quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sou pastor do meu pensamento


Sustenho a respiração encostado ao cajado da ilusão…sonhando com o mar da seara do meu chão, este trigo e esta esteva…a cor da erva…a cor dos dias de silêncio que sempre me deixam sonolento e o ladrar do cão que me corta o pensamento!

Entrego-me à sombra da azinheira de alma cheia de vento, conforto-me com os torrões que me aconchegam o corpo humildemente e escuto os grilos que chamam as cigarras para o baile do casamento entre o que fui e o que nunca quis ser…sou asas soltas de cada amanhecer!

O meu mundo é o rebanho que me brinda com a vida que eu entendo, que me mostra a doçura de Deus em cada novo nascimento…eu nada lamento, não!

Nem as rugas traçadas pelo sol neste barro de que fui feito, nem o naco de pão com o toucinho das mágoas choradas pelo porco ao morrer, e muito menos a água fresca do poço, bebida pelo cucharro…ela mata-me a secura da garganta feita de modas para afastar o sofrimento!

Eu apenas tenho o vagar que eu invento…e este cheiro a mãos calejadas das estradas poeirentas e o estio do som do zumbido das abelhas barulhentas no cabelo! E tudo me parece tão belo!

No calmo anoitecer, depois do dia de sol, sentado na soleira da cal…sonhando que o azul da barra da rua seja o mar das ondas do pensamento…sou feliz e aguardo as estrelas do firmamento, aqui ao relento.

Rosa Alentejana
15/05/2014
(imagem da net)

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