sábado, 16 de junho de 2018

Atena

Gosto de rasgar as palavras que me dás. Sobretudo as que falam de desprezo e retidão. Quem és tu para me costurar a verdade? Agora que penso nisso creio que há uma linha ténue entre o que dizes de verdade e a verdade que sentes. Por ironia, pode existir uma sílaba coincidente, um som ambíguo, um flash de “amizade” a cintilar nos olhos. Mas, quando o contrato textual prescreve, devido a um ataque de teimosia elevada ao cubo, a barganha é vomitada e fica nua. Sim, nua, sobre a mesa. Não adiantam as rendas púdicas e brancas da toalha, ou os guardanapos a condizer. Nem as boas maneiras e palavras “caras” te valem. Chegas a ser inconveniente na forma de endereçar injúrias, no tratamento medíocre que ofereces ao teu “semelhante”. Os copos de cristal quebram-se sob o teu hálito hipócrita e os talheres dourados adquirem aquele brilho baço que não enganam a limpeza dos pensamentos. A pior perversão chama-se “vaidade” e encontra-se no espelho que Narciso te ofereceu nas festas Juninas. Bem sabes, não tens o poder das Parcas…Mas acreditas que não precisas de ninguém! Lamento informar-te, não pertences a qualquer Olimpo. Aproveita a vida, olha sinceramente nos olhos cada palavra que dizes, abraça um pôr-do-sol, colhe um fruto maduro, saboreia uma realidade, bebe palavras sãs, vai correr pelas searas e sente na pele a brisa do mar. Temos tão pouco tempo para aproveitar… Porém, ofereço-te ambrósia para te adoçar a boca, um buquê de flores-de-laranjeira e um vestido de modéstia e tule. Talvez um dia, queiras ser a Atena cheia da sabedoria que tanto apregoas.
Rosa Alentejana Felisbela
16/06/2018
(imagem da net)

Sem comentários:

Enviar um comentário