domingo, 1 de junho de 2014

Opressão


Tenho esta verdade crua
no meio das mãos caladas
e solta-se uma lágrima nua
na ausência das palavras

São pecados tão meus
moldados no barro dos dias
e nos farrapos de tantas luas
que me voam das fantasias

E as mensagens timbradas a sal
inscritas nas teclas soterradas
são flocos de bem...ou mal
em noites de angústias torturadas

E na escalada pedregosa de betão
e de arame farpado cingido
em torno do corpo e do coração
brota este fogo escondido

Levo o marasmo dos pesadelos
coberto de desajeitados pedaços
de fios emaranhados de novelos
envolvendo os meus passos

E os sulcos escavados de gritos
na penumbra da escuridão
vão encurralados nos ouvidos
sangrando p'los nós da mão

E as memórias do sabor do sol
gastas no ébano noturno
vão mergulhadas no copo do álcool
no estuário do dia taciturno

E esse encontro fugaz de vida
no fervilhar prazenteiro das vielas
sinto-o regra ordeira transgredida
no constante pulsar das janelas

Abrem-se as mãos de borboletas
manipuladas por um Deus fanfarrão
transformadas em mariposas radiosas
aguardando o assombroso sermão

Verga-se-me o corpo tenebroso
ao peso da angústia medonha
e o sabor acre e virtuoso
insulta a esperança da vergonha

Tocam os sinos à desgarrada
na pequena igreja ali ao lado
e percorre-me a madrugada
num acordar triste e cansado
Rosa Alentejana
01/06/2014
(imagem da net)

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