quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Mascaro-me


"Mascaro-me nos contornos dos montes indefesos dessa lua
misteriosa e melosa e mentirosa…anelando de véus
a tristeza soalheira, que me macera a alma,
me queima inteira, como se o fogo imolasse
a minha fantasia, num saque que é pouco
perto da dor do ventre que sufoco até quase perecer!"

Rosa Alentejana
(imagem da net)

sábado, 17 de janeiro de 2015

Detenção


Estás detido por tráfico de palavras.

Foste apanhado em flagrante delito de metáforas
onde ocultaste os meus desejos
e as minhas mágoas
revertendo um poema
em algo mais…

Serás confrontado, num primeiro interrogatório judicial,
entre a minha boca e a tua
para aplicação das correspondentes medidas de coação
onde um suspiro poderá ser fatal
para o teu coração…

Por uma questão de segurança,
serás algemado pelas frases abusadas
inventadas, acetinadas
com as quais, vergonhosamente
me incendeias os dias…

Serás revistado, por uma questão de segurança,
para verificar se essas tuas mãos de poeta
não ocultam mentiras que me possam ferir.

Depois, seguirei com a revista
com mais pormenor,
das tuas roupas, que tirarei aos poucos,
com o intuito de saber se possuis alguma culpa
escondida…

Ser-te-ão lidos os Direitos e Deveres que te assistem
na qualidade de arguido, pelo que,
jamais poderás abandonar o meu leito,
de que poderás usufruir
como fazendo parte dos Direitos,
e terás para sempre
o Dever de me manter
tranquila relativamente ao teu amor.

Trata-se de um crime de moldura penal gravosa,
posto que se trata de uma escandalosa
violação dos meus sentidos,
pelo que terás que pernoitar na cela
dos meus braços por hoje.

Serás presente a interrogatório
pelos meus olhos
nos teus,
e só depois será determinada
a medida de coação a tomar daqui em diante
e determinado se recolhes ao estabelecimento prisional
do meu corpo
ou se aguardas em liberdade
que te chame quando me apetecer...

Cuidado…jamais poderás
voltar transgredir a regra do usufruto do meu prazer
sob pena um dia…
te deixar ir e
te esquecer!

Rosa Alentejana
17/01/2015
(imagem da net)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Toque ctónico do ser humano


Somos o monstro ctónico à superfície
De um planeta em profunda mutação
Arrasamos oceanos, serras, planícies
Sem respeito por cada época, ou estação

Somos aqueles que sempre sacrificamos
Fauna, flora e toda a nossa natureza
Embora nada tenhamos de humanos
Na verdadeira aceção da palavra, falta-nos pureza

Somos quem fornece belas ofertas
Como incêndios, tempestades e vendavais
Às já evidentes alterações climatéricas
Sem nos importarmos com os demais

Somos os que deixamos as nossas praias
Perder areia e enchemos o fundo do mar
De lixo, e ainda erguemos altas muralhas
Em volta de campos que antes serviam para pastar

Somos aqueles que, de tanto e tanto fabricar
Emitem gazes nocivos para o ambiente
E deixamos as calotas dissolverem-se no mar
Tornando-o guloso pela costa de cada continente

Somos quem se alimenta em excesso
Da fome dos outros, criando lixos e lixeiras tamanhos
Culpando apenas o grande progresso
Como desculpa para os seres humanos

Somos os reis dos derrames de crude no oceano
E do aumento do buraco de ozono
Obrigando a não respirar quem vive um futuro insano
Votando as novas gerações ao abandono

Somos a perfeição da criação do Senhor
Que se tornou perversamente horrível
Que escolheu a materialidade ao amor
Matando a Terra, nosso lar, de forma terrível

Tudo aquilo em que tocamos, morre
Da maleita das nossas mãos
E legamos um futuro que escorre
Contra o tempo curto da previsão

É urgente mudar os argumentos
E a forma de encarar os problemas
Tornando mais simples os pensamentos
Doando amor a tudo, até em poemas!

Rosa Alentejana 15/01/2015
(imagem da net)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Morango no topo, mas só hoje!


Quero-te “morango no topo do bolo”
Ou no meio da pizza de chocolate
Isso sim, seria mesmo um consolo
Só porque te prefiro ao abacate

Também te quero no centro do batido
Pode ser às rodelas ou aos bocadinhos
Tanto faz que sejas mergulhado ou emergido
O que importa é o sabor, mas sem vinhos…

Mas o que tem mais gosto para mim
São todas aquelas palavras que misturas
Nos poemas que escreves em trovas sem fim

Pois, serás sempre das mais simpáticas criaturas
Que encontrei no Luso, o “meu” benjamim
Que abracei como amigo, cheia de ternuras

14/01/2015
Rosa Alentejana

(Para o meu amiguinho querido Rodrigo Lamar que festeja o seu aniversário intemporal, pois que morango como ele não perde a validade!rsrs)
(imagem da net)

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Eterno Florescer



Vem sem lamento, que eu prometo
que tento segurar uma razão
sem que me escape por entre os dedos!

Vem nu de tormentas, que eu prometo
escrever as rimas com que te visto
e ajusto-as com beijos ternos das minhas mãos!

Vem sem pudor, que eu prometo
que te guardo o brilho do consentimento
no cofre vago do meu amor!

Vem sem regras, administrar as vagas de desejos
que em mim despertas,
retomando a boa ordem
que nos teus braços deposito!

Vem e traz-me o alento
de uma madrugada incerta
cravada na memória de um abraço que,
umas vezes me aperta e outras,
de tão laço…me desperta!

Vem e oferece-me o sorriso de prazer
no cálice profano que te entrego, devota…
depois recolhe cada gota de querer
e abençoa o que resta de mim!

Mas vem…

Mergulhar no cetim dos meus lábios
rubros de desejo, sem pejo
que as noites sobejam a cada dia amarrotado
e deitado como papel, por escrever, no rio da vida!

Vem sobrevoar a boca rósea de pétalas,
aberta à volúpia da tua,
na sincronia do voo das vontades, adiadas,
sublimadas pelos poemas que continuo a sonhar!

Vem menino de olhar secreto
embrenhar-te na pele discreta
das promessas que eu não sei mais inventar!

Salva-me a alma, salva-me o corpo
nessa morte sem promessas
do tempo que um dia…
irá florescer!

13/01/2015
Rosa Alentejana
(imagem da net)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Um dia...


Brandamente bendigo o dia a alvorecer
Nas cores derramadas sobre o horizonte
Pelo sol caloroso que me vem aquecer
Por detrás dos teus olhos, a minha fonte

De palavras, com carinhos me cobres
Sob o manto enluarado que traz a noite
Somos o céu e a terra, os perfeitos amores
Imortalizados naquela prosa arcaizante

A linha tão ténue entre o toque e a mão
Sustenta-me os dias em pura excitação
Aguardando o contacto, fico a tremer

Com o segredo guardado dentro do coração
Germinando a escrita da minha imaginação
Reparto poemas, que um dia, irás entender!

Rosa Alentejana
07/01/2015


sábado, 3 de janeiro de 2015

Barro


Levanta-se a madrugada num arroubo de aves roçagando as asas pelos telhados oblíquos, pelos finos fios de luz vistos de longe e no ar derrama-se o chilrear absoluto de quem teima em acordar.
São os teus olhos, carregados de memórias de parcos tempos que se levantam sem o manifesto cansaço, porque é preciso colocar a mesa todos os dias para os filhos e para a mulher.
São os teus braços as vigas que seguram a casa, como pilares, espreitando carinhosamente a família, e perante o cheiro a café da manhã acordam para a labuta diária dolorida.
Tomas o teu lugar na carroça carregada pelo doce burro da cor da pressa e, como Rei, incitas ao caminho do reino da exaustão, pois é de suor a pá que escava o barro dos lamentos, e de horas incertas os buracos abertos antes do sol raiar.
Mas é na roda que roda e rodopia ao ritmo das botas já gastas e desbotadas, que o barro sofre a metamorfose do afago, a carícia acetinada dessa magia colada à derme que encerras nas mãos, que veneras e que temperas com a tua arte. São teus filhos os frutos que colocas carinhosamente ao luar.
Depois é o cheiro da lenha a arder por dentro do forno, o cheiro da loiça que se espalha entre os sonhos de dias com pão, de dias com sapatos e roupa domingueira envergada na véspera de Natal e tu… embevecido, com um naco de orvalho nos olhos, sobrevives a mais uma hora, a mais uma pena alojada na saudade de um dia vencer!
Rosa Alentejana
27/12/2014
(imagem da net)