domingo, 10 de maio de 2020

Porta


Não deixes a porta aberta, nem sequer o postigo. Não rodes a chave, e muito menos a maçaneta, porque daí advém o perigo. Se encontrares os meus ombros sombreados pela parca luz, que se infiltra no meu coração, ou ousares sentir o perfume que emano das mãos…certamente, irás atirar a porta para trás, ela pode-se quebrar. Basta ver a tinta em lascas e o meu vestido a voar. Se deixares a porta aberta, as escadas irão ranger, aos passos da cor da vontade, quando me transportas nos braços, devagar, sei que me vou perder. E aquele espelho antigo, pendurado na parede, refletirá o sonho da tua sede. Bem sabes, que o branco escrito na folha, ficará amarrotado, por cada abraço louco quando respiras a meu lado. Conheces a cor do linho que se move com a brisa, e eu o tecido de que é feita a tua camisa. Entendo as tuas mãos, como incêndio flagrante, por isso, não deixes a porta aberta, nem sequer um instante.

Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
10/05/2020

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