quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O último verso


Se te desse a hipótese de me leres
cada sonho mergulhado nos cabelos
da vida inteira, mesmo os pesadelos
isso alteraria a forma de me veres?

Não, creio que essa não seria a solução
pois, “despenteaste-me os sentimentos”
de uma forma absurda e sinto os gritos
nas veias queimadas de dor p’la emoção

Se te mostrasse a nudez da alma perdida
nas noites e dias no conforto do teu olhar
isso iria provocar uma nova forma de rimar
ou apresentaria uma face desconhecida?

Não, julgo que não, pois despiste-me verbos
e atiraste para longe os véus da consciência
como se não me doesse a tua certa ausência
e fosse fácil para mim encarar esses arroubos

Se te privasse do perfume das palavras redigidas
pela minha mão, isso deixar-te-ia saudades
ou não? Irias querer vencer as dificuldades
ou continuarias com as tuas palavras escondidas?

Não, não sentirias nem um bocadinho
pois, o tempo é algo que não te afeta,
uma vez que as tuas ideias de poeta
continuariam em ti o seu caminho

Mas agora sou essa rima inacabada
que precisa de vogais e consoantes
de um hálito suspirado na pele de antes
para a escrita traduzida da madrugada

um instante frágil, um instinto perverso
no ninho subtil de uma folha amarfanhada
onde a escrita triste, nula e desvairada
seja inflamada até morrer num último verso.

Rosa Alentejana
02/09/2014
(imagem de Paradoxos)

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