virtuoso
insulta a esperança da vergonha

Tocam os sinos à desgarrada
na pequena igreja ali ao lado
e percorre-me a madrugada
num acordar triste e cansado
Rosa Alentejana
01/06/2014
(imagem da net)