Sozinha bebes o silêncio das águas
que passam surdas ao teu grito…
e hidratas a tua sede em goles lentos,
dolentes de quem tem tempo
para simplesmente ser aflito!
Segues murmurando
ao som molhado das águas profundas,
enquanto o grito arrastado
te afasta nas mágoas e o sol se afunda…
Apenas as aves te escutam atentas ao volume,
cada vez mais mudo e…desconfiadas,
afastam-se voando em asas de negrume!
Cheiras o cheiro intenso a ervas daninhas
e cada toque ausente acorda a estrada de pó
em castanhos e cinzentos de dó,
onde te deitas e te aninhas.
Fetal é teu corpo embrenhado
nas ramagens dos tojos impiedosos,
enquanto as margens se estreitam
e tolhem os teus movimentos
insipientes e dolorosos.
Varres as águas e a estrada com os olhos em chamas…
- E o amor?
- E o amor?
- E o amor? – reclamas…
Mas nada te mata a sede
nem apaga o fogo que te acende por dentro,
pois a água é borrasca e o grito é lento
quando escutas o “logo” que julgas ternurento.
Envolves os olhos em lençóis de água
feitos com esquecimento
e ajeitas a roupagem ao corpo envelhecido pelo tempo.
E recomeças a caminhada…sozinha.
Rosa Alentejana
(imagem da net)

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