domingo, 11 de maio de 2014

Órfão da luz


Conta-me da tristeza
que te curva as costas
e te dá esse ar desolado,
quando nos versos negros destilas o veneno
desse copo entornado,
maldizendo a vida dura, sem perdão,
que te rompeu a armadura de guerreiro,
que tinha o teu brasão, e que agora
mais não é que um descontente
fado atormentado!

Conta-me dos sonhos
que não cumpriste nas nuvens,
por teres o fardo pesado nos olhos
e a ausência dessa sorte que não mudas,
pela azáfama dos dias em que, mudo,
apertas a tua solitária mão...
Porque te sentas ao sol inclemente,
para não teres da vida
qualquer sombra de satisfação?

Conta-me das alegrias
desses dois faróis de luz
que te encantam as retinas
sempre que te levantas e caminhas
rumo ao dia, nesse passo cansado,
numa lentidão dolorosa
onde mergulhas a tua prosa, mas
que te conduz ao brilho
que tanto abominas!

Conta-me dos desejos
em forma de tantos beijos
e dos abraços apertados e quentes
que te envolvem, inconsequentes,
num pudor que atiras à parede
com raiva tamanha, e sem quereres
feres, com ácido, a boca de quem
sempre te acompanha…

Conta-me desse turbilhão
que trazes teimosamente gravado
nesse doce e terno coração,
que amargamente embalas
na tua solitária solidão
e deixa escorrer as lágrimas,
se assim tiver que ser,
para lavares essa alma
e deixares-me entender…

Rosa Alentejana
11/05/2014
(imagem da net)

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