sábado, 24 de fevereiro de 2018

O búzio das tuas mãos


Nada sei sobre as marés, a não ser que a mão da lua estreita e alarga o areal a seu belo prazer. Conheço as formas sinuosas das suas franjas e o seu olhar sedutor envolvendo os mastros dos barcos ou as hastes dos chorões-das-praias. Também eu choro perante a maresia. Emociona-me a suavidade do capim dos Pampas rosado acariciando-me as palmas das mãos ao sabor da brisa estival. Enfeito os lóbulos das orelhas com as campainhas coloridas e pressinto o perfume do alecrim nos cabelos soltos e livres. Visto as dunas e calço as algas, num acesso de descaso pela ausência do sol. Nunca me senti navegar tão docemente como no teu barco de penedos altos, um precipício constante. Continuo a plantar fé nas arribas, onde as gaivotas fazem um ninho seguro. Quero continuar a colher o milagre do voo e voltar para onde o sol aquece mais do que um pensamento. A lenda continua ao som do búzio das tuas mãos.

Rosa Alentejana Felisbela
24/02/2018
(imagem da net)

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