quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quarto só


Estou envolta em lençóis de penumbra
no quarto esquerdo
de quem vive com os pés no chão.

As minhas janelas são feitas do negrume
que deslumbra o eco perdido
nos passos ausentes da mágoa,
sem ressurgimento possível.

E tanto faz,
se me enterro no colchão
do silêncio em apodrecimento,
ou se aterro o rosto na almofada
resignada de tanta solidão…

Os meus olhos são de cristal baço
no colo desta triste enormidade
e tenho os seios encrespados
na dormência cansada
de tanto me alimentar do “não”…

Tenho o ventre rasgado
na raiva do soluço que choro em vão…
e as minhas mãos são leitos ressequidos
de rios de lágrimas que foram
inundados por fraquezas
exaradas pelo entendimento!

Já não quero o meu coração…
esse que exangue bombeia
sentidos ocos às veias vazias…
ofereço-o às trovas cantadas pelos poetas,
esses falsos profetas
que encantam a mentira das rimas…
e no final,
apenas ofertam a mesma sina
à lua aleivosa e petulante,
pois não existem mais sonhos para viver…

Estou nua…neste quarto
fadado para não mais renascer!

Rosa Alentejana
(imagem da net)

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