segunda-feira, 28 de abril de 2014

Mais vale o sabor a prosas


Hoje acordei com um gosto metálico a endurecer-me as ideias já gastas de tantos agostos quentes e secos da penúria abrupta e farta. Nem o cheiro do sol, pleno de fúria, me serenou os soluços vindos das entranhas…essas que tu estranhas!

Soltou-se a raiva que tinha presa nas pontas dos dedos e olhei mais uma vez para o beijo que ficou por dar na noite anterior, mas vi que continuava a sobrar-me tempo num espaço constrangedor.

Fiz a higiene aos pontos finais, coloquei os pontos de exclamação no estendal mas, pelo sim, pelo não, guardei algumas vírgulas na gaveta, para não dar-se o caso de me apanhares desprevenida.

Quando já ia para sair, verifiquei que tinha letras a mais nas palmas das mãos e palavras a menos gravadas nos ouvidos e resolvi a situação com uma música leve e alegre.

Subi a rua com a rotina presa às costas e tentei ignorar a esperança no bolso de trás…

Eram exatamente horas de enfrentar o rosto cansado e a pele envelhecida do dia, quando fui assaltada pela luz azulada dos palácios encantados das tuas retinas!

Baralharam-se as estações e fugiram-me as cores do giz, sílaba a sílaba, empalidecendo-me o coração. Escapou-se um “bom dia” levado pela brisa numa folha esverdeada, resquícios do longo inverno…

Sem promessas! Cataloguei mais este sabor a pouco com o rótulo da incerteza e transferi o preço a pagar com frases melosas…mais vale o sabor a prosas!

Rosa Alentejana
28/04/2014
(imagem da net)

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