Os olhos sobre a mesa
e o livro ainda incrédulo
repousando, como quem parou
na página errada
tempo gasto de entrega
e um vazio gigante
girando nos calcanhares
e prometendo uma chegada
- Prometo que não vou
sem ranger a porta – disseste.
Mas o ruído foi um passo
delicado de algodão no soalho,
uma pluma lenta
uma queda absurda e surda
espalhada sobre as mãos
de passagem
e a boca que pousa louca
desvairada
na letra da música, confinada
ao espaço exíguo
que a lágrima ocupou
a pomba emergindo a medo
num ritual de acasalamento
evocando a gravidez das palavras
nas nuvens vagas do poema
no livro
à janela
lacunas breves
no silêncio das páginas
bater de asas rumo ao infinito
da frigidez violentíssima
das sílabas
e um suspiro equivocado!
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

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