sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal


Palavra doce, minha nuvem de algodão
que me faz flutuar
e me move
na superfície calma da imaginação

minha chave verdadeira
que abre as portas
do céu
em noites de lua cheia
escuras como breu

minha magia colorida
que descobre
o universo
numa música, num canto
num verso

minha musa que me acende
a criatividade dos dedos
e me aquece
inteira
na fogueira sem medos…

Minha doce palavra!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sábado, 19 de dezembro de 2015

Letras apenas


Sempre que me tocas com todas
as letras do teu olhar,
soltam-se estrelas-poemas
num céu por inventar

Sempre que acaricias com letras
os fios dos meus cabelos,
criam-se todas as lendas
em sonetos singelos

Sempre que afagas meus lábios
com letras de doce sabor,
nascem versos imaginários
elevando o nosso amor

Sempre que beijas a minha pele
com letras de puro encanto,
doa-se a frase que impele
as mentes ao espanto

Sempre que nos encontramos
nas letras do pensamento
aparece a poesia onde estamos
unidos em sol ternurento

Amo-te nas letras que escrevo
arrumadas em harmonia
onde estamos em relevo
por um caso de analogia

Quero dizer-te meu querido
com as letras do meu coração
que em cada verso diluído
emerge a nossa paixão

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Mãe...


“Mãe-terra”, minha mãe mimosa
peço-te perdão pelo carrasco que sou!

Tu que me geraste no útero cálido e calmo
e que me pariste em amor, flor e luz…

Peço-te perdão por toda a dor que provoquei
nos vales em brasa, nos céus de negras asas,
nas águas turvas e rasas…

Despedacei-te inteira, minha terra-parideira

Declarei guerra aos teus recursos
e numa lei malfazeja escrevi a obrigatoriedade
da igualdade entre existir e poluir
entre corromper e apodrecer
numa perversão em pergaminhos milenares…

Aceita o eco vazio da voz calada
da criada desumanidade e regenera-te
da escuridão em que te deixo…

Aceita o perdão deste último viajante clandestino
que poderá jamais ser lido numa folha
ao vento… Como lamento…

Por isso, doo-te o meu corpo para fertilizar-te
e de alguma forma fortalecer-te. Preciso redimir-me de viver.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Feliz


Transformei-me
em semente dos versos,
depois fui pequeno grão de poeira
germinando nas mãos de um poeta.

Fui regada por estrofes inteiras,
meu bálsamo quente,
subindo pelo caule
das onomatopeias.

Por fim, ganhei vida,
e a esperança
vestiu-me novamente as veias.

Agora sou abraço apertado
num escrito qualquer.

Sou a esperança
nos olhos de uma mulher.

Sou…Feliz como sempre quis ser!

Rosa Alentejana Felisbela
17/12/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Soneto da distância


Foi naquele instante
que regressei à realidade do sonho
e rabisquei o soneto da distância
no caderno da minha ternura.

Suave canto na epopeia
da nossa vontade.

E desde esse dia que te guardo
junto ao coração
e te lembro
até nos dias de tempestade.

Para que me cantes
esse sonho adocicado
da nossa saudade
e tranquilizes
estes meus medos.

Ainda a barragem
emoldura a minha tez
em sílabas sonoras.

Ainda as árvores caminham
rumo ao céu numa paz
de versos rimados.

Ainda as folhas cobrem o silêncio
dos meus passos
numa amálgama de palavras.

E o vento…

Continua a beijar-me
com a paixão de sempre.

Rosa Alentejana Felisbela
16/12/2015
(imagem da net)

domingo, 13 de dezembro de 2015

Minha escrita-liberdade



Quantas vezes adormeço no casulo dos meus olhos
aguardando a metamorfose dos pensamentos
em asas cobertas de sol, cor e liberdade…

Quantas vezes embalo o coração numa morna melodia
e aconchego a dor da liberdade aos ouvidos
enquanto me sobra uma réstia de sobriedade…

Quantas vezes alinho a caligrafia
aos cantos das folhas de papel e mar,
enquanto a maré submerge a magia da liberdade…

Quantos miosótis caem em bátegas de chuva
nestes ombros, na queda serena e sôfrega da liberdade
com que escrevo cada revolução enamorada…

Quantos segredos do tempo arvorados na metonímia,
rio que corre sem parar, me sufocam
e se esvaem num sopro de liberdade…

E eu preciso do colo caloroso dessa alegria,
dessa implosão de ideias, onde o mistério se instala
sobre as letras, sobre o corpo, sobre a alma…

Minha fraga, minha vaga que me amara e me liberta
e me acorda, vezes sem conta, minha liberdade!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Absurdo


Só para serenar os pensamentos
bebi o chá da saudade do teu corpo
e morri o sono dos justos.

Embrenhada nas estranhas artimanhas de Morfeu
ergui os braços solenemente e agarrei
o pó de estrelas que a lua verteu
sobre a minha cama em cascata.

Depois semeei, sim, semeei tantos desejos
nas dobras dos meus lençóis
quantas as vezes que olhei os teus olhos.

Reguei depois com ilusões e aguardei,
em pelo, o fruto que viria a seguir…

Colhi fantasias quando estavam já maduras
e saboreei cada gomo num deleite
que abrasou as minhas veias
num calor que aqueceu o açúcar da minha boca
em calda polvilhada com canela.

Amanheci doce na quimera de te ter…
Mas, falta credibilizar o absurdo.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Corpo poema


Um poema é um corpo
de palavras trazidas pelo sangue
das letras
rumo ao cérebro
num acesso de imaginação

ele espalha-se pelas veias
em sílabas bêbadas
da embriaguez dos sonhos
corroborados
pelas extremidades porosas
das prosas presentes nos dedos

eles tricotam segredos
sobre entrelinhas direitas
e curvas desfeitas
perfeitas
de versos por envolver
nas malhas das mantas
coloridas pelo entardecer

e é nos braços entrelaçados
da fonética e da fonologia,
que o encontro triunfante dos nomes,
nessas horas amantes
perante as margens vinhateiras,
gera a fome, gera a sede das frases
em fases profanas de magia

e o corpo beija os anseios
no bordo do cálice alheio
à boca da sedução…

é desse corpo que
falo
esse corpo
ateu
esse corpo
que é teu

inspiração.

Rosa Alentejana Felisbela
07/12/2015
(imagem da net)

sábado, 5 de dezembro de 2015

Poesia



Descobre nas entranhas no cerne da minha sede, como apelo clandestino,
que vagueia sem tino no húmus tenro e redentor do meu querer, a fonte

Descobre-me…

Embrenha-te seiva na força interna que transportas nas letras e semeia-as, delicadamente, no relevo dos sedimentos expostos pela minha pele

Descobre-me…ama-me

Introduz as tuas mãos, bêbadas de luz, na raiz do manto negro de espanto
das minhas palavras e fecunda-as de sémen, arguido dos meus poemas

Descobre-me…amo-te

Corrobora a história esculpida nos versos mudos, gravados nas rochas
aquecidas pelas altas temperaturas das metáforas, cheias de ternura, que te deixo desvendar

Descobre-me…ama-me…amo-te

Bem sabes que a profundidade dos sentimentos me transforma em Deusa-Mãe
de cada sílaba do universo, como se o teu abraço fosse a espada que mata a saudade de sofrer

E eu, que queria fugir…amo-te irremediavelmente…

Mas creio que, no final, somos ambos barro moldável na arte dos sonhos habitáveis, como linhas irreversíveis nas palmas das nossas mãos…e a poesia é vício, fonte onde bebes, e eu querendo cair em desuso…

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Voz passiva


Eu nunca imaginei
que um dia iríamos dormir juntos
sobre o mesmo poema,
masculino e feminino,
substantivos que se atraíam…

E jamais imaginei que os nossos corpos
de textos distantes
não viriam a ser mais
que um sonho pontuado de excitação…

Nunca quis acreditar
que as nossas dermes morreriam
da morte perene que há nas folhas de papel,
caindo no abismo das palavras…

E tudo isso porque eu não sabia
que as nossas bocas, morrentes da sede
dos Trópicos, iriam tremer, perante
a doçura de cada escrito…

E tudo porque eu desconhecia
que cada frase deposta
sobre a cama de favos de mel
viria a eclodir virgem de vírgulas,
numa antevisão suspensa
da respiração ofegante do fim…

Eu não sabia que o sorriso
dos parágrafos ficaria esquecido
nas entrelinhas da humidade dos olhos,
nem que haveria uma sílaba
capaz de partir a memória das letras…

Eu não sabia que o silêncio
da inspiração se iria transformar
em plural de um género concreto, solitário…

Nem sabia que o poema vazio
se iria abrir mais cruel
que as reticências errantes
à aridez do tempo…

Mas, descobri o baú do tesouro
guardado de fábulas
e escondi-o no precipício do oceano
novamente
para que o abandono não fosse
acertar de novo no coração da vertigem!

Agora sou só miragem
na transcrição fonética de um grito mudo
e o deserto é tudo quanto a terminologia
do amor subentende no meu entardecer.

Agora és só lirismo nos versos
(in)subordinados
num poema em voz passiva.

Rosa Alentejana Felisbela
01/12/2015
(imagem da net)