segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Baile na aldeia

Era dia de baile na aldeia. Os homens já tinham trazido as verduras frescas para forrar o chão de terra batida. Os lampiões estavam acesos, derramando o seu cheiro característico pelo ar. As concertinas descansavam ainda sobre as cadeiras de bunho colocadas em volta. O pequeno degrau da parede acolhia as quartas de barro com água do poço fresca e cristalina, porque a sede não se faria esperar. Algumas garrafas, dispostas em fila, guardavam o precioso néctar que serviria de remédio para aclarar as vozes que cantariam à desgarrada.
Em casa de Mariana, no pequeno monte caiado, encontravam-se as duas primas, na tentativa de convencerem os pais a deixarem-nas ir ao baile. Porém, o “jogo habitual” ainda não parara, deixando as raparigas desesperadas:
- Mãe, podemos ir ao baile?
- Vão perguntar ao teu pai!
- Pai, podemos ir ao baile?
- Vão perguntar à tua mãe…
E assim ficavam, entre os dois, durante minutos que lhes pareciam horas, até um deles decidir dizer que sim, ordenando-lhes o regresso à meia-noite em ponto, sem aceitarem contestações.
As raparigas não queriam ouvir mais nada. Mal se continham de alegria. Foram vestir os seus melhores vestidos (sem decotes e com a barra por baixo do joelho, como faziam as moças sérias) e aprumaram as permanentes.
Quis a meteorologia que nesse dia tivesse trovejado e chovido imenso, o que significava que a escuridão mergulhara os campos sem lua ou estrelas que as guiassem.
Habituadas aos campos, conhecendo cada pedra e cada ladeira, foram caminhando pela lama da vereda mais curta para chegarem rapidamente à aldeia.
Tagarelando durante a caminhada, rindo deste e daquele que iriam ver no dito baile, desdenhando de um, demonstrando o agrado por outro, aconteceu o inesperado.
A prima de Mariana escorregou na lama e caiu sobre a água de um ribeirinho que se formara durante o temporal da tarde. As primas não se contiveram e riram a bom rir, no entanto a apreensão cresceu, quando se deram conta de que o vestido e os sapatos se encontravam ensopados. O que fazer no meio da escuridão?
Era tarde para voltarem ao monte e trocar de roupa. Mariana vislumbrou uma luz ao longe e dando o braço à prima encaminharam-se para o monte de uma vizinha.
A vizinha ao ver o estado da rapariga, naturalmente não negou ajuda. Com toalhas secaram a rapariga. Com o ferro de brasas secaram rapidamente o vestido e junto à lareira onde se fazia a comida secaram-se os sapatos.
Quando se sentiram prontas, voltaram à vereda e ao chegarem tinham uma verdadeira aventura a contar às amigas. Dançaram muito e cantaram, mas só até perto da meia-noite, porque a hora marcada pelo pai era para cumprir.
27/01/2020
Rosa Alentejana (Felisbela Baião)
(imagem da net)

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