Mordo este mutismo seletivo de frases inacabadas
nas palmas das minhas mãos
e com cuidado, separo o grito aflito da navalha
acobardada
cortando cada pedaço de cicatriz cravada na solidão
sangram-me os verbos, doem-me as penas,
falta-me o hálito segredado
e fustiga-me esta ternura insone que me agrilhoa o pensamento
desbrava-me
silente
num desencantamento que me invade
mas tu vens, chegas de mansinho num poema,
desces os degraus do viço e enlaças-me
num abraço
inspiro ferozmente a amargura das lágrimas
e sobre as pedras, já gastas, de tão puídas
pelos meus pés,
coloco a missiva dentro da lâmpada
aguardando-te, Aladim na minha previsão,
que passes a tua mão no desejo
e descortines, de vez, a presença do sol
que tão bem conheço nas veias
num tartamudeado rubor
quando a frescura da primavera se levanta,
escondida há tanto tempo nas atípicas monções,
na missão cumprida em meu louvor
sinto-te sobreiro profícuo no teu versejar
atónito, nas sílabas saborosas das folhas
e até na cortiça dos lábios suaves…
magia da lavoura das letras que me fazem
curar o sonho de “Bela Adormecida”
ao picar o dedo na roca da paixão desmedida
sou a terra das frases
o barro das palavras, o húmus das raízes
o sol abrasador ou a chuva de gotas felizes
caindo mudas nas metáforas que digo
que dizes!
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

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