quinta-feira, 21 de junho de 2018

Chove

Chove. São gotas que aquela nuvem deixou que caíssem. Ela não sabe quanta injustiça carrega. Desconhece a verdade que as janelas guardam, e até a simplicidade resguardada pelas cortinas. Dentro da casa existe um coração triste, com a pulsação entrecortada pelos trovões que ecoam lá fora. Carrega o mundo aos ombros e não merece o frio e as lágrimas nas vidraças. E a nuvem, tão escura, tão carregada, tão cheia, derramando o seu interior na janela, sem qualquer respeito pela dor, ausente da solidariedade e do amor ao próximo. Separa-os a vidraça. O ar por dentro embacia os vidros e a angústia sobrepõe-se. Irremediavelmente, o coração chora por dentro de cada sorriso, o sangue circula em soluços e o músculo, sozinho, não quer mover-se. E de repente a chuva, chorando a sua azáfama no lado exterior da janela. O som da chuva aglomerando-se no peito da janela, o beiral jorrando lágrimas sobre a janela… Por dentro e por fora: chove.
Rosa Alentejana Felisbela
21/06/2018
(imagem da net)

Sem comentários:

Enviar um comentário