domingo, 24 de abril de 2016

Sem eira nem beira


Quem me dera ter o verso soberbo
na ponta dos dedos
e ser o poeta sem eira
nem beira
percorrendo estradas
de searas ambíguas…

quem me dera usar a foice
com a maestria das ceifeiras,
colhendo as espigas
como quem faz amor
com o carinho de cada palavra…

quem me dera debulhar
os sentidos
como quem tira o vestido
à nobreza das águas…

quem me dera moer
ternamente os grãos
como quem dilacera
e morde
e arranha
e venera
a farinha das letras
doiradas pelo sol…

quem me dera amassar essa massa
dos pensamentos fartos,
dos pensamentos lautos
perpetuados pela semântica…

quem me dera matar a fome das gentes
com o pão da poesia
patente da fonologia
da minha língua…

quem me dera beber o calor
das vogais
trocando as consoantes certas
num sotaque quebrado
pela côdea do alfabeto da vida,
e depois sim…

morrer para não mais escrever.

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

4 comentários:

  1. Rosa, tem o verso na ponta do dedo.
    Quem escreve assim com alma, toca o coração de quem lê.
    Maravilhoso poema
    Beijinhos
    Maria

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    1. Olá Maria!
      Fico muito feliz com as suas palavras...quem me dera! ;)
      Beijinhos e muito obrigada!!!

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  2. Como vc domina a língua e a arte de poetar, Rosa! Quem me dera ser como vc!
    Beijo e bom dia!

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    1. Olá Renata;
      Fico muito grata com essas palavras que me incentivam a tentar fazer mais e sempre melhor!
      Beijinho querida e dia feliz para ti! :)

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