sábado, 9 de maio de 2020

Aurora


São onze horas de uma manhã cremosa de nuvens sábias. Envolta em lençóis de água cristalina, afago o rasto deixado pelas tuas mãos de cetim. Um murmúrio de brisa dolente, acorda-me as faces quentes. A lembrança de ondas vagas, penetra-me o corpo de anémona silvestre. Tranquilamente, levanto-me da cama de algas, descalça sobre um chão macio de ternura. Sento-me em frente ao espelho e penteio os cabelos com as tuas mãos. Sorris-me mais uma vez, e segredas-me “como te amo” à beira da pele. Um arrepio percorre-me as borboletas, que fazem o bailado do acasalamento por dentro de mim. Solta-se uma asa vermelha e pousa suavemente nos teus lábios, reforçando o meu amor. Abro as janelas e deixo entrar a vida, com todos os sons de andorinhas delirantes, de pardais chilreantes, de árvores vibrantes. Olho-te novamente, e sei que te sou tudo e tanto, como no primeiro abraço.
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
09/05/2020

Imagem: "Meeting the morning" | Abstract female nude | Helenka Wierzbicki | Flickr #beauxarts

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