sábado, 12 de maio de 2018

Lenda


Moura, que nasces nos olhos das manhãs encantadas, cantando canções outrora amadas e irresistíveis! Sabes, agora, o caminho errado que leva o chão pisado pela surpresa. Conheces, neste momento, o choro das aves ausentes. Não te alimentam, nem te seguram o ninho de barro. Voam felizes a liberdade de se encontrarem sobre o mar, nos nichos dos penedos. E tu? Que fazes com o teu tempo? Gastas os últimos pousos que o sol faz sobre as searas de vento agitadas. E os teus cabelos deixam que a cor das pombas os abracem. Deixas que as rugas descrevam os caminhos nos socalcos da tua pele. Deixas que a esperança permaneça entre os corpos abraçados no desvio da estrada. Desces os degraus das flores-da-laranjeira da igreja, como noiva vestida de negro, com a promessa pelo braço, por um mouro que nunca voltará. Carregas as lágrimas malfadadas dentro do olhar de sombras. Ensurdeces perante as palavras (ditas) de amor. Mas ele morreu na guerra travada por nova terra, novo ar rarefeito, nova aventura. Tatuou na margem do ombro direito o perfume da tua pele, mas elevou a mão esquerda na tentativa de salvar o último poema. Deu à costa na praia da imaginação com um dos olhos nublados de graça, mas a boca fechada não voltará a suspirar “adoro-te”. Bebeu corais e pérolas e anémonas, porém, não se recordará mais de ti. Por isso, acorda os ninhos e as cores das flores, porque a prisão que tens dentro, não te deixará jamais! Mas o teu olhar brando, pode fazer o pacto com o rio da ilusão. Quem sabe, um dia irás voar o voo dos anjos capazes?

Rosa Alentejana Felisbela
12/05/2018
(fotos tiradas por mim)

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