quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016
Sina branca e digna
Sou ovelha, e o meu maior receio é o lobo
Enredando, ainda que com pele de cordeiro,
Outros tristes mamíferos em grande “afobo”
Pois esse é demasiado incorreto e corriqueiro
Espalho estrume pelos campos e assim os fertilizo
Contribuo para matar a fome ou quem sabe a sede
Mas para isso nunca, em alguma situação, utilizo
Qualquer tipo de armadilha, corda, arame ou rede
Sou ovelha branca daquele rebanho acostumado
Às regras do seu sonolento e pachorrento “moiral”
Que grita e cospe ao vento a sua tristeza, o seu mal
E conta às águas da barragem o seu doloroso fado
Deito-me à sombra do único chaparro do descampado
Onde só cresce a parca erva verde, saborosa e fininha
E recebo a graça de medrar aos poucos, tão sozinha
Como cada um dos torrões de barro infértil e acastanhado
O cão-pastor é quem me morde, mas quem me guia
Para voltar sã e salva para a casa daquele meu pastor
Revoltado, por querer a minha pele para seu cobertor
E a minha carne para alimento de toda a sua família
A minha cama é de palha quente e, por isso obedeço
Doo o meu leite aproveitado para tantas ocasiões
Aquieto dessa forma, outros famintos e novos corações
Entrego a sina ao amor do cutelo a que me ofereço
Mesmo entre as castanhas, as amarelas, todas elas ovelhas
Sou digna apesar da simplicidade por estar entre as brancas
Dentro de mim sobrevivem vidas verdadeiras, as centelhas
Que me ajudam sem nunca ter vivido em abastanças
Rosa Alentejana Felisbela
(foto tirada por mim)
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