quarta-feira, 15 de março de 2017

folha de papel em branco


Penso, porque não me escreves uma carta?
Pode ser uma daquelas ridículas, onde me contes se, quando a noite parte, sentes a minha falta no frio do nevoeiro do inverno, ou na intensidade da canícula…
Quero que me descrevas os sons do mar, partindo e chegando e se de mim te estás a recordar…
Conta-me do riso das gaivotas, soltas, na imensidão da sua liberdade, e diz-me se te lembras do meu sorriso na tua cumplicidade…
Sei das lágrimas das varinas devotas aos homens que foram navegar, mas desconheço se a minha ausência te faz chorar…
Descreve-me o pregão do pinheiral e o barulho da ladainha do vento, entre as pinhas, as fagulhas e a caruma nas manhãs repletas de bruma, onde os meus sonhos teimam em ir acordar…
Narra-me o ruído da madeira quebrada, nos troncos tontos de tanta memória e antiguidade, e diz-me se recordas as mãos da minha idade. Ensina-me o perfume da resina utilizada na pintura da tua alma, que desconheço a cor, mas que tanto me acalma…
Descreve-me qual o peso que tem o vento quente na balança da tua memória, ou se cada prato está já vazio da nossa história…
Mostra-me na caminhada das tuas palavras, se a subida íngreme dos nossos defeitos, e a descida a pique da razão, ainda escutam o repique do sino às aleluias do coração…
Descreve-me as calosidades das decepções e a morosidade das tristezas, mas mima-me as direções, para onde nos levam as certezas?
Funde as palavras envoltas no som doce da tua boca e sacrifica-as ao papel, quem sabe não entenderei se são feitas de fel…ou mel ou de saudade louca?
Escreves-me uma carta?

Rosa Alentejana Felisbela
(imagem da net)

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