sábado, 5 de novembro de 2016

À mercê de Dali


Cobres-te
com o relógio
morno da noite.

Dás corda ao despertador
sonolento
e espetas os ponteiros,
lavados pela solidão,
nos números ocos
que a esperança salva
todas as manhãs.

Bem sei que os sonhos
sabem ao algodão-doce
azulado da maresia,
e que a areia encarnou
no gosto do caramelo…

Ainda que o golfinho
alado
te carregue na sela,
há uma rédea solta
no teu cavalgar.

Enquanto a salmoura
mantém as tuas pestanas
cerradas,
um vento encolerizado
pelos dedos de Morfeu,
troando as unhas
sobre a mesa-de-cabeceira,
acorda-te o instante.

E o sol, obeso de tanto ouro,
irrompe pela fresta contrariada da janela,
vomitando o pó embriagante
das estrelas apagadas…

Por muito pouco,
o quadro não se abre
por trás da imaginação
e tu
não verbalizas o grito
que a ressaca revela
na utopia do sono!

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

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