Quando o cérebro
manobra as palavras
num zénite obsceno,
solta-se o hálito
desse amor vernáculo.
Ele funciona
como dopamina
no sistema
nervoso do olhar.
Ou como tónico
suavizante da pele.
O elixir que alquebra
o açúcar desejado
ardilosamente
pelo pensamento.
Diz-me a que soa o beijo
quando a vontade
de me ter
se manifesta ao teu ouvido!
Conta-me em quantas gotas
se decompõe
a fragilidade
da paixão quando me olhas!
Seleciona cada vocábulo
e pronuncia-me as sílabas
que a serotonina alberga
para abalroar as tuas intenções!
Depois desata suavemente
o laço que me cobre o ombro
e descuida-me o rosto
com a cor rubra
do véu que tens nas mãos.
Abraça-me o tempo nu,
pois não bastam os minutos
que o relógio despreza.
Restam-nos os momentos
que a verdade amarfanha
e sairmos de nós,
como num conto de fadas.
O castelo impõe-se
no cimo dos montes
e o coração sobe as escadas
em caracol,
tão lentamente
que ainda não sabe gerir
a saturação da privação.
Transgride a pena e cria as asas
que Ícaro abandonou.
Serei o Dragão que queima
os portões da razão…
se secares o rio que transbordou
as raízes aos meus pés.
Quero a palavra mágica
que a gramática
não pode mais corrigir.
Desafiemos o poema,
como se a magia existisse
e não fossemos apenas humanos.
Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

Sem comentários:
Enviar um comentário