Todos os dias lhe colocava as mãos por baixo das axilas e levava-o a cumprimentar os colegas, um a um, carregando-lhe o peso do corpo e o peso da esperança que lhe era ferida aberta. Sentava-o ao lado dos colegas da turma, conversava com ele todo o tempo, adaptava as atividades daquele menino às suas limitações e capacidades.
Colocava-o em frente de um espelho e ensinava-lhe onde estava o cabelo, os olhos, o nariz, e aos poucos fazia-o sorrir das brincadeiras. Sentava-o numa almofada e pousava-lhe as mãos num alguidar com água, outras vezes com areia, faziam construções a quatro mãos. O sorriso crescia naquele rosto anteriormente apático.
Criou-lhe um “tapete de sensações” que ele adorava tocar, para sentir as diferentes texturas dos materiais. O sorriso era agora uma constante.
Um dia, ao entrar na cadeira de rodas pela sala, ela não estava no local habitual e ele procurou-a com o olhar. Tendo percebido essa situação chamou-o de outra direção “bom dia José, como estás?”. A reação foi surpreendente: ele procurou-a nessa direção e deitou-lhe um largo sorriso nos olhos lacrimejantes. Ela foi ter com ele e deu-lhe o beijo habitual.
Nesse dia, ela sentou-se ao seu lado, mas estava adoentada e pousou a cabeça sobre a mão. Ele olhou-a e com a sua mãozinha procurou chegar à mão dela com um ar preocupado…Toda a turma se entreolhou e duas lágrimas percorreram o rosto da professora…Um sorriso cresceu depois, estava feliz por ter reação do menino que parecia apático e disse-lhe “ perdi-me no teu olhar!”.
Rosa Alentejana Felisbela
16/08/2018
(tema sugerido pela minha amiga Mariana Loureiro)
(imagem da net)

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