quinta-feira, 26 de maio de 2016

Fado queixume do mar



Sabes, ainda sinto
a cicuta
do som da tua voz
em cada palavra escrita
na superfície das ondas
nessa cilada perfeita
da leitura do teu olhar

Ainda me sabe a boca
ao mosto do poema
embebido na ironia salgada
que arrastavas
na derme dos dedos

Em vão, vacilo, perante a história
cingida pela cintura
que a sintonia envolvia na vastidão
desse imenso soletrar

Salivo no rosto
o fogo posto
perante esse sabido
desgosto, tão ténue,
mas tão intenso
como a maré desse mar

Ah! Rugido das águas
de encontro às rochas
da desilusão tão certa
da desilusão tão dura
da descoberta
sedimentando sílabas
desgastando a ternura…

O teu poema é fado
perdido de tão encontrado
na orla do tempo
a vagar…

Emerge do sal e sobe
a amurada das minhas mãos concheadas
e lava o veneno das frases
que poluem as areias douradas
e salva o perfume
do búzio que escuto ao longe
num queixume
a naufragar…
a naufragar…
a naufragar…

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

2 comentários:

  1. Não tem nada que pensar,
    escuta a voz de quem te agita
    melhor será esquecer essa cicuta
    não deixa magoar o seu coração
    por quem nele, não acredita.
    mais vale ter só um na mão
    do que dois pássaros a voar!

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  2. Poesia
    .
    .
    Cada instante da poesia
    é uma nova viagem,
    mesmo que o assunto
    seja o mesmo de sempre...
    .
    .
    Francis Perot

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