quarta-feira, 2 de março de 2016

Entre a rosa e o jasmim


Enquanto o sonho penetra as reentrâncias da mente, buscando o poema da música do jardim, concebido entre as sombras das árvores, abre-se o cálice das palavras sagradas ao vento…
Agora sei que voltarei a florir nesse jardim de cores raras, onde a minha semente se abriu à terra, como brinde consumado entre a foz e a nascente na serra.
Sei também que tornarei aos braços da madressilva encarnada, onde jurei ser fruto permitido, embebido na labareda entrançada e quente do hálito da quimera.
Venerei tantas vezes essa seiva perfumada, que em meus poros se acendia, reluzente, que até os pássaros, sobrevoando a jornada, imitavam as pétalas algemadas de beleza e copulavam ao poente!
E era o límpido desabrochar da alfazema em teus olhos matizados a alecrim, que alegrava os meus lábios em forma de margaridas, e que permitia o destilar do tempero descontrolado, derramando o sabor a medronho de cor carmim!
No entanto sei, que ainda voltarei a florir nesse jardim, onde os muros brancos se emaranhavam de hera, escondendo dos olhos puritanos da primavera, o nosso reduto em tom marfim.
Porque sei que as letras são os favos de mel das lavras doces e suaves como o tule pairando, diáfano, sobre a nossa cama verde em esperança, contrastando com a coloração dos corpos nus, envolvidos em lençóis de cetim!
Porque sei que, quando o vento nos rodeava, nesse amparo de quem rouba o fôlego ao festim…levando as sementes, polinizava o ventre das palavras, engravidando-as de ti e de mim.
E porque me nascem os versos, como se a natureza fosse cada momento mágico entre a rosa e o jasmim, e o desejo fosse a pomba voando rumo ao céu…
No fim do meu sonho resto eu, inconsciente, descobrindo-me assim…

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

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