Mantendo as pétalas recortadas
pelo orvalho
e hirtas perante o entardecer
do sol, sangram-lhe os lábios
Mastiga a silhueta aberta
pelo abraço a sós
em contraluz na pedra do muro
de prata e cospe o amargor
Contradizem-se os recortes
luminosos da luz da lua
com as sombras ambíguas
das folhas num marejar
de olhos nus
Confrontam-se os ombros
caídos pelo silêncio afora
como se o uivo do lobo
se restringisse à sílaba
inaudível do adormecer
E o vento frio
arrasta as nuvens
na noite escura
como o breu da partitura
dolorosa do seu som
Quantas gotas lhe caem
das mãos ainda em embrião
quando escreve poemas
Quantas tragédias gregas
alberga na trouxa da vida
qual peregrino descalço
São as feridas abertas
que desmoronam alquimias
num último fôlego irreal
Quando acorda do sonho
já a madrugada fez o ninho
na paleta da criação
e uma nova luz penetra
pelas pálpebras
do seu coração.
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

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