quarta-feira, 6 de abril de 2016

Equívoco


Os olhos sobre a mesa
e o livro ainda incrédulo
repousando, como quem parou
na página errada

tempo gasto de entrega
e um vazio gigante
girando nos calcanhares
e prometendo uma chegada

- Prometo que não vou
sem ranger a porta – disseste.

Mas o ruído foi um passo
delicado de algodão no soalho,
uma pluma lenta

uma queda absurda e surda
espalhada sobre as mãos

de passagem

e a boca que pousa louca
desvairada
na letra da música, confinada
ao espaço exíguo
que a lágrima ocupou

a pomba emergindo a medo
num ritual de acasalamento
evocando a gravidez das palavras
nas nuvens vagas do poema
no livro
à janela

lacunas breves
no silêncio das páginas

bater de asas rumo ao infinito
da frigidez violentíssima
das sílabas

e um suspiro equivocado!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

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