sábado, 28 de dezembro de 2013

Quem me diz o que é a justiça?

Quando os roncos da barriga
se fazem ouvir nas têmporas
retesando os músculos da fadiga
respirando a sede, rendida à fome
por um naco de dia
e deglutindo o marasmo
cravado na gola do sarcasmo
do rico, que exibindo a galhardia
do novo “fórmula um”,
empresta “um euro” para ajudar
em nome de um NOME,
para dormir o sono dos justos,
sem sequer olhar para trás e piscar
no momento do tormento que não viu,
porque a preguiça o satisfaz…

Se o idoso perde a identidade
no lugar comum do número de uma casa
sozinho, abraçado à banalidade
de uma reforma que não o cobre, disfarça
as refeições e os remédios
juntamente com os concursos
numa TV empenhada em novelas
(mas de produção nacional!),
sem poder ligar o aquecedor
nas noites frias, sem dormir,
que a eletricidade é um luxo superior
de que não pode usufruir…

Se temos que sair de Portugal
para, dignamente, ganhar o pão
para os filhos que crescem sem futuro,
vítimas de um mal tão duro…
que o fado não soube cantar,
nem o fandango da moda do debandar
soube colmatar,
rumo a uma vitória ainda por acontecer…
não se sabe em que lugar…
Quem me diz o que é a justiça?

Rosa Alentejana
(imagem de www.irradiandoluz.com.br)

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