quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Medonho


Enquanto as vidraças da janela
esmorecem de lágrimas copiosas
o meu ar rarefaz-se de poesias
e a pele fica eriçada como
os espinhos das rosas enganosas

Presságio magoado da manhã
nascida para sofrer
na boca um breve adeus
no negro da noite do meu viver

Peço-te só que acendas os olhos teus
para me guiarem nesta escuridão
e coloca a nossa música a tocar
nos teus pensamentos
para silenciar
em paz, o meu coração

Peço-te só que guardes as palavras
nesse baú de ébano a ferro forjado
porque estarei surda para o som
do timbre de anjo
que a tua boca canta no meu fado

Peço-te só que cubras com o véu
da chuva as preces que te quero fazer
pois todos os meus desabafos
contá-los-ei à terra
quando ela me receber

Estou mais perto da cova aberta
a cada hora gasta pelo meu relógio
dou um passo e caio nessa valeta
e nada faço para me erguer

Já o meu corpo em desânimo
adormece por entre as raízes
que me agarram e me amarram
num ninho que me enregela
num frio moribundo
quando a força se esvai…

E a chuva e o barro
cobrem a minha vida
de uma solidão medonha…
e não há ninguém para me aliviar
e não há ninguém para me ajudar
ninguém que se interponha
entre a morte e o meu pesadelo.

Rosa Alentejana Felisbela
04/11/2015
(imagem da net)

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