domingo, 24 de junho de 2018

Sou o sonho

Todos os suspiros caídos no silêncio que não vês são para ti, meu amor. Cada passo que dou na estrada empedrada da solidão, vai na tua direção. Cada olhar que se acende na noite escura surge para te anunciar o caminho. Cada sorriso que finjo amara na praia voraz da tua voz. Cada mergulho no infinito do oceano do nosso amor emerge para a brisa suave dos nossos corpos. Conheço de cor os movimentos de cada músculo, o traço vão da sombra e a cor lilás das veias. Mas a sede de cada gesto, a fome de cada trovão, mistura-se com o ar rarefeito da maresia. Sal copiado à imperfeição brota dos olhos perdidos no horizonte. Perdoa-me o som dos passos na areia fina. Perdoo-te o voo de liberdade. Visto as palavras com o vestido mais azul de que te possas recordar. Passo o batom rosa pelos lábios do templo do tempo. Calço as fitas dos filmes que fazemos. Aqui estou a teu lado, no céu cinzento que machuca a retina e transborda sem explicações. O tic tac tic tac do relógio vai ao meu encontro, com o ponteiro em riste, ignorando o perfume que tem o protetor solar, acusando-me de devassidão. Sinto a pele seca do sol que me amanheces, sem sequer me tocar. Tomo um duche demorado à chuva cadente das memórias. Hidrato-me quando te vir novamente no espelho do quarto. A imagem acalma-me a fragilidade, afinal sou mulher. Mas a minha força deve preencher cada razão que sabes acordar. Hoje quero sonhar e sonho. Sou o sonho feito para mim. E nada, e ninguém mo irá roubar.

Rosa Alentejana Felisbela
24/06/2018
(imagem da net)

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