sábado, 20 de setembro de 2014

Minha quimera


Poderiam as minhas mãos trocar de ofício,
num arrebatamento de palavras insones
da minha triste lembrança,
mas nos meus olhos
ainda se banha o luar prateado
daquela esperança…

Sim, poderiam as minhas mãos
sulcar novos mares, em diferentes fragas,
de sílabas similares, mas os pontos
(na exclamação dos dias)
ainda poisam nos vãos dos mastros
altaneiros dos sonhos invulgares…

Poderiam os meus dedos macerar letras
em pretéritos mais que perfeitos,
mas a preguiça paralela aos leitos onde as deito,
retoma o curso a cada hora,
num compromisso sinuoso
a que chamo de “preceito”…

Sim, poderiam as minhas mãos
ser lagos de águas estagnadas,
onde frases e promessas,
miragens de poesias deturpadas,
encalhadas nas margens da boca solitária,
moveriam desejos obscenos
rumo ao sol nascente da tua capitania…

Mas os retalhos maduros da tua boca,
que se fazem constantemente açucarados,
meneiam fonemas prematuros
que se cruzam com vogais
dos escritos desgastados nos textos
onde descrevo os meus fados…

Por isso, as minhas mãos se embrenham
delicadamente nos ventosos versos dos teus olhos,
na infinita pureza dos teus lábios,
no doce sorriso que ostentas no rosto sábio,
e redijo cada consoante numa caligrafia cuidada,
e manifesto a quimera
na minha prosa aprumada.

Rosa Alentejana
(imagem da net)

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