Estou envolta em lençóis de penumbra
no quarto esquerdo
de quem vive com os pés no chão.
As minhas janelas são feitas do negrume
que deslumbra o eco perdido
nos passos ausentes da mágoa,
sem ressurgimento possível.
E tanto faz,
se me enterro no colchão
do silêncio em apodrecimento,
ou se aterro o rosto na almofada
resignada de tanta solidão…
Os meus olhos são de cristal baço
no colo desta triste enormidade
e tenho os seios encrespados
na dormência cansada
de tanto me alimentar do “não”…
Tenho o ventre rasgado
na raiva do soluço que choro em vão…
e as minhas mãos são leitos ressequidos
de rios de lágrimas que foram
inundados por fraquezas
exaradas pelo entendimento!
Já não quero o meu coração…
esse que exangue bombeia
sentidos ocos às veias vazias…
ofereço-o às trovas cantadas pelos poetas,
esses falsos profetas
que encantam a mentira das rimas…
e no final,
apenas ofertam a mesma sina
à lua aleivosa e petulante,
pois não existem mais sonhos para viver…
Estou nua…neste quarto
fadado para não mais renascer!
Rosa Alentejana
(imagem da net)

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