quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Aqui jaz o meu desassossego!



Porque me choram os olhos? São estes campos minados
de letras, prestes a explodir a cada minuto, que me tolhem,
que me arranham, que me tiram a sorte e que me acolhem
Nas mãos a granada tão pronta tocando a rebate a finados

Enquanto vogais mudas se conformam nos olhos parados
os dedos buscam a cavilha detonando a minha desordem
de tristezas. “Chuviscam” versos tísicos que na boca ardem
num fedor fatal, cravam-se nos pulmões e são fulminados

pela má sina, pela desgraçada retórica da “gramática-morfina”
que me abocanha os gestos, que me odeia, que me morde
na face e me sacode! Escrevo na lápide em letra pequenina:

“Aqui jaz o meu desassossego!”Peço ao filósofo que me acorde
da epifania do degredo pois, nas veias esgotou-se a melanina
e degluto o negro no sangue. É sem ar que choro a minha morte!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem de Ana Viegas)

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