quarta-feira, 15 de agosto de 2018

O invisível

Havia um mar sedento de brisas aos pés da areia. E ele roubava-lhe os beijos, não esperando a censura. Acariciava-lhe os seixos, lambia-lhe com ternura as vagas, penetrava-lhe as funduras de musgo.
Nos olhos verdes transparecia-lhe o coração, batendo desenfreado por delírios de guelras e escamas.
Mesmo ao canto do coral, dobrava-se a anémona da alegria, cuspindo espuma branca, sem vergonha, mas cheia de generosidade.
De algas se fizeram as importâncias. Das cadências se espalharam as harmonias. E nas turquesas, residiam os mundos líquidos das sapiências.
Dos cabelos de limos escorregaram filosofias de respeitos, mas sem comandante não podia haver navio. Esse era o corpo nu de histórias.
Por isso, afinaram-se as vozes das sereias, ergueram-se os tridentes dos tritões, e em silêncio abriu-se a boca do invisível.
Ele que era a lágrima da procura. Ele que era o domingo de sol acordado no sobressalto da guerra das ondas. Ele que encontrou a impossibilidade da distância do dia feriado…
Brincando entre as margens apertadas da imaginação, surgiu a tua imagem, como santa sagrada abençoando o seu altar de água. O manto branco cingindo as formas do corpo, a aura de brilho solar presa aos cabelos, o andar descalço sobre a fantasia…
E eu, teu eterno pescador de sonhos, atiro a rede para mais um dia de labor…e de amor.

Rosa Alentejana Felisbela
14/08/2018
(tema sugerido pela minha amiga Mariete Lisboa Guerra)
(imagem da net)

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